Créditos da imagem: Divulgação/Internacional
Aqui na Argentina muito se fala sobre o interesse de clubes brasileiros nos nossos treinadores. A oficialização da contratação de Eduardo Coudet pelo Internacional é só mais um capítulo de uma novela que deve seguir pelos próximos anos e envolver outros nomes.
Hoje, dois técnicos se tornaram bem conceituados no nosso futebol doméstico: o primeiro é Marcelo Gallardo, que é disparadamente o melhor do país, com grande distância; o segundo é justamente Coudet. Ambos tiveram destacada carreira como jogadores e são treinadores mais “normalizadores”, que investem na criação de uma equipe-base, parecem seguir um manual e respeitam os “códigos” com os jogadores. São mais “básicos”, jogam com um meia criativo e dois atacantes. Ainda que por isso possam ser vistos como mais pragmáticos, seus times jogam para serem protagonistas e praticar bom futebol.
Já outra escola – mais “excêntrica”- tem origem em Marcelo “El Loco” Bielsa, e é representada por Jorge Sampaoli, Ariel Holan e Sebastián Beccacece. São daqueles treinadores surpreendentes, que sempre mudam a escalação e são capazes de coisas estranhas como realizar modificações ainda no primeiro tempo, ou substituir o jogador que ingressou durante a partida. Em maior ou menor medida, todos fizeram excelentes e péssimos trabalhos, por isso são vistos também como apostas. São muito teóricos -alguns, como Holan e Beccacece, sequer foram futebolistas.
Todos os demais são, basicamente, treinadores que não geram nenhuma expectativa. Já nomes como Simeone e Pochettino, bem-sucedidos na Europa, fizeram grande parte de suas carreiras futebolísticas no Velho Continente, incluindo o amadurecimento como treinadores, então são meio europeus, de fato, não são do futebol doméstico argentino.
Agora, uma breve apresentação dos técnicos citados, sob o prisma dos clubes brasileiros:
Eduardo Coudet: um treinador mais clássico, que foi jogador de futebol com passagens por River, San Lorenzo e Rosario Central. Como técnico, iniciou a carreira no Rosario Central, onde, apesar de não ter sido campeão, foi muito bem e chegou a duas finais de Copa Argentina (uma delas muito lembrada pela marcação de um pênalti absurdo a favor do Boca, a 4 metros da área). Depois foi para o Racing, onde neste ano conquistou de maneira indiscutível a última Superliga Argentina (é o atual campeão nacional, visto que a competição acompanha o calendário europeu e termina no meio do ano). Um treinador menos inventivo, que tem como maior destaque a pressão que suas equipes fazem no adversário, em todo o campo.
Ariel Holan (pronuncia-se “Rôlán”): com 59 anos da idade, foi contratado nesta semana pela Universidad Católica do Chile, mas desde o título da Sul-Americana 2017, pelo Independiente, contra do Flamengo, no Maracanã, é sempre especulado em clubes brasileiros. Ex-treinador de hockey, iniciou como técnico de futebol no Defensa y Justicia, onde foi reconhecido por, mesmo sem bons jogadores, conquistar bons resultados e, sobretudo, bom funcionamento de jogo. O passo seguinte foi no “Rey de Copas”, onde conquistou a Sul-Americana e se tornou ídolo. No ano seguinte o clube tomou muitas decisões erradas de contratação, tudo foi mal na parte de negócios, o manager fracassou e o ciclo em Avellaneda se encerrou naturalmente. É um técnico moderno, que joga com três atacantes e três no meio (dois externos e um central), filma treinamentos com drones e é muito detalhista.
Sebastián Beccacece (pronuncia-se “Becacêce”): o jovem de 39 anos da idade fez uma carreira parecida com Holan, mas sem o sucesso em uma grande equipe. Começou como auxiliar de Jorge Sampaoli, aos 22 anos de idade, por indicação de Bielsa, e seguiu assim até 2015, depois de vencerem a Copa América pela Seleção Chilena. Então teve sua primeira experiência como treinador, na La U, que foi um fracasso. Então seguiu direto para o Defensa y Justicia, para substituir Holan, e fez um excelente trabalho: sem material para isso, praticava bom futebol, eliminou o São Paulo da Sul-Americana 2017 e obteve 17 vitórias, 3 empates, e apenas 6 derrotas. Deixou o clube para aceitar o convite de Sampaoli para ser auxiliar da Seleção Argentina na Copa do Mundo 2018. Após a eliminação para a França, teve sua primeira oportunidade em um grande clube, o Independiente, novamente como substituto de Ariel Holan. O resultado é que não esteve à altura do desafio. Perdeu tudo, e ele foi um dos responsáveis. Ainda que o clube institucionalmente não esteja bem como há dois anos, cometeu muitos erros e decisões insólitas. Sua tática é parecida com a de Holan, também o 4-3-3. Acabou de fechar com o Racing, como uma opção mais acessível em relação a Sampaoli, que era a primeira opção do atual campeão argentino.
Jorge Sampaoli: não tem boa imagem na Argentina.. Ele era muito valorizado pelo que fez na Seleção do Chile e por seu bom trabalho no Sevilla, mas deixou a todos a impressão que, guardadas as devidas proporções com o exemplo de Becaccece no Independiente, não estava à altura de desafio tão grande, perdendo o comando e permitindo que a Argentina da Copa da Rússia fosse um cabaré.
Marcelo Gallardo: o grande técnico do futebol argentino nos últimos tempos e maior ídolo do River Plate. Seu grande mérito é saber se reinventar e criar com sucesso diferentes equipes com diferentes jogadores ao longo de tanto tempo que está no comando do River. É, de longe, o melhor treinador do futebol argentino, com grande diferença. Em algum momento colocará fim à sua história com River, porque já ganhou tudo o que poderia -salvo o Mundial- e desejará um novo desafio. Se não tiver uma boa oferta da Europa, e vier um clube brasileiro com muito dinheiro, com um poderio financeiro que é muito superior ao dos clubes argentinos, imagino que poderia aceitar o desafio. Mas recebe um salário altíssimo e só iria para clubes ricos, que oferecessem perspectivas de um projeto vencedor, então é uma contratação realmente difícil.