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A sorte vem ajudando o ótimo Fábio Carille. Por mais que seja cruel falar em “sorte” quando se trata da lesão de jogadores, a verdade é que a evolução do Corinthians nos últimos jogos tem tudo a ver com os desfalques que propiciaram a entrada de “reforços”.
Não, não foi a tal da “parada da Copa América”, tão ansiada pelo inquieto treinador corintiano, que fez a equipe apresentar um jogo mais fluido. Por mais que Carille seja um excelente treinador, e trabalhos coletivos e conjunto sejam fundamentais, existem limites para o que podem mudar. Exemplo concreto: um meio-campo com Ralf e Sornoza, treine o que treinar, seja comandado por Carille, Klopp ou Guardiola, jamais permitirá a qualquer equipe um futebol minimamente desenvolto.
Ralf e Sornoza são daquele tipo de jogador que conseguem mais moral com base em estatísticas. Costumam se safar em análises individuais, mas o “custo” fica para a equipe.
O “Pitbull da Fiel” é um estupendo marcador, realmente diferenciado. Ídolo corintiano, merecidamente marcou sua história no clube. Sempre ostenta uma enorme quantidade de desarmes. Jornalistas vão ao delírio quando destacam que “jamais foi expulso em mais de 400 partidas pelo Corinthians”, exaltando corretamente sua capacidade de marcação limpa, praticamente sem faltas, e com muita disciplina.
Mas, no futebol de hoje, Ralf simplesmente não pode mais ser titular como volante de qualquer equipe que queira vencer campeonatos de primeira grandeza. Pode ser muito útil para momentos específicos, como reforçar a proteção de um time já em vantagem no placar, para equilibrar a equipe que está penando na defesa, quando seu time sofre uma expulsão etc. Até mesmo como zagueiro -como dito pelo próprio Carille– aposto que Ralf poderia ser muito útil. Não mais como primeiro volante titular absoluto de time que sonha alto, porque simplesmente “atravanca” a mais elementar saída de bola em um futebol que cada vez mais exige que isso seja bem feito desde a defesa.
Muitos se perguntam por que o Corinthians de 2019 não consegue repetir o bom futebol do de 2017/2018, também treinado por Carille. No sistema de jogo, mais do que Jô, Rodriguinho ou qualquer outro, é principalmente pela substituição do leve e dinâmico Gabriel pelo limitado e pesado “pitbull”. No título paulista de 2018, Ralf foi reserva de Gabriel durante toda a campanha (somente na finalíssima no Allianz Parque, por preocupações com a bola aérea, é que Ralf foi titular, e o Corinthians praticamente não produziu ofensivamente), o que permitiu a manutenção do bom padrão de 2017. Para quem vê os jogos do estádio, a diferença é muito clara: Ralf praticamente se esconde atrás da primeira linha de marcadores adversários, dificultando muito a saída de bola da equipe, enquanto Gabriel se apresenta o tempo todo e dá prosseguimento natural à jogada.
Já o caso de Sornoza é absolutamente inexplicável. Enquanto a imprensa ressalta que “é o líder de assistências da equipe” -número este formado basicamente por bolas paradas que encontravam em Gustagol um cabeceador perigosíssimo- a presença do equatoriano tem tudo a ver com o Corinthians ter se tornado uma das equipes com menos finalizações em qualquer competição que dispute e dependa de lances isolados como esses cruzamentos. É outro jogador que até pode ser útil em determinados momentos, pois sempre busca lances mais agudos, mas jamais pode ser o armador de um time com grandes ambições. Falta muita dinâmica e movimentação, pouco articula ou trabalha com passes curtos e transições que produzem um jogo “apoiado”. A insistência com ele é o principal “freio de mão puxado” no setor ofensivo alvinegro. Mesmo que Jadson dê mostras de estar em uma irreversível curva descendente da carreira, o jovem, talentoso e dinâmico Mateus Vital merece uma sequência de pelo menos metade das oportunidades que Sornoza recebeu desde que chegou ao clube. O mesmo desenvolvimento que Pedrinho vem exibindo com a sequência como titular, que dá tranquilidade e confiança, certamente ocorrerá também com Vital, mais centralizado.
O resto do time precisa dessas mudanças. Cássio é um goleiro maravilhoso, mas que simplesmente não sabe jogar com os pés; Manoel (que deveria dar lugar a Henrique) tem um comportamento que nem parece de um jogador profissional do século 21, ao “dar bicuda” em praticamente qualquer bola que apareça na sua frente; Gil é um excepcional zagueiro, mas que não tem na saída de bola um ponto forte. São muitos “travadores de jogo” que tornam absolutamente inadministráveis as deficiências de Ralf e Sornoza, e fazem com que a simples progressão para o campo ofensivo se torne “um parto”, obrigam Clayson e recuar com frequência e deixam a equipe toda desconjuntada na frente. Não é em Pedrinho, Clayson e Love que está o problema ofensivo alvinegro (muito pelo contrário).
Caso Carille saiba aproveitar a mãozinha do destino e dê sequência a Gabriel e Vital (e aproveite o raro Renê Júnior quando estiver de volta), não é absurdo sonhar em repetir os feitos de 2017. Mas se continuar a insistir que “tempo para treinar” pode fazer milagres, não dá para esperar nada além de uma vaga no G6. A conferir qual será a opção do técnico.