Créditos da imagem: ESPN FC
A seleção argentina está cada vez mais perto de ficar fora da Copa do Mundo, coisa que não acontece desde 1970. Ironicamente, é contra o Peru, responsável pela ausência naquela edição, que fará um jogo de sobrevivência. É intrigante como um país com jogadores talentosos, incluindo o melhor do mundo, simplesmente não consegue montar um time. Vou tentar, aqui do Brasil, enumerar as possíveis razões para o vexame que se avizinha:
1 – pragmatismo dos técnicos locais – os melhores técnicos argentinos pouco ou nada trabalharam na Argentina. O futebol doméstico esteve sob os cuidados (?) de treinadores pragmáticos. Pragmatismo, em termos de América do Sul, é encontrar atalhos para ganhar que dispensem a própria prática do futebol. O maior prejudicado foi o meio-campo, antes símbolo do toco y me voy. Os armadores desapareceram, tal como ocorreu no Brasil após os seguidos triunfos de nossos treinadores pragmáticos – em especial Muricy Ramalho. Para contornar isso, Sampaoli tentou recuar Messi, mas a escolha custou seu poder de finalização.
2 – futebol doméstico sofrível – um país onde Centurión é considerado grande jogador só pode estar com sérios problemas em seu esporte principal. Nem mesmo o pragmatismo tático explica como pode haver tanta falta de fundamentos em expoentes valorizados. O centroavante Calleri, ainda querido pelos tricolores que repudiam Centurión, não sabe passar uma bola e tropeça sempre que sai da área. Não foi por menos que acabou escorraçado do West Ham, em que Tevez foi ídolo.
3 – peso da camisa – não sou muito fã deste culto ao sobrenatural, mas é fato incontroverso que diversos jogadores consagrados em clubes europeus não jogam absolutamente nada pela seleção, a ponto de nem a mediocridade tática e as lacunas em outras posições explicarem a nulidade total. Tudo bem falar que o Messi do Barcelona é muito mais expressivo, mas ao menos o da seleção produz com destaque. Outros não conseguem sequer ser coadjuvantes decentes. Além de Aguero, Higuaín e Di Maria, o jovem Dybala entrou para o rol dos irreconhecíveis.
4 – imprensa insana – se ter um Galvão Bueno bipolar (uma hora tinha que ser futebol espetáculo, outra time de guerreiros) já atrapalhou as idas e vindas da seleção brasileira pós-2002, imaginem ter dezenas dele na mídia. O desespero por trinta anos sem uma Copa e mais de vinte sem sequer um título continental cria um novo regente da histeria por temporada.
5 – Maradona – ter vencido uma Copa com a maior performance individual de um atleta gerou efeitos colaterais para todos os camisas 10 que vieram depois. Não interessa que, em todas as outras competições (incluindo a Copa anterior), Maradona não fez milagres (salvo nas oitavas de 1990). Muito menos que o pibe conseguiu ser tudo aquilo graças a uma equipe muito bem montada e com ótimos parceiros. Ou os sucessores levam qualquer catado ao título, ou não prestam. Nem Messi, superior a Maradona em clubes e jogando em altíssimo nível por muito mais tempo, escapa. Para completar o drama, o ex-jogador fala mais besteiras que Pelé, esteja ou não se referindo a futebol.
6 – falta de um 7 a 1 – a despeito da negação inicial, a médio prazo o desastre do Mineirão está fazendo com que comecem a ressurgir jogadores em posições esquecidas no Brasil. Além disso, Tite foi escolhido com mais tempo para organizar uma seleção em situação desesperadora. Já o vice-campeonato de 2014 foi enganoso para uma seleção no estilo “chutão pra frente e o Messi que se vire” – a qual, não por acaso, sequer fez um gol em três finais seguidas.
Neste cenário, a Argentina pode até escapar do desastre supremo, mas será uma imensa surpresa se quebrar o tabu na Rússia. Sampaoli foi contratado tarde demais e, além disso, chegou tentando agradar a turba histérica, ávida por chances a jogadores atuando no país. Para tanto, abriu mão de medalhões e convocou pernas-de-pau com iniciativa – o que é muito pior que pernas-de-pau omissos. A manutenção de Mascherano como dono do time também atrapalha. Contra o Uruguai, sem o volante-zagueiro, a equipe foi bem mais lúcida. Muitas vezes, ter a coragem de reconhecer o fim de um ciclo antes da Copa é a chave da vitória. Felipão acertou em cheio deixando Romário de fora em 2002. A Espanha errou feio ao insistir com Xavi trotando em 2014. Se é para chegar repetindo o más de lo mismo, o novo treinador deveria ter ficado no Sevilla.
Enfim, a coisa está tão feia para os vizinhos que até Galvão é capaz de esquecer “como é booooom ganhar da Argentina, amiiiigo!”…
Eu sempre achei que era só a seleção ter um de seus grandes técnicos da Europa, que a Argentina desencantava de vez, mas nem assim!!!!!!!!! Olha, se nem o Sampaoli der jeito é porque teve amarração depois de la mano de Dios e do Quiroga comprado em 78!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
A matéria meia contraditória Gustavo. ” Quem disputou a final da Copa do Mundo no Brasil?” Não posso negar que nas eliminatórias não esta bem, e que pode render muito mais pois um ótimo elenco. Mas fez a final da Copa…
A Alemanha fez a final da Copa de 2002 e não se deixou enganar. Jogou aquele time na lata de lixo e montou outro. Pela ótica imediatista, não deu certo porque “só” levaram mais 12 anos pra vencer – após dois terceiros lugares bem jogados. Mas não teriam vencido sem esta decisão sábia.
Inclusive, eu observo o quão enganoso foi o vice-campeonato argentino. Você não leu? Fez acharem que aquele jogo de chutão, trombada e Messi que se vire só precisava de ajustes. Não era bem assim. Mesmo porque, se você lembrar bem, desde a primeira fase já sofreram. O jogo contra o Irã lembrou muito esse contra a Venezuela. Só que, desta vez, Messi estava muito recuado pra ao menos ter a chance daquele golaço salvador. E foi assim até o final. Placares magros e dependência de lampejos de seu melhor jogador. Como se 1986 tivesse estabelecido uma fórmula única de ganhar.
Se até títulos enganam (vide a Copa das Confederações por Brasil, três vezes seguidas), imagine vice-campeonatos.
O que para mim caracteriza a Argentina das últimas décadas é um eterno “hype” em cima! Parece que está sempre à espera de algo, de uma transformação, que nunca ainda é para valer.
Essa expectativa exagerada em cima faz com que bons jogadores – mas que não são nada demais – como Higuaín, Aguero, Dybala, Di Maria, Crespo, Aimar, Gallardo, Ortega sejam sempre vistos como craques que ficam muito aquém na seleção, quando não são tudo isso e, em geral, todo mundo joga melhor nos clubes (com algumas exceções, como Neymar, Suárez e Thomas Muller).
Gabriel, penso que todos os citados por você são ou eram, no mínimo, ótimos. Concordo que nenhum foi ou é craque, embora possa ser o caso do jovem Dybala. Também existem diferenças entre os fracassos, mesmo porque perder Copa é uma coisa e correr risco de ficar de fora é outra. Alguns dos meus itens explicam a falta de liga entre os talentosos de agora. A falta de um armador (um Veron) é, taticamente, o grande problema. Ainda mais porque, ao contrário do que temos na seleção brasileira, os laterais são fracos. Lembra quem andou sendo convocado pra lateral-direita? Buffatinni, a pior herança de Bauza para os tricolores. Aliás, só não abri um item específico para Bauza porque iam achar ser perseguição (rs).
Para os amantes do futebol é triste demais ver o futebol argentino fora da copa.
Ele teve a chance de deseistir da seleção na copa América. Vai pagar o preço pela soberba