Créditos da imagem: Jefferson Bernardes / Veja
Roger Machado foi um dos poucos treinadores que conseguiu ser idolatrado pela imprensa que cobria o Grêmio, na sua passagem pelo clube. Sim, pela imprensa! Dotado de amplo vocabulário adquirido nos famigerados cursos preparatórios para o futebol, alterou o padrão de abordagem do assunto no dia a dia em poucas semanas, com entrevistas coletivas recheadas de termos técnicos e análises táticas profundas como nunca se vira antes. Inovou com raciocínios complexos e autênticos, fugindo da regra corporativista de comportamento que afeta inclusive o meio dos treinadores brasileiros. Trouxe conversa de psicólogo e filósofo para a sala de coletivas. Ficou consagrado como uma das grandes referências dentro do modelo ideal de treinador atual. Mas o que é um modelo ideal, afinal?
Nos dias de hoje, a mentalidade é a de que um técnico deve ter como papel preponderante a aplicação de métodos táticos estudados na teoria, nos cursos que adquiriram status de faculdade de futebol. Relegou-se o senso crítico para os resultados e a gestão de pessoas a uma espécie de segundo plano, ou para outros profissionais. Aqueles treinadores conhecidos por terem habilidade de comando de grupo, mas que nunca chamaram a atenção pela fertilidade nas metodologias de formação de equipe e jogo, passaram a ser desprezados pela crítica.
Renato sempre foi um exemplo disso. Talvez o oposto de Roger. A recuperação do Grêmio depois da sua chegada veio a calhar para esclarecer o que é verdade e o que são paradigmas contemporâneos. Uma equipe estruturada por um treinador “moderno” caía de produção, o que levou a um pedido de demissão. Então chega outro profissional antagônico, que sempre foi questionado como treinador justamente por não apresentar ideias táticas que chamassem a atenção. Renato é um grande líder desde os tempos de jogador, mas nunca foi levado a sério ou como qualquer coisa além de um picareta desde que decidiu ser treinador de futebol.
Mas tem experiência de sobra, visão de jogo típica de ex-craque, que foi, e um poder de persuasão raro, dada sua envergadura moral tanto dentro de campo como pela pessoa que é. Ser treinador é mais do que ser um cientista tático. É ser também um líder. E liderança não se aprende, é nata, podendo ser desenvolvida de acordo com os acontecimentos, nunca numa sala de estudos.
Aproveitando a montagem de equipe desenvolvida por Roger e acrescentando aos jogadores o espírito e a objetividade necessários para atingir resultados, Renato revolucionou o desempenho de um time que já afundava na apatia, depois de iniciar o Campeonato Brasileiro como postulante a título. O título da Copa do Brasil foi a oportunidade que se apresentou para o país constatar um paradigma que vem se consolidando malignamente ao longo dos últimos tempos.
O papel de um treinador deve ser encontrar o equilíbrio ideal entre organizar uma equipe e fazê-la entender para quê entra em campo; qual o sentido da vitória. O excesso de ênfase em apenas um determinado aspecto incita o equívoco. E a balança do futebol atual vem pendendo demais para a razão e pouco para a emoção.
De vez em quando é bom ver um “picareta” como Renato “enganando”.
Concordo inteiramente com você, Guilherme Boeira! Muita gente tem tratado como se futebol fosse uma ciência, que os treinadores precisam apenas dominar conceitos táticos, a informação gerada nos departamentos de inteligência e métodos de treinamento. Muitos chegam a ridicularizar palestras motivacionais etc.
Claro que um treinador hoje precisa saber isso tudo. Mas para ser bom mesmo, hoje ou sempre, precisa saber ter leitura de jogo, tato com o elenco, passar o que quer e convencer os jogadores, jogo de cintura e deixar os jogadores confiantes e “com fome”. E isso o Renato faz muito bem!
Faço de suas palavras as minhas e um ponto ressaltado por vc onde fala que deixa os jogadores com “FOME” isso tem um nome… mais conhecida como Carol Portaluppi… HEHEHE
Boa tarde. Primeiramente, parabéns ao grêmio pelo título.
Embora tenha conseguido levar o caneco pra casa, nao vejo mérito nenhum do técnico em relação a este título. Conseguiu motivar os jogadores para conseguir o resultado? sim. Mas vejo o título da copa do brasil muitas vezes mais como ilusório do que algo a ser visto como “agora vai”.
Veja bem, creio que o título do gremio veio graças a três fatores determinantes:
1) Total foco do time na competição;
2) Peso da camisa;
3) Sede por título de alguns jogadores que fizeram a diferença na campanha.
Esse título se assemelha muito à Copa do Brasil ganha pelo Palmeiras em 2015: o time nao apresentava um jogo tático conciso, mas levou até a final por pura força de vontade dos jogadores. O mesmo se repete aqui. Em um campeonato mata-mata, muitas vezes a vontade prevalece em relação à estratégia. É aqui onde muitas vezes times pequenos vêm a chance de conseguirem algo, pois é muito mais facil brigar por uma bola e torcer para dar certo do que tentar vencer em si (nao estou chamando o gremio de time pequeno, estou apenas citando um exemplo). Neste tipo de campeonato, é muito comum ver times desorganizados avançarem e até conseguirem o título (mais uma vez o palmeiras de exemplo: vide 2012).
A prova de fogo vem agora, em 2017. E sinceramente, com todo respeito ao profissional e aos torcedores gremistas, mas duvido muito que o atual técnico do grêmio consiga fazer o time brigar pelos títulos da Libertadores e do Brasileirão, estes que são campeonatos onde só a garra, a vontade, o peso da camisa e a gana de alguns jogadores podem não ser o bastante.
CTK, ótimos pontos! Valeria inclusive um texto, rs! Está mais do que convidado para tratar deste assunto em uma “Coluna do Leitor” 😉
Sim, concordo que a “vontade” tem um peso muito maior na Copa do Brasil do que no Brasileiro. Mas acho bom lembrar que a má fase do Grêmio chegou a pesar até na Copa do Brasil, quando, na estreia do Renato, quase foi eliminado nos pênaltis pelo Atlético Paranaense.
Pouco a pouco a equipe se recuperou no próprio Brasileiro (não ficou forte, mas deixou de viver a péssima fase anterior à saída do Roger) e ganhou muita musculatura no mata-mata, resolvendo sempre no jogo de ida, como visitante.
Abraços!
Concordo em relação ao equilíbrio necessário entre as características necessárias a um treinador de futebol, mas faço uma ressalva: o caso Renato não pode jamais ser usado como desculpa para o amadorismo (até porque não o considero um treinador amador). Dou como exemplo o Tite. Recentemente Dani Alves disse que o considera melhor gestor de pessoas que treinador em si. Considero inegável que o seu Adenor bebeu da fonte do “futebol moderno” no seu ano sabático. O que o faz acima da média, porém, é saber dosar seus conhecimentos com a sensibilidade que lhe é peculiar.
Ficou mó tempo desempregado, só foi contratado pelo time por conta da história que ele tem no clube, usufluiu do padrão tático do técnico anterior e só trabalhou no motivacional com os jogadores…menos, Renato Gaúcho! Técnico bem mediocre!