Créditos da imagem: A Gazeta Esportiva
Contratar um ídolo como dirigente pode até ter objetivos nobres, mas traz embutido um efeito nada positivo: blindagem. Foi o que o SPFC fez com o Rogério treinador. Não é diferente com o Raí diretor. É evidente que o notório profissionalismo do jogador, somado à preparação que vinha tendo, justificam boa vontade por parte de analistas e torcedores. Mas boa vontade não pode, ainda mais numa instituição ambiciosa por natureza, ser confundida com imunidade. Mesmo porque Raí não a pediu em momento algum da carreira. Nem quando era taxado de mero “irmão do Sócrates”. Nem quando foi massacrado na Seleção (ainda desconfio que a pressão teria sido outra se fosse Raí ex-Flamengo). Nem quando os franceses acharam que tinham feito merde. Por que mudaria agora o que faz parte de sua essência vencedora?
A blindagem (consciente ou não) a Raí se manifesta de duas formas. A primeira é atribuir a Leco tudo o que for questionável, mesmo que posterior à posse do gerente de futebol. É o caso da não-revelação de que os chineses já tinham pedido o retorno de Hernanes no começo de dezembro. Sim, coube ao presidente e o ex-diretor remunerante Pinotti a ocultação da cláusula de retorno antecipado. Mas Raí já era dirigente profissional quando o Hebei Fortune comunicou que queria o Profeta de volta. O primeiro indicativo ao público só veio na semana retrasada. Ainda assim, por meio do subalterno Ricardo Rocha e sem falar que o pedido fora concretizado. Por que Raí demorou tanto? Não quis estragar o Reveillon da torcida? Acreditava na chance de Hernanes convencer os chineses na volta das férias? Não sei, pois ninguém fez essa pergunta desagradável na entrevista. Pelo contrário. Teve até repórter levantando na pinta para notícias esperançosas. Bruno Rezende é o modelo de certos jornalistas.
Vamos deixar claro: até prova ou confissão em contrário, todas as decisões relativas ao departamento de futebol têm o carimbo de Raí. Ou por sua iniciativa, ou por sua aprovação. Se o São Paulo empresta um jogador de graça, Raí é o responsável. Se contrata um medalhão veterano e cheio de casos como reforço, também foi Raí que fez. Um juiz não pode se eximir do conteúdo de uma sentença falando que foi coisa do escrevente. Nem o jornalista pode justificar uma gafe culpando o estagiário. Se a presidência do clube passar por cima de sua autonomia, o que se espera é que Raí repita o que fez em 2002 (quando foi diretor de p… nenhuma na base), mostrando brios e pedindo as contas. Se não o fizer, deve-se concluir que referendou a decisão. Simples assim. Sem essa de ficar soltando informações de bastidores pra tirar o corpo fora, como de costume entre amadores. Seria a última coisa que se esperaria de alguém com seu caráter.
E a segunda forma de blindagem? É aquela mais explícita, quase religiosa. “Você está criticando o @rai10oficial?”. Já vi isso no Twitter. Não pode questionar Raí porque é Raí e pronto. Queimem o herege! É a boa vontade elevada à enésima potência. A fogueira já atacou os que ousaram criticar a escolha de Ricardo Rocha como diretor de sei-lá-o-quê. Oras, Ricardo Rocha tem zero de experiência, é um dos piores comentaristas da TV (chegou ao cúmulo de colocar David Luiz na seleção da Copa de 2014, depois do 7 a 1) e seu único trunfo é se dar bem com todo mundo. É uma escolha passível de discussões, pois sim. Mesmo porque uma coisa é ter a confiança do grupo de atletas quando se é um deles. Outra é quando se está do lado dos “hómi”. Há, portanto, pontos a serem debatidos. Não pode simplesmente dizer “vamos acreditar no Raí, seu corneteiro!”. Podemos acreditar em qualquer pessoa (pai, filho, marido, mulher…) sem colocá-la numa redoma. Não só podemos, como devemos.
Devo ressaltar que Raí também já merece elogios. Quando Hernanes dava entrevista agradecendo ao SPFC pela oportunidade, o gerente interrompeu o atleta para discordar. Afirmou, categoricamente, que é o clube que tem muito a agradecer ao jogador. Esta postura faz pensar que, entre os acertos e erros naturais de quem assume esta bucha de cara, Raí pode se tornar o gestor que sonha ser. Só que ele não precisa ser protegido para tanto. Tem que ser submetido às cobranças inerentes a sua responsabilidade. Claro que não se deseja críticas estúpidas, como já sair pedindo sua demissão. Mas, se vierem, que venham. Como atleta, Raí suportou muita xingação de recalcados, talvez até por razões estéticas. Não vejo por que não as tiraria de letra como dirigente. Diferente do irmão, de curta paciência, não é de desistir de suas empreitadas. Se o fizer, de graça é que não terá sido.
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Sim, percebo isso no Santos e nos santistas em relação ao Léo e ao Elano, por exemplo (ambos com aspirações de cargos de gestão no clube, sem que tenham o menor preparo para tanto, diferentemente do Raí, em quem aposto, mas que nem por isso está livre das críticas também, ora pois). 😉
Realmente, é impressionante como muitos temos dificuldades de analisar somente os fatos. Então “queridinhos” como Raí e Leonardo já começam com um capital grande, e viés de melhora. Outros, seja pelo motivo que for, parecem estar sempre errados…
Para exemplificar, se fosse o Renato Gaúcho que tivesse tido os resultados do Falcão como treinador, será que teria tido tantas oportunidades? E se fosse o contrário, se fosse o Falcão a ter os resultado do Renato Gaúcho, onde estaria?
O Raí é do tipo que merece esse crédito mesmo!!!!!!! Acho que as pessoas cabam tendo boa vontade até como uma forma de esperança mesmo de alguém competente e diferente!!!!!!!!!!!!
Vale a aposta, mas bom seria se existisse uma renovação total, da presidência pra baixo. Serve para todos os clubes!!!
Ue, pq o cuzao nao ta com a 87???