Créditos da imagem: Reprodução / Sky Sport
Na semana passada o jornalista Rodrigo Capelo trouxe em seu blog no Globoesporte um artigo comentando sobre a nova forma de distribuição de direitos de TV da Serie A italiana, que vigorará a partir de 2019/20.
Vocês podem acompanhar a ótima matéria no link acima, mas eu resumo aqui as características desse novo contrato, considerando um contrato de € 1,3 bilhão anuais:
- 50% do total será distribuído de forma igualitária entre os 20 participantes
- 30% conforme performance esportiva, mas com a seguinte quebra:
+ 15% pelo desempenho da temporada anterior
+ 10% pela média das 5 temporadas anteriores
+ 5% pelo desempenho histórico - 20% pela audiência, que também tem uma quebra:
+ 8% pela audiência das partidas
+ 12% pelo público total dos estádios
O que isso traz de importante? Alguns pontos. Capelo focou muito bem no quesito “audiência”, porque é curioso que o valor pago pela TV tenha relação com o total de público nos estádios. Ocorre que um ótimo espetáculo televisivo de futebol também é aquele que tem estádio lotado, movimentação da torcida, vibração, enfim, um clima de competição. Estádio vazio deixa as partidas modorrentas. Tanto é que a Globo costuma alocar seus microfones próximos às torcidas organizadas, para captar um pouco dessa sensação de envolvimento entre campo e arquibancada.
Apenas como referência, segue relação de público e ticket médio da temporada 2017/2018 da Serie A Italiana:
Mas aproveito o tema para abordar outros aspectos.
O primeiro deles é o fato do assunto ter sido levantado pela Juventus. E foi levantado porque o clube emitiu um título de dívida (chamado de “bond”). Pausa para explicar o que é “bond” para quem não sabe.
Trata-se de uma forma de empréstimo onde quem empresta não é um banco mas sim o chamado “mercado”. Ou seja, várias pessoas, bancos (também) e fundos compram pedaços desse bond. No caso da Juventus, o valor total foi de € 175 milhões. Como foi uma colocação “pública”, qualquer interessado poderia fazer o pedido através de uma corretora para ficar com um pedaço. Por exemplo, nosso amigo Gustavo Fernandes, colunista de No Ângulo, poderia ter feito um pedido para aplicar € 1 milhão nesse título, definindo o valor que estava disposto a cobrar, a partir de uma base definida pelo clube e seus assessores. Daí ele entraria na fila de interessados e o processo anda até fecharem o chamado “Book”, que é a quantidade de interessados que monte o valor total. Ao final haverá uma taxa de juros única, que no caso da Juventus foi de 3,375% ao ano. E por que uma pessoa física compra um “bond”? Porque receberá 3,375% ao ano enquanto deixar o dinheiro em título público na Europa rende perto de 0,5% ao ano. No Brasil também funciona assim. Se você deixar seu dinheiro em título público o rendimento é de 6,5%, mas se comprar título de dívida de alguma empresa de bom risco pode receber algo entre 7,5% e 8,0% ou até mais. É um mercado de mais risco, mas que tem boas oportunidades e carece de maior profundidade.
Voltando, a Juventus levantou o tema porque tinha que explicar os riscos do seu negócio, e um deles é o risco de ter menos dinheiro que seus concorrentes, dado que parte da receita de TV, mesmo que apenas 12% do total, estará relacionada ao público nos estádios. E como seu estádio tem capacidade menor que seus concorrentes de Milão, Roma e Napoli, então há chance de ficar com uma parte menor desse dinheiro.
Outro ponto que gostaria de explorar é a parte que trata de Performance. Note que dos 30% relativos a este tema, 5% são pelo histórico. Ou seja, Juventus, Milan e Inter tem enorme vantagem. Se pegarmos os 10% relativos aos últimos 5 anos a Juventus terá benefícios claros, pois venceu todos os anos. Numa situação normal, Milan e Inter também serão beneficiados, tão logo tenham suas casas colocadas em ordem. Nesse sentido, um pouco do que a Juventus perde no quesito Audiência recupera na Performance, com certo grau de incerteza, obviamente.
Mas o mais importante é avaliar os benefícios do clube ter seu capital aberto. E temos dois bem claros. O primeiro é a transparência. O clube precisa ser gerido de dentro para fora, precisa deixar claro a seus acionistas, e em última instância a seus torcedores, tudo que acontece de bom e de ruim. Não há e nem pode haver surpresas. O segundo benefício é justamente estar apto a tomar dinheiro no mercado de prazo longo e custos mais moderados. O empréstimo de € 175 milhões terá prazo de 5 anos e com a taxa de juros comportada de 3,375% ao ano consegue se estruturar financeiramente de forma adequada. Dever não é um problema, desde que o tamanho da dívida seja compatível com a capacidade de pagamento, seu fluxo não estrangule o fluxo de caixa e o custo seja comportado. E custo comportado está associado à qualidade do risco. Clubes desorganizados e amadores pagam bem mais caro que clubes organizados, profissionais e transparentes.
Se os clubes brasileiros fossem abertos, com essas características de governança e transparência como a Juventus tem, certamente haveria enormes possibilidades de negócios, para o mercado e para o clube. Todos ganhariam. Quem sabe um dia não estaremos falando de operações assim para clubes brasileiros?
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