Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Tarde dominical de Nova Jersey. No Metlife Stadium, havia mais que um título mundial em jogo. Enquanto Chelsea e PSG disputavam a taça, botafoguenses e rubro-negros se degladiavam pelo título moral da competição. Qual das torcidas (incluam jornalistas uniformizados) poderia bradar que bateu no campeão? O evento era tão importante que as partidas de ambos, na volta ao Brasileirão, foram disputadas no sábado. Concentração total pro dia seguinte. Era o que realmente importava.
Deu Flamengo, Pancho (meu amigo mexicano invisível, que imagino ter estado lá, escondido do Trump)! O Chelsea meteu três no PSG, mas levou três do time que caiu nas oitavas. Fluminense e Palmeiras também têm do que se gabar. O tricolor carioca só levou dois e o campeão mundial de 1951 (mais imaginário que o Pancho) até fez um gol. Sobrou pro Botafogo. Sonhava em dizer que não só ganhou do PSG, como marcou o único gol sofrido pelos franceses. Faltou combinar com Palmer, que deixou os primos Tommy e Espada orgulhosos. Alguma coisa estava mesmo arranjada pra máxima botafoguense. Primeiro campeão sul-americano que superou o europeu e não levou o campeonato mundial. E o campeão europeu também não. Botafoguismo é contagioso, amigo!
E a euforia acaba por aí. De resto, os europeus ficaram com as glórias e os brasileiros com as narrativas. Nesse quesito, não há mesmo quem possa com a gente. O que pega é sempre a realidade. Temos nojo dela. Mas eu não voltei, depois de quase dois anos sem fazer nada além de xites, pra não falar da vida real. Os brasileiros se prepararam mais que qualquer um. O calendário foi feito pra disputa do Mundial. Foram aos EUA no meio da temporada e treinaram por dez dias. O campeão vinha de miniférias e só começou a pré-pré-temporada na estreia. O vice-campeão nem feriado teve. Ganhou a Champions, teve todo o elenco na Data FIFA e fez as malas. Foi assim, adaptando-se em cima da competição, que perderam quando podiam. E ganharam quando deviam.
O que nossos festejados representantes mostraram como “autêntico futebol brasileiro”? O Palmeiras voltou pra casa do jeito que chegou. Al-Ahly segue como único time estrangeiro que venceu em Mundiais. O clube da tia Leila quase se complicou no grupo mais fraco e eliminou um arrebentado Botafogo. Este teve que fazer das tripas coração pra passar num tríplice empate – com desempate insólito. Ganhou do PSG jogando por uma bola e deixou as pernas em Los Angeles*. Fluminense foi o mais bem sucedido, com méritos dentro de seus limites. Mas se isso é o retrato do futebol nacional pro planeta, melhor dizer que representava o Paraguai. Só o Flamengo procurou jogar um futebol desta década – pra descobrir que precisa de mais dez anos pra se aproximar do que o Bayern faz hoje.
Não é que o Brasil não deva ressaltar o que fez. Ufanar-se é que são elas. Sim, as bobeiras de Dandan & CIA já ficaram pra escanteio. O perigo está nos consolos. Se a chamada Copa do Mundo de Clubes FIFA tivesse começado agora, no meio de julho, passar das oitavas já seria uma façanha pra todos os brasileiros. Se os limites de países no ranqueamento fossem menos absurdos, viraria milagre. Imaginem Liverpool e Barcelona nos lugares de Porto e Salzburg. Pensando bem, podem celebrar o que fizeram agora. Com ou sem nova edição, será a última lembrança positiva. Parabéns, Mengão! A copa moral é vossa!
*não o coração em São Francisco – esse foi o saudoso Tony Bennet.