Créditos da imagem: Marcos Riboli / GloboEsporte.com
É fato que o Corinthians não jogou absolutamente nada até aqui nesta temporada. Não houve nenhuma partida na qual a equipe apresentasse um futebol minimamente aceitável, e se hoje o alvinegro está vivo na Copa do Brasil, ainda nutre alguma esperança na Sul-Americana, estaria classificado para a fase final do Paulista e venceu os dois clássicos oficiais disputados no ano, isso se deve apenas à aparente fortaleza mental que Carille dá a seus comandados, ao acaso e à excelente fase de Gustagol (quem diria!).
Mas justiça deve ser feita: Carille de fato não investiu na formação de um time até o momento. E está certíssimo nisso.
O contexto do Corinthians é muito peculiar nesta temporada, o que explica a necessidade do treinador agir desta maneira. Palmeiras e São Paulo iniciaram o ano com a manutenção dos elencos e dos treinadores de 2018, com a chegada de reforços pontuais, de modo que podiam simplesmente “seguir o baile” (melhor nem comentar o clamoroso fracasso tricolor nesta missão). Grêmio, Inter, Cruzeiro, Atlético, Vasco e Botafogo também viviam situações semelhantes; e o Flamengo, embora tenha trocado de treinador, herdou uma considerável base do time vice-campeão brasileiro do ano passado.
Já Santos e Fluminense, mesmo também tendo trocado o comando e reformulado bastante o elenco, não contrataram tantos jogadores que chegaram teoricamente em condições de assumirem a titularidade – o que passa diretamente pela diferença na capacidade de investimentos entre os clubes.
Entre jogadores que foram bem utilizados por Carille em sua passagem anterior e os novos reforços, o Corinthians conta com muitos atletas de nível semelhante que devem disputar posição. A priori, vejo apenas Cássio, Fagner, Henrique e Jadson como nomes que largam à frente por histórico, estágio na carreira ou falta de concorrência melhor. Todas as demais vagas estavam absolutamente abertas.
Por essa razão, Carille acertadamente usou os jogos até agora como uma pré-temporada, para testar todo mundo, dar ritmo de jogo e criar uma mínima “hierarquia meritocrática” dentro do elenco. Além disso, por lesões, contratações atrasadas ou mesmo Seleção Sub-20, atletas como Manoel, Carlos Augusto, Ralf, Junior Urso, Gabriel, Clayson, Boselli e Vágner Love só puderam ser relacionados ao longo do calendário de jogos, o que provocou um efeito “conta-gotas” nos experimentos feitos pelo treinador corintiano.
Dessa maneira, Carille pensou muito mais em firmar os alicerces para o restante da temporada, do que investir e insistir na definição de um time titular. Foi assim, por exemplo, que Ramiro, um dos contratados nos quais mais se botava fé, parece ter perdido espaço. Do mesmo modo, foi assim que Gustagol garantiu seu lugar no time, mesmo com Boselli sendo inicialmente o favorito à titularidade.
Nada ilustra melhor a prioridade dada por Carille ao elenco em detrimento do time titular do que o fato de que nesta quarta, contra o Avenida, pela primeira vez o Corinthians repetirá uma escalação nesta temporada. E basta não ser eliminado prematuramente das competições que terá valido a pena. Afinal, no momento, de que valeriam goleadas vazias em adversários frágeis, se com elas viesse um menor conhecimento das reais possibilidades do elenco e insatisfação de jogadores?
O Santos de Sampaoli investe na formação de um time e vem tendo excelentes resultados com isso. E é o correto a ser feito hoje no Peixe.
Só que a situação do Corinthians não é a mesma. Ninguém sabe se dali vai nascer um verdadeiro time de futebol. Mas cobrar por algo que simplesmente não se tentou fazer é absolutamente injusto.
Passada a fase de experiências, a partir de agora deve se iniciar uma maior exigência quanto a desempenho. Pelo histórico e consciência, Carille merece o voto de confiança.
Observe: Carille, por mais desatualizado que possa estar, jamais desatualizado estará, que qualquer técnico que venha a dirigir o SPFC, ainda que seja o papa tudo Guardiola.
Todos devem correr do mal de Juvenal.
Nice