Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Um fato em janeiro de 2015 chamou a minha atenção para a tristeza atual do nosso futebol, e creio que continuará a martelar minha cabeça a cada recomeço de temporada do futebol brasileiro: eu estava no supermercado e ouvi um funcionário comentando – de maneira animada – com o outro: “Viu que o São Paulo contratou um atacante?”, ao que se seguiu o diálogo:
– Opa, ah é? Quem?
– É o… acho que Wellington Cafu, Washington Cafu, alguma coisa Cafu. Mas falam que o cara é bom! Jogava no interior…
– Ah…
Daí imediatamente lembrei de como era o mercado durante a minha adolescência, nos anos 1990. De quando eu, aflito, aguardava o Globo Esporte confirmando as novidades. Tirando um ou outro jogador que se destacasse muito e poderia ir para a Europa/Japão, os jogadores ficavam por aqui mesmo. Então ouvia-se sobre transferências entre clubes nacionais de um Edmundo, um Bebeto, aventava-se (e frequentemente executava-se) a repatriação de nomes como Romário (então melhor jogador do mundo), Marcelinho Carioca, Luizão etc.
De tempos em tempos surgia uma Parmalat, um Banco Excel ou ISL para agitar ainda mais as coisas. Havia coisas bizarras como a apresentação de Renato Gaúcho no São Paulo, em 1997, quando acabou nem assinando e nunca vindo a jogar pelo clube do Morumbi.
Sonhávamos com coisas como Maradona e Baggio no Santos, ou o português Paulo Futre na Portuguesa.
Não bastasse tudo isso, chegamos a ter até o “Disk-Marcelinho”, um 0900 de competição entre as torcidas dos grandes paulistas, feito pela Federação Paulista de Futebol – que tinha repatriado o “Pé de Anjo” – com a clara intenção de dá-lo de presente ao Corinthians.
A partir dos anos 2000, ainda tivemos espasmos disso, com a bizarra MSI e o “Corinthians galáxico”, o Santos de Marcelo Teixeira ou o Fluminense com a Unimed. Mas aí já era sempre algo bem localizado, com apenas um clube excepcionalmente tendo condições de fazer contratações do tipo.
Agora, já resignados por sermos a periferia da periferia do futebol mundial, temos que acompanhar quais jogadores nossos times perderão, quais refugos contratarão ou se poderá pintar algum ex-craque vindo do exterior buscando o último contrato antes da aposentadoria. Além, é claro, de torcer para que os “Jonathan Cafú” (sim, era esse o nome) sejam bons mesmo…
O Farah animava o futebol.
Bacana a reflexão, Gabriel Rostey. Só fico em dúvida se nosso futebol tinha um poderio maior naquela época ou se era mais fanfarrão. Ou será que as duas coisas? 😀
Boa pergunta! Eu acho sim que era mais fanfarrão e as gestões eram ainda piores que as de hoje. Mas, principalmente, a questão era a globalização do futebol que era menor. Os clubes europeus ainda não tinham TANTOS estrangeiros, o Japão não contratava tantos brasileiros quanto a China e a gente não perdia jogadores para lugares como Catar, Leste Europeu etc.
Fora que o Real passou boa parte dos anos 1990 bem valorizado, o que ajudava na competição internacional.
Enfim, quanto mais o futebol fica globalizado, mais pra trás o mercado brasileiro vai ficando 🙁
Esse Disque Marcelinho foi um absurdo
como tinhamos craques antes, hein!!!
E a tendência de tudo isso é piorar. Infelizmente
Ainda mais com o advento do mercado chinês. Basta vermos para onde foram os três melhores jogadores do campeão brasileiro de 2015. O Palmeiras considero um caso a parte devido à parceria com a Crefisa, mas os demais clubes “normais”, sempre que fizerem campanhas de destaque, terão seus “craques” ou boas revelações arrebatados por mercados nem sempre tão centrais.
Hoje “a nata” dos atletas do nosso futebol está nos grandes/médios da Espanha, Inglaterra, Itália, Alemanha e França. Um pouco abaixo vêm os jogadores da Liga de Portugal e clubes pequenos das grandes ligas. Depois vêm os do Leste Europeu. Depois os do Oriente Médio/China. E aí sim temos os atuantes em território nacional, sendo que estes são na grande maioria veteranos já milionários e a fim de curtir uma praia por aqui, jovens promessa caseiras ou Sul Americanas, jogadores que não deram certo em mercados emergentes ou atletas lesionados conseguidos por empréstimos de no máximo um ano
É triste. Mas é a realidade. Basta observamos o “galático” Palmeiras e suas contratações para 2017. Um jogador experiente que já não tem tanto mercado nos grandes ou médios europeus, um meia venezuelano de 31 anos que foi aparecer para o continente apenas em 2016, um meia que foi escorraçado do rival, apesar de ser um dos melhores tecnicamente, e um jogador que tem mais fama pelo seu bigode do que pela bola que joga. Será que somos tão superiores assim aos “hermanos”. E se formos, será que esta superioridade pode embasar a soberba que sempre temos em uma Libertadores??? Questões a serem analisadas…
Muito bom!!!
[…] desses, Gabriel Rostey escreveu uma bela crônica – que pode ser lida aqui – sobre a falta de charme das atuais janelas de transferência. Concordo perfeitamente e […]