Créditos da imagem: educarpelofutebol.com.br
Este texto é adaptado, não original. Em abril de 2015, com o auxílio dos demais moderadores do Fórum O Mais Querido (FOMQ), um espaço de debates sobre o SPFC, lancei dez preceitos básicos para quem se aventura como gestor de futebol. Entre os colaboradores estava o amigo Cesar Grafietti, que atualmente dispensa apresentações.
Relanço esta lista porque nem é questão de modéstia à parte, mas simplesmente porque, até hoje, não vi nenhum outro texto sucinto e abrangente sobre o tema, que segue bastante empírico mesmo entre os gerentes de futebol que vemos em ação. Sendo assim, vamos aos princípios:
1 – no futebol, bem como qualquer esporte, o objetivo do jogo é ganhar – não tem essa de time pequeno, médio ou grande. Ninguém entra num campeonato tendo como satisfação máxima empatar ou perder de pouco. Se não tiver esta ambição, melhor nem ir pros mandamentos seguintes.
2 – o objetivo é vencer, mas a necessidade é sobreviver – o ideal é disputar o topo ano sim e ano sim. Porém, dependendo das circunstâncias, é aceitável que um ano de conquistas custe algumas temporadas sem títulos. O que não se pode admitir é que, mais que a falta de títulos, o clube se afunde em dívidas insolúveis e paqueras com divisões inferiores. Tem que ganhar e ficar em pé pra contar a história. Um dos exemplos negativos passados é o mesmo SPFC que, hoje, sofre com péssimas gestões. Nos anos trinta, ganhou um campeonato paulista e chegou a fechar as portas sem dinheiro.
3 – os riscos devem existir, mas com limites – no filme Rush, o mito Niki Lauda afirma que aceita o risco de morrer a cada corrida que disputa, desde que esta probabilidade não ultrapasse 20 %. A doutrina Lauda vale pra muitas áreas. O gestor de futebol não deve se furtar a medidas arriscadas, como no caso de certas contratações. Porém, deve medir os riscos com honestidade, sem inventar argumentos falaciosos ou apelar pra estatísticas distorcidas. Quando contratou Rivaldo, o mesmo São Paulo se valeu da imprensa amiga para relembrar casos de sucessos de veteranos no clube e, assim, encher o torcedor de esperanças. Esqueceram-se, maliciosamente, de distinguir veteranos de ex-jogadores em atividade.
4 – lugar de torcedor é no estádio ou no sofá – não é trabalhando pelo clube. A paixão pelo futebol abre os olhos. A paixão clubística cega. Não apenas o gestor tem que se despir do papel de torcedor (caso realmente torça pelo clube que o emprega), como deve filtrar com restrições os torcedores palpiteiros que fatalmente aparecerão pra “ajudar”. É como diz o ditado: “de boas intenções…”.
5 – assumir os filhos – bonitos e feios. O gestor não trabalha apenas nos bastidores. Do contrário, seria assessor. Tem que chamar para si a responsabilidade de fatos espinhosos sob sua batuta, inclusive dando entrevistas a respeito.
6 – entender de futebol é não entender de futebol – quem acha que sabe tudo deste esporte deve ser o primeiro a NÃO ser chamado pra gerir um clube. Entendimento de futebol é um processo constante de discussões e aprendizados, especialmente com a experiência. Tudo com a consciência de que todo mundo sempre compreenderá o jogo menos do que imagina. Isso vale para todos os envolvidos, desde a torcida até mesmo os técnicos e, obviamente, os dirigentes.
7 – sem discórdia não há progresso – justamente porque ninguém entende tudo de futebol, é preciso que mais de um esteja participando no processo das decisões, pois isso sempre dá a chance de que um detecte a má ideia do outro. Nos clubes em que um dirigente reina absoluto, normalmente um grande momento é seguido por anos decadentes, em especial porque se cria uma aura de infalibilidade no comandante, que não é mais questionado mesmo quando seus métodos perdem contato com a eficiência. Torcedores de vários clubes devem estar lembrando alguma coisa após lerem este trecho.
8 – quem quer sigilo guarda segredo – no futebol, como em outras áreas, há negociações cujo sucesso está condicionado ao desconhecimento público, até seu efetivo fechamento. A diferença é que, num clube, sempre existem autênticos babacas (não há termo mais adequado) querendo se exibir como bem informados sobre os bastidores. Confidenciar alguma coisa a eles é o mesmo que pedir segredo a fofoqueiros de celebridades. Quanto menos pessoas souberem, melhor.
9 – respeitável público não é só o do circo – torcedor deve ser atraído, não cobrado como se tivesse a obrigação de apoiar e ainda gastar seu dinheiro com o clube. A despeito de haver uma parcela ínfima – incluindo certos comentaristas esportivos – que acha que “o legal do futebol” é ser tratado como gado e ainda assim ir ao estádio, a grande maioria não está a fim de maus-tratos e tortura mental. Respeitar a inteligência alheia também é indispensável.
10 – gestão equilibrada não é sinônimo de equilibrismo – desagradar não só faz parte do ofício, como é fundamental. Se alguém sonha em ser bem sucedido agradando a todos, melhor cair da cama e se poupar desta tolice suprema. Por outro lado, desagradar a todos – ou quase todos – é apenas incompetência convicta.
Cesar Grafietti, Amir Somoggi, Alex Bourgeois, para conhecimento e eventuais pitacos. 😉
Já falei em outras ocasiões e repito aqui: Gustavo Fernandes é uma das pessoas que mais entende deste tema, mesmo estando longe do dia-a-dia. As recomendações são peça necessária para que um Gestor de Futebol tenha, minimamente, possibilidades de sucesso.
Gosto muito do item 4. Os abnegados que me desculpem, mas paixão nesta indústria mais atrapalha que ajuda.
Bom seria que os interessados em gestão esportiva tivessem estas ideias. Infelizmente, além dos clubes não se importarem em desenvolver gestões reais, profissionais e independentes, os que atuam nesta frente não conseguem aplicar o básico.
Obrigado, Cesar. O que aprendo é fruto da experiência de anos acompanhando e tendo acesso a debatedores como você. Aliás, não ter acesso ao dia-a-dia é muitas vezes uma benção, vide os setoristas chapa-branca, fora os blogueiros e donos de sites próximos da turma da diretoria, sempre rebeldes a favor.
Cesar Grafietti, perfeito! Entre alguns dos problemas que destaco da paixão na gestão do futebol é o fato de o abnegado pensar que “aqui é diferente”, justamente por nutrir uma espécie de wishful thinking de que as características e tradições do clube farão com que determinadas barbeiragens deem certo.
E o pior é que, em muitos casos, ainda usam (e tem gente que compra) o fato de serem apaixonados como uma espécie de escudo, do tipo “ah, mas ele defende os interesses do clube!”.
Gustavo Fernandes, bom demais! Eu gostei especialmente do 7:
“Nos clubes em que um dirigente reina absoluto, normalmente um grande momento é seguido por anos decadentes, em especial porque se cria uma aura de infalibilidade no comandante, que não é mais questionado mesmo quando seus métodos perdem contato com a eficiência. Torcedores de vários clubes devem estar lembrando alguma coisa após lerem este trecho.”
Ao ler esse trecho eu lembrei de, com sinceridade, pelo menos 4 clubes, sem fazer esforço!
Muito bom mesmo Gustavo Fernandes. Eu gostei muito do 9. Pra mim é a fronteira entre o entretenimento e o gado! Parabéns!!!!!!!
ÓTIMO ARTIGO, MAIS UM PARA A CONTA DESTE NO ÂNGULO, DEVERAS DIFERENCIADO.
A gente vê o Vasco com o Eurico, o filho dele ganhando espaço lá dentro, o São Paulo com o mesmo grupo político na presidência há trocentos anos, o Atlético Paranaense que é exemplar fora do futebol e faz as maiores loucuras com os técnicos, e o Corinthians penando pela magalomania com o Pato e fica a pergunta: esse povo não consegue mesmo aprender nem um pouquinho com esses mandamentos???????????
Vejo que falta no Brasil entender que futebol é uma indústria. Ao longo de quase 20 anos procuro mostrar seriedade e um modelo empresarial à gestão do futebol. Sem piadinhas, sem bom humor, típico dos programas de TV que nunca agregam nada ao mercado. Somente vamos evoluir quando nosso futebol for tratado com seriedade, especialmente na cobertura de mídia, piadinhas é bom humor na minha opinião ficam para as mesas redondas. Abs
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