Créditos da imagem: Portal Terra
Ao contrário do que ocorria nos meus primeiros tempos de debates esportivos pela rede, hoje sou um dos mais velhos – ou melhor: não sou dos mais novos. Procuro fazer isso valer de verdade, ao contrário de pessoas que comentam futebol há cinquenta anos (às vezes pagas pra isso) como se tivessem começado semana passada, sem aprender nada com o que viram. Um dos efeitos desta situação é o entusiasmo mais contido com as chamadas revelações. Não se trata de negar o potencial. É questão de conhecer os obstáculos que todos terão e já saber, de antemão, que boa parte dos prodígios não os superará. O principal deles: como superar as críticas exageradas – até maldosas – que virão quando suas atuações começarem a oscilar. E, acreditem, vão oscilar.
Em entrevista ao UOL, Kaká fez comentários sobre seu primeiro momento difícil da carreira, quando foi chamado de “amarelão” por parte da torcida. Ele foi brando. Os são-paulinos da época não lembravam em nada o cenário de “apoio incondicional”, oriundo do patrulhamento das mães de hienas. Não hesitavam sequer em adotar termos jocosos dados pelos adversários. Um santista expulso chamou Kaká de “mocinha” e não tardou a haver tricolores falando a mesma coisa. Jornalistas antipáticos ao jogador também aproveitavam para apontar seu futebol como “produto de marketing”. Não demorou muito para o rival Robinho ser chamado de “triatleta” – corre, pedala e… nada. Isso depois do que fez numa decisão que tirou o clube da fila. Não se discute que foram injustos. Mas, como conclui o próprio Kaká, foram importantes para seu amadurecimento como atleta. Eu iria mais longe: são fundamentais.
Navegar com a corrente a favor facilita. A atitude inicial do público com o jovem talentoso é torcer a favor. Até os rivais costumam saudá-los, mesmo que para alfinetar os dirigentes de seu time. Superconcentrado e entusiasmado com os primeiros elogios, o jogador ganha confiança e vai em frente. Até que, mais cedo ou mais tarde, chegam os percalços. Com mais jogos num ritmo superior, o corpo do atleta vai acusar lesões e fadiga. Os adversários passarão a lhe dar atenção especial. As grandes jogadas vão diminuir e, com isso, as cobranças entrarão em campo. Nem todas serão proporcionais. O mascote da mesa redonda vai berrar que o moleque mascarou. Outro vai dizer que “nunca foi tudo isso” e era apenas uma boa fase. É, como mencionei em coluna anterior, a encarnação da lenda de San Jacinto. Quem sobreviver à picada da cobra vira um forte. Ou seu futebol baterá as botas.
Vale destacar que não é apenas a parte psicológica que pode derrubar a revelação. Há aqueles que simplesmente não têm aptidão física para repetir, como profissionais, o que fizeram na base. O futebol exige muito do corpo e nem todo corpo poderá dar ao atleta o que ele precisa para sobreviver no esporte. Como o camisa 10 que desfilou na Copinha e, entre os marmanjos, não é forte ou rápido para escapar da marcação. Não é que mascararam ou não se dedicaram. Apenas não tinham todo o necessário, porque talento não é tudo. Acredito que havia, na Bauru dos anos 1950, garotos tão ou mais virtuosos que o filho do Sr. Dondinho. Mas nenhum, mais certamente ainda, tinha seu físico já privilegiado. Esta é a principal causa, com folga, pela qual tantos juvenis encalham na transição. Por mais que o clube tenha estrutura e planejamento, é o que continuará predominando. Anormal seria se fosse o contrário.
Esta edição do Campeonato Brasileiro será interessante para ver quantos serão rápidos, fortes e talentosos o bastante para dar sequência ao longo caminho para concretizar seus potenciais (Paulinho, agora, só na Alemanha). Torço para que realmente tenhamos um cenário com mais promessas, em vez de medalhões e esforçados. Ao menos espero que, na medida em que mostrem serviço, recebam do treinador a mesma boa vontade que ele costuma dedicar aos demais. Nem que seja para mostrar que, no fim das contas e sem maldade embutida, não eram mesmo tudo isso.
Esse Rodrygo tem muito futuro, em pouco tempo já se tornou protagonista no Santos.
O Everton e o Paulinho também estão muito bem.
Já os outros, ainda penso ser prudente aguardarmos mais um pouquinho.
É só lembrar que o próprio Neymar apareceu no Paulistão de 2009, com o Mancini, e depois veio o Luxa e o deixou no banco, chamando de “Filé de Borboleta”!!!!!!!!!!!!!!!! Não consigo nem lembrar mais quem foi o pereba que jogava no lugar do Neymar, kkkkkkkkk