Créditos da imagem: Zero Hora
O primeiro dia do torneio da Primeira Liga, que está sendo chamado de “Copa Rio Sul Minas”, foi bem legal. Com times tradicionais se enfrentando em jogos para valer, já em janeiro, o torcedor se animou e compareceu dentro da medida do possível. Resultado: uma média de público interessante, com destaque para o clássico Atlético Mineiro x Flamengo, com 30 mil no Mineirão e partidas não tão modorrentas como de costume essa época do ano, em amistosos na Disney ou contra equipe de empresários nos estaduais.
Dito isto, precisamos fazer uma ressalva e separar o joio do trigo, ou seja, a iniciativa do produto final.
A Primeira Liga é uma ideia que se fazia necessária há tempos, já que em qualquer lugar do mundo no qual acontecem bons campeonatos, quem os organizam são os times que participam. Estamos em 2016 e não deveríamos falar em CBF nem Federações como organizadores das competições. São elementos estranhos ao futebol, meramente burocráticos e administrativos, que deveriam se ater à seleção, às categorias de base e a fomentar o esporte nos estados.
Ou seja, a Primeira Liga, como foi o Clube dos 13 no passado, é uma nova tentativa dos verdadeiros donos do espetáculo colocarem alguma ordem no futebol brasileiro. Se os atuais cartolas terão essa competência? Pago para ver. Mas ainda assim, são eles que devem assumir essa responsabilidade.
A outra parte é o produto final. Esportivamente falando, não há motivos para Fluminense, Cruzeiro ou Inter se enfrentarem, afinal, já temos o longo Brasileirão de pontos corridos e a Copa do Brasil espalhada pelo ano em jogos mata-mata, o que significa que um terceiro torneio nacional não se justifica. Por ser novidade e pela insistência – digna de aplausos – da Primeira Liga em começar a Copa Rio Sul Minas à revelia da CBF e da FERJ, o campeonato tende a ir bem neste ano. Afinal, é uma forma de clubes e torcedores dizerem que estão insatisfeitos com o rumo do esporte. Foi a maneira possível para começar o rompimento com o status quo. Mas e depois? Geograficamente também não se aplica, afinal, são estados distantes e não dá nem para chamar o torneio de regional, como a Copa do Nordeste. Sem contar que Rio de Janeiro e Minas Gerais, e até o Rio Grande do Sul, podem ter bons campeonatos estaduais, já que contam com alguns clubes menores de tradição e camisa.
O problema é que as federações usam esses torneios como ferramentas de controle e manutenção de poder, inchando-os no intuito de encherem seus cofres, sem qualquer intenção de (re) erguer os menores ou manter a competitividade dos maiores. Com isso, aos olhos de muitos torcedores, tradição e a rivalidade interna são esquecidas e os estaduais não causam quaisquer sentimentos, a não ser desprezo. É comum que alguns fanáticos pelo futebol queiram simplesmente acabar com esses campeonatos, outrora tão gloriosos e que já foram os mais importantes torneios do país.
Mas não precisa ser assim. E aí que a “Copa Rio Sul Minas” pode servir de exemplo para os futuros estaduais, já, quem sabe, nas mãos dos clubes.
No Rio, por exemplo, dois grupos de seis times, com dois grandes em cada, e teríamos cinco jogos “preparatórios” para o restante da temporada na fase inicial, sendo um clássico. E depois as finais, que se fossem em dois jogos, fariam um calendário com no máximo nove jogos pré-Brasileirão. Enxuto, com partidas valendo posições, mantendo a tradição dos clássicos, a chance dos pequenos aparecerem e enfrentarem os grandes, e claro, testes para o restante da temporada. E o melhor, um título, uma taça, que é o que move o futebol.
É sonhar demais, já que as Federações relutarão em enxugar esse calendário e os clubes somente começaram a se organizar. Mas com o torneio da Primeira Liga, além do sonho de se fazer uma liga de clubes organizada, cresce também a esperança dos estaduais perceberem que, para sobreviverem, precisarão diminuir. Os clubes precisam saber disso, e caso, enfim, consigam o controle dos campeonatos que disputam, devem ter em mente que um estadual pode ser útil.
[…] Leia também “Copa ‘Rio Sul Minas’: modelo é a chance dos estaduais sobrevivere… […]
Concordo Caio. O Carioca é histórico, é tradicional. O problema não é o campeonato em si e sim a forma como é gerenciado. A começar por cartolas que partem para agressões verbais gratuitas e por taxas exorbitantes, roubando lucro dos times. Se mudar isso já tá de bom tamanho.
Estadual bom é estadual morto. Que o olaria jogue com o Resende pela oitava nacional, com jogadores amadores, como em qualquer lugar do mundo
acho que a Primeira Liga não é definitiva. tem caráter mais simbólico, pra mostrar que existem clubes insatisfeitos com o modelo atual e que acreditam que podem organizar um campeonato (nacional, inclusive) melhor.
mas os Estaduais… durante muito tempo defendi, mas agora não mais. são um arremedo do que eram. e não só por causa do regulamento ou do inchaço, que também são problemas. os clubes pequenos tradicionais estão cada vez mais afundados, dando lugar a times de proveta, criados por empresários ou bancados por prefeituras. no Rio, onde foi parar o São Cristóvão? enquanto isso, a vaga de pequeno carioca na Copa do Brasil ficou com o Resende. em São Paulo, pra cada XV de Jaú que fecha as portas surge um Guaratinguetá F.C. Ltda.
coloca o Brasileiro ao longo do ano, com mais tempo de pré-temporada, abrindo um intervalo na virada de turno pros times excursionarem, e pega os Estaduais, tira deles os times que estão nas Séries A, B, C e D e transforma na Série E regionalizada. e estende a Copa do Brasil pra todos os clubes profissionais. aí sim, na minha opinião, a gente teria um fortalecimento maior de base no futebol brasileiro.
Sim,Concordo com vc e com o Anderson.
Ainda acrescentando que com o fim dos estaduais os times pequenos teriam menos chances ainda de aparecer.
Assim como em 87 fizeram o clube dos 13 e fuderam com América e Bangu(que tinha sido vice brasileiro em 85), com a mesma desculpa de moralizar a parada.
Deu certo?
Acabar com o estadual significa esticar o já cansativo Brasileirão. Sou contra.
Eu tb acho isso.
Tinha que arrumar um jeito do estadual ficar mais sério e mais atrativo.
O que é uma utopia nesse momento.
Acabar com o estadual significa dar mais datas para o Brasileiro, mas sem esticá-lo com mais jogos. Significa acabar com os jogos nas datas-fifa, ampliar o período pra pré-temporada, etc. Errado é nao termos a série E, série F, etc.
Estadual é ruim até pro time pequeno. se enxugar, se reduzir o número de jogos, o que é que o Bonsucesso vai fazer o resto do ano? “ah, mas tem a Copa Rio, que vale vaga na Copa do Brasil”. é só abrir a Copa do Brasil pra todo mundo. é por isso que tem muito Bonsucesso acabando por aí.
Ter divisão inferior não significa tirar o estadual. São coisas diferentes. Também sou a favor.
Acontece que sem o estadual, o Brasileirão vai ficar longo e cansativo.
Com um estadual enxuto, dá pra trabalhar num Brasileirão com parada em Data-Fifa, que de tão óbvio nem era pra ser discutido hahahaha
o ano tem 52 semanas, o Brasileiro tem 38 rodadas. se colocar o Brasileiro com jogos só nos fins de semana, ainda sobram pouco mais de dois meses. dá pra fazer uma pré-temporada maneira, parar quando tiver Data Fifa e ainda dar uma, duas semanas de descanso no meio do ano pros times viajarem pro exterior, por exemplo. todo mundo reclama que os times brasileiros não jogam mais lá fora, mas a culpa não é do Campeonato Brasileiro, não.
Deus me livre um campeonato em 38 semanas. Uma gestação hahahaha.
Sou contra.
a questão é que não vai ser só o Brasileiro. vai ter Copa do Brasil, Libertadores, Sul-Americana, tudo acontecendo em paralelo, nos meios de semana. assim como na Europa tem as ligas nacionais (que duram 38 semanas) e têm as copas nacionais, a Liga dos Campeões, a Liga Europa e por aí vai.
e eu achei foda abrir a temporada com um Flamengo x Atlético. melhor do que abrir com Flamengo x Boavista (ops!).
É legal porque é novidade. Tende a banalizar.
E eu acho que não precisamos imitar o calendário europeu, por uma série de razões.
imitar o calendário europeu seria começar o Brasileiro em agosto e terminar em maio. ninguém tá sugerindo isso, e eu acho que não vale a pena. mas colocar o Brasileiro o ano todo, sim, aí eu concordo.
o que não é mais novidade e já é banal há muito tempo são esses jogos preguiçosos contra Tigres do Brasil e Duque de Caxias abrindo Carioca.
Serve de preparação e exposição pros pequenos.
E acho que o Brasileirão do jeito que está já está longo. Imagina espalhar por 10 meses…
que pequenos? o Red Bull Brasil? a “exposição pros pequenos” rendeu ao Flamengo ano passado o Almir. fez um “bom Carioca pelo Bangu” e todo mundo achou que “merecia uma chance num time grande”.
Brasileiro é longo e cansativo pra time que fica no limbo o campeonato inteiro. em 2009 eu não achei nada longo nem cansativo, hahaha.
Hoje são 19 datas. Dá pra usar uma pra supercopa do Brasil e dividir o resto com estadual e rio São Paulo por exemplo. As duas federações continuariam com 18 jogos,sendo que quase todos lucrativos. Existem milhares de outras opções interessantes. Como diminuir os estaduais e os times disputarem um ou dois torneios pelo Brasil com o tempo livre.
Eu acho que tinha que adicionar no calendario a obrigação dos grandes jogarem contra alguns times de várzea. Tenho um time de varzea aqui em BH, e gostaria que meu time tivesse exposição e oportunidade de jogar contra Flamengo, Sao Paulo, etc. Seria justo, pô, meu time é tão pequeno e tão pobre. O que custa aos gigantes ajudarem um pouco o meu timinho de varzea?
A questão não é acabar com os Estaduais. Isto é ridículo. Quem fala isto é porque, ou não entende o problema, ou está mal intencionado e mancomunado com ele. O problema é latente, basta abrir os olhos e ver. Não é teoria. América, Bangu, Olaria, Madureira… Simplesmente não existem! Não conseguem manter um time profissional. São alugadores de camisas para empresários. E os grandes, Botafogo e Vasco, pedindo senha na fila, vão pelo mesmo caminho. O modelo faliu. Como resolver este problema? Não sei. Mas é preciso mudar. Não sei se a Liga vai funcionar. Como foi muito bem colocado por você, “pago para ver” se os nossos cartolas (muitos fazendo parte do esquema) serão mesmo capazes de mudar o status quo. Mas, pelo menos, é uma afronta à CBF e à FFERJ, principais culpadas pela lama em que se encontra o nosso futebol. É preciso pensar, inventar um meio de fazer o esporte mais competitivo, senão, chorando ou não, só restará uma potência por estado e, quiçá, umas duas ou três no Brasil inteiro. Aí os Estaduais estarão mortos mesmo (na verdade, na boa, já estão, né…) Patético, mas isto sim será o tão temeroso “futebol de videogame”…
Particularmente, eu acho chato, Emmanuel. Óbvio que gostei que o Flamengo ganhou, arrancada e tal, mas não me acostumei com a ideia de começar um torneio em maio e acabar em dezembro, que começa com um time e acaba com outro. Sem contar a Libertadores que termina quando começa o Brasileirão e etc, mas essa é outra questão, envolve a Conmebol.
Eu acho que, com um mês de férias, pouco mais de um mês de treino e dois meses de torneio estadual aos fins de semana e Copa do Brasil no meio já se resolveria o problema.
Eu gosto dos estaduais, acho que as rivalidades estaduais são sadias, é o que fez o futebol brasileiro ser assim, e gosto da ideia de, mesmo que Tigres e Boavista, enfrentem o Flamengo e, principalmente, o Flamengo enfrente eles em Caxias e Saquarema.
Nesse sonho utópico, as federações fomentariam e ajudariam a reconstruir Américas e Bangus da vida.
Mas a verdade é que o futebol brasileiro caminha não só para acabar com os pequenos, mas também pra acabar com alguns grandes e sobrarem meia dúzia de times.
Ta de parabéns
Gosto mais do Caio jornalista em relação a opinião do que o Caio Bellandi emocional
“No meu sonho, federações ajudariam bangus e americas da vida”.
Porra, Caio, que sonho de merda, rs. São instituições privadas, têm que sobreviver por conta propria, ter gestão decente. É errado defender o favorecimento a x ou y, cara. Se o Tigres é mais novo e tá tendo melhor gestão, ele que deixe pra trás America e Bangu.
André, um alimenta o outro hahahaha
Na verdade o Caio Bellandi precisa mais de líquido do que de alimento propriamente dito,rs
o Brasileiro começa em maio porque deveria começar em fevereiro, mas não pode porque tem os estaduais ali, intocáveis. ajustando isso, o resto vem a reboque: janela de transferências, os clubes vão passar a ter prejuízo menor, o Brasileiro vai se valorizar e com isso mais times terão capacidade de manter seus elencos, e por aí vai.
as rivalidades não se restringem ao campeonato estadual, nem ao âmbito estadual e podem seguir nos torneios nacionais. foram elas que fizeram o futebol brasileiro ser assim pelas contingências da época, quando tudo era mais local, até pelas dificuldades de comunicação e transportes. o campeonato alemão já foi regionalizado, o espanhol, o português, o italiano. todos eles em algum momento evoluíram pro formato de liga nacional. e nenhum dele perdeu suas rivalidades: Milan e Inter ainda se odeiam, assim como Benfica e Sporting, Real Madrid e Atlético de Madrid ou Schalke e Borussia Dortmund. e nada impede que novas rivalidades sejam criadas nas divisões inferiores do Brasileiro. a gente acompanha aí finais das Séries C e D que são tiro, porrada e bomba.
o problema é que muita gente se apega à tradição e a outros argumentos emocionais pra salvar o Estadual, especialmente o Carioca, “o mais charmoso do Brasil”. mas o Bangu não tem mais Marinho, Arturzinho ou Paulo Borges. tem o garoto que veio do Artsul com o passe todo fatiado por empresários, que não tem nenhuma ligação afetiva com o clube e que, quando acabar o Carioca, vai ser vendido pro Audax de Sâo Paulo ou pra algum time da Tailândia, sem que o clube lucre nem o suficiente pra pagar o roupeiro. nesse sentido, não existe mais o velho Carioca.
o engraçado de “tal coisa vai matar os pequenos” também era um dos argumentos que muita gente usava pra criticar o profissionalismo, quando de sua instituição na década de 30.
Então, você tocou no ponto chave: não é a tabela ou o campeonato que tá definhando nosso futebol, e sim, a gestão.
Pode unificar a tabela que for, o passe do garoto continuará fatiado e ele continuará sonhando com a Europa e cagando não só pro Bangu, mas também pro Flamengo e pro Vasco.
Há essa falsa sensação de que acabar com os estaduais resolvem o problema.
a gestão passa por um projeto que mantenha os clubes em atividade do ano inteiro. com esse calendário que temos hoje isso não é possível, de maneira minimamente rentável. os times pequenos alugam elenco pra jogar o Estadual e, quando ele acaba, vai todo mundo embora e o clube entra de recesso. é isso que tem matado os clubes pequenos. eles não têm renda o ano inteiro, mas precisam pagar contas o ano inteiro. em certa altura, não vão ter remédio: vão se licenciar ou fechar.
Ou seja, não é acabar com o estadual, mas sim, propor outro campeonato pro decorrer do ano.
o outro campeonato possível é aprofundar ainda mais o Brasileiro, até a última divisão profissional. mas, com a permanência dos estaduais, o problema do Brasileiro começando em maio vai continuar.
reduzir o estadual, por si só, não ajuda em nada. só significa que, em vez de estar em atividade até o começo de maio, o Friburguense vai estar em atividade até meados de março. o recesso vai começar antes.