Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Cinquenta mil.
Cinquenta anos.
Este domingo de inverno ensolarado, quente ao Sol, frio sob a sombra das árvores, sombra que não pode ser aproveitada por muitas dezenas de milhões de brasileiros que precisam -para seu próprio bem e o bem dos demais- permanecer em suas casas pelo máximo de tempo possível, deveria ser festivo e dedicado somente aos Cinquenta Anos.
Cinquenta Anos da conquista da terceira e definitiva Taça Jules Rimet.
Cinquenta anos, como virou praxe no Brasil e no mundo, da conquista do Tricampeonato.
No dia seguinte à conquista do Tri, o Tetra já povoava nossas cabeças, estávamos todos loucos de felicidade, mesmo porque tínhamos visto os jogos do Brasil ao vivo! Minha nossa! Que emoção, que coisa fantástica, maravilhosa, inesquecível, ver um jogo de futebol pela televisão ao vivo e, muito mais que isso, disputado a muitos milhares de quilômetros de distância.
Éramos felizes, éramos ricos (não no sentido financeiro), éramos imbatíveis e o Brasil era o, ou melhor, era O país.
No final do ano seguinte, eu mesmo, mero molecote, já era um militante contra o Regime Militar e sonhava com outra coisa: Democracia.
Sempre acreditando, porém, que nós éramos O país. Azar dos outros, né, mas nós éramos demais e nosso futuro confirmaria tudo isso, puxado pela Seleção Canarinho e pela Democracia que conquistaríamos, tal como as Copas.
Só voltei a sonhar nessa linha, e pela última vez, em 1982, com o maravilhoso time de Telê.
Para azar do futebol, para azar do Brasil, os pândegos chamados (talvez autoproclamados) “deuses dos estádios” acharam que o time de Telê era um pouco demais e nos enterraram no Sarriá.
Tudo bem, tudo bem…
Pouco depois dessa desfeita divina, voltávamos a ser uma Democracia.
Que alegria! Seguida por muita tristeza, até uma nova mudança anos depois.
No que me diz respeito, a última Seleção a me dar alegria e sonhos foi a de Telê. Hoje e há bom tempo, tenho sérias dúvidas se algum dia voltaremos a nos encantar como em 70 e 82. Ou 58 e 62, mas sobre essas nada posso falar, embora lembre da torcida febril pelo Brasil ouvindo os jogos pelo rádio, em 1962. E lembro da festa do título na Rua Agostinho Gomes, no Sacomã, onde morávamos, com os vizinhos mais velhos soltando um imenso balão todo verde e amarelo.
De volta à realidade, a mesma realidade que coloca em segundo plano a nossa maior e mais importante conquista esportiva, mas passando pelo futebol. Não tem jeito.
Na tarde de sábado, o prefeito da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro proíbe jogos do campeonato estadual de futebol. Três horas depois ele se desdiz, se confunde, se atrapalha, diz que não era bem assim e não vou perder tempo esmiuçando isso. Não vale a pena, mas vale pelo exemplo dos tempos em que vivemos neste “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”.
Há cerca de um mês, os presidentes do Flamengo e do Vasco estiveram com o Presidente da República, que apareceu numa foto com a camisa rubro-negra, enquanto seu filho aparecia com a camisa vascaína. O assunto foi a ida dos dois times para treinar no Distrito Federal.
Nessa semana, atropelando e jogando fora um acordo feito com o Presidente da Câmara dos Deputados, pelo qual as mudanças no futebol seriam tratadas somente pela Câmara, S.Excia. redige e manda para publicação no Diário Oficial da União, uma Medida Provisória dispondo sobre a venda de direitos de transmissão de jogos e dando ao mandante a propriedade dos direitos de transmissão.
O assunto já foi bem explorado nesses dias e passarei direto para dois pontos que julgo fundamentais:
- essa MP deve ser batizada como a “MP do Flamengo”; numa decisão tipicamente brasileira, ela dará mais a quem já tem muito (se você viu alguma relação com nossa distribuição de renda e outras benesses, acertou); dará mais força e mais dinheiro a quem já tem os dois ou tem potencial para tê-los, em que pese a defesa dessa medida por dirigentes como o presidente do Bahia; uma defesa extremamente útil, pois valida a MP rubro-negra;
-
se implantada, vai aumentar em muito a desigualdade que já é brutal em nosso futebol, com a lógica e direta perda de competitividade da maioria das equipes; uma MP que é a cara do que foi, do que é e do que continuará sendo o Brasil sabe-se lá até quando.
A manobra política
O que salta aos olhos nisso tudo, até mesmo para quem é inocente nas coisas da política, é que o objetivo primeiro e maior dessa ação foi ajudar o presidente do país a atravessar o momento presente e criar um fato novo e muito discutível, envolvendo o que ainda resta de paixão futebolística no país.
Atenção: isso não significa que os presidentes dos dois clubes do Rio de Janeiro, principalmente o Flamengo, soubessem ou tenham sido coniventes com o que tramava o presidente e seu entorno.
Quando o Brasil, por todos os números, tanto os do Ministério sem ministro, como os levantados por nossos maiores órgãos de informação, estava a horas de atingir duas marcas tristes e importantes, a Presidência da República publicava em edição extra do Diário Oficial da União a MP 984/2020.
A política mais rasteira pegando e usando o futebol para, certamente, distrair, mudar o foco de ao menos parte das pessoas por algum tempo. Em certas situações qualquer alívio já é lucro.
Cinquenta mil histórias
Ontem, sábado, dia 20 de abril, ultrapassamos a marca de 50.000 pessoas mortas em decorrência da Covid-19.
50.000 vidas…
50.000 histórias…
Quantos desses 50.000 brasileiros eram malucos por futebol?
O número de pessoas infectadas ultrapassou, também agora, nesses dias, a marca de 1.000.000.
1 milhão, mas todos os especialistas afirmam, convictos, que o número real é muito maior, assim como o número de óbitos.
É triste demais viver esse momento e, para quem gosta de futebol, soma-se a tristeza e revolta pela manipulação do esporte e da paixão das pessoas para fins políticos.
Triste e lamentável, mas não surpreendente.
Desculpem pelo desprazer do texto, mas há temas dos quais temos a obrigação moral de não fugir.
É um prazer imenso voltar a postar e trazer o OCE, o Olhar Crônico Esportivo, de volta, agora No Ângulo.
que paulada!
o monstro bolsonaro acabou com o pais
Seja muito bem-vindo, Emerson Gonçalves! Este artigo traduz bem toda essa situação que vivemos, com o esporte sendo utilizado como manobra política em um país sem perspectivas. Bate bem fundo, pesado…
Sensacional!
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