Créditos da imagem: Daniel Augusto Jr / Ag. Corinthians
Eduardo Baptista demitido do CSA. Mais um técnico outrora promissor virou dispensável – agora em terceiro escalão. Tal como Zé Ricardo, Jair Ventura e tantos outros, parece que começar com o pé direito nem sempre é bom sinal. Não raro, o treinador fica com dois pés esquerdos pelo resto da carreira. Possivelmente, todos têm um ponto em comum: não entenderam por que foram bem. Mais: não compreenderam que a mera repetição não significará novo sucesso Especialmente em outro lugar, com outro elenco. No momento, a dúvida que paira no debate esportivo é se Tiago Nunes seria o mais novo expoente da estirpe.
Difícil encontrar senões na estreia de Tiago como treinador. Pegou um CAP destroçado pelo trabalho horroroso de Fernando Diniz (cujo atual time venceu o Corinthians, ontem). Evitou o rebaixamento e venceu dois torneios de mata-mata que colocaram o clube na Libertadores. Além dos resultados, o desempenho em campo gerou elogios pela postura agressiva. Tornou-se, em meio ao sucesso dos estrangeiros Jesus e Sampaoli, o nome nacional mais condizente com o que se considera futebol moderno. Consequentemente, entrou na mira do mercado. Embora, registre-se, houvesse dúvidas pertinentes ante a peculiaridade athleticana. Além de jogar em grama sintética das mais “rápidas”, o elenco tinha mais jogadores de força e velocidade que a média dos clubes brasileiros. Tiago repetiria o sucesso em condições mais comuns? Só contratando para saber.
Desgastado com o modelo de jogo de Fábio Carille, o Corinthians decidiu apostar no campeão da Copa do Brasil. Porém, o elenco de Itaquera se assemelhava muito pouco com o de Curitiba. Faltam jogadores de força. Faltam atletas velozes. Não que o CAP não tivesse jogadores primordialmente técnicos, mas como complemento das outras características. Este colunista costuma escrever que, no Brasil, os clubes são como restaurantes que compram os ingredientes e mandam o chef se virar com o cardápio. No caso de Tiago, foi como um restaurante vegano contratar um churrasqueiro – com alguns vegetais que até os fãs do gênero não achariam as melhores das iguarias. O efeito desta junção vem sendo o óbvio: o cozinheiro não sabe o que fazer. Pior (para os corintianos): custa a admitir – ou até a entender – que não sabe.
Tiago já era contratado pelo Corinthians no final de 2019. Vira a equipe jogar, com suas diferenças gritantes quanto ao Athlético. Resta saber se: 1 – entendeu que precisaria de mudanças severas; 2 – pediu contratações e dispensas que se adequassem às transformações. As dispensas parecem ter sido pedidas – Ralf e Jadson. As vindas é que geram dúvidas. Luan e Cantillo poderiam ser os complementos técnicos que comentei acima. Mas e a parte do forte e rápido? Tentaram Rony. Preferiu o Palmeiras. Sondaram Michael. Foi ao Flamengo. Veio González, mas faltou dinheiro para confirmar. Sidcley parece um ingrediente apreciado, mas chegou gorduroso e pesado. Jô pareceu um alento ao menu. Contudo, estando também acima do peso e veterano, juntá-lo a Luan e Cantillo seria difícil até para os Jorges.
Completamente perdido, Tiago se aproxima da chamada “situação insustentável”. A rigor, não fossem o desvio de foco para o estádio e a falta de um substituto iminente (Mano deve ter restrições – ou não), a demissão viria hoje. Ainda mais depois de ter dito que o time foi bem no clássico. O torcedor odeia autoindulgência nas derrotas. Uma vez fora, Tiago terá que pensar. Não só no que deu errado, como no que pode dar errado no futuro. Do contrário, ganhará melancólicas boas-vindas ao clube dos principiantes que não passaram do princípio.
EXCELENTE