Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
No meio dos anos 80, sem campeonatos de fora pra assistir (um jogo do Italiano e olhe lá) e pouco de seus times na TV, sobrava a “Seleção Brasileira de Craques”. Um time de ex-profissionais que tinha as partidas mostradas no Show do Esporte, pela Bandeirantes. Rivellino, beirando os 40, era a estrela da turma. Cafuringa, o palhaço da turma. E o líder da turma? Luciano do Valle, que depois foi o treinador na Copa Pelé – em que o próprio (Pelé, não Luciano) jogou na partida inicial. Zico também participou em 1989, antes de ir ao Japão. Os requisitos, além de jogar bola, eram ter mais de trinta anos e estar aposentado. Hoje faltaria pé de obra e interesse. Quer ver ex-jogador em atividade? Assista o Brasileirão.
Dá pra montar um time de jogadores acima não de 30, mas de 33 anos. Só um? Uns três, no mínimo. De goleiro a centroavante. Boa parte deles é importada. Normalmente estavam na Ásia ou no novo refúgio, a Turquia. O futebol turco teve seus dias de respeito. Virou um grande bazar de velharias. Também é uma forma de o chapa-branca dizer que o jogador atua regularmente na Europa. Mas sem problemas se não estiver. O mercado de antiguidades não tem preconceitos. Basta enfiar o surrado “se jogar 30 % do que jogava, já será melhor que muita tralheira daqui”. Nada raro, isso é verdade! Mesmo sem jogar 30 % do que jogavam, não são poucos os que tomam conta de suas posições. No lugar de acharem isso um motivo de preocupação, os dirigentes e bajuladores chutam o pau da barraca. Esquece a porcentagem! Vai ser uma ótima e pronto. U-hu!!!
Conhecem a experiência do sapo na panela? Se um sapo cair direto na água quente, dá um pulo e se manda. Se a água for fervida gradativamente, fica parado e inchando até morrer. O futebol brasileiro, incluindo imprensa e torcida, é o sapo. Vê a qualidade cair, mas não de uma vez. Todo ano piora e todo mundo lá, estático e aplaudindo. E se um clube montar uma equipe titular com Fernando Prass, Léo Moura, Edu Dracena, Rever, Fábio Santos, Ralf, Hernanes, Jadson, Diego Tardelli, Fred e Vágner Love? Aposto minha coleção de MADs que empolgaria muita gente. Um time com média de idade de 35,5 anos. Isso porque não escalei Ricardo Oliveira no ataque, ou iria pra 36. Eu, Danilo Mironga, não veria esse colosso nem no G6. Mas, pasmem, duvido que fosse rebaixado e até poderia disputar vaga na Libertadores – numa daquela situações de virar G9 ou G10. U-hu? Não. Oh-oh…
É verdade que a fisiologia e a preparação física melhoraram em trinta anos. Hoje um atleta pode ir longe. Desde que se cuide e não se lesione seriamente. Mas quem disse que todos esses (e muito mais) são exemplos de preservação do corpo e “injury free”? Mesmo entre os que se enquadram, não é essa moleza. Passar anos na China já complica. Pouco se treina. Pouco se joga. Decretaram que Hernanes elevaria o São Paulo a outro patamar. Patapior – (toma, Gustavo Fernandes!). Uma coisa é chegar em 2017. Já estava na China, porém com resquícios de Juventus. Outra é chegar em 2019. Três meses se arrastando. Quando joga bem, a recuperação física é por conexão discada. O Grêmio vive o mesmo com Tardelli. O físico parece o de 20 anos. A engrenagem é que são elas. Ainda assim, Hernanes e Tardelli logo serão titulares de seus tricolores. Isso não é boa notícia.
Sinto pelos matusalênicos, mas alguma coisa está errada quando a exceção vira regra. Ou na regra, ou na exceção. Os clubes europeus acima de Turquia têm seus veteranos. Joaquim, do Betis, jogava com Denílson em 2001. Iniesta foi titular do Barcelona aos 34 anos. Mas, se fosse contratado por outro europeu em vez do Japão, não diriam “puede ser una buena!”. Ou, em inglês muito erudito, “it may be a good!”. Ou “dominique, nique nique” ou “eisbein und strudel” – não falo francês ou alemão, mas vocês entenderam o espírito da coisa. O sucesso de uns pode esconder o fracasso de outros. Se bem que, neste caso, só esconde pra quem prefere manter os olhos vendados e os ouvidos cheios de cera. Volta pra Band, Cafuringa!
Sensacional…sem tirar e nem por um ponto ou virgula