Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Acompanhando alguns comentários sobre minha coluna a respeito do Mundial de clubes, um deles extrapolou o grau de pós-verdade (ou seria pré-verdade?). Utilizou-se da surrada narrativa de que “os grandes europeus, sem os jogadores sul-americanos, seriam muito piores”. Bastava conhecer a escalação titular padrão do Bayern para perceber a troca de fatos por uma fantasia mal remendada. Vejamos:
Neuer – Europa
Pavard – Europa
Boateng – Europa
Alaba – Europa
Davis – América do Norte
Kimmich – Europa
Goretzka – Europa
Gnabry – Europa
Müller – Europa
Coman – Europa
Lewandowski – Europa
É verdade que a equipe alemã, quando campeã europeia, tinha um sul-americano – Thiago Alcântara. Porém, nascido na Itália, com nacionalidade espanhola e que, desde logo, optou pela seleção da Espanha. Logo, também seria “Europa” na relação acima. O cenário não é muito diferente em outros clubes. Ainda mais se considerarmos apenas os sul-americanos que se transferiram nos últimos cinco anos – portanto, excluindo Messi, Neymar, Casemiro, Suárez e mais alguns. Confiram as titularidades nos principais clubes europeus (não incluo Portugal porque a equiparação de direitos de cidadania gera um panorama distorcido):
Liverpool – nenhum
Manchester City – Gabriel Jesus (que não é titular absoluto)
Manchester United – nenhum
Chelsea – nenhum
Tottenham – Lo Celso (mesma situação de Jesus)
Real Madrid – nenhum (VJ e Rodrygo participam, mas não como titulares)
Barcelona – nenhum
Atlético de Madrid – Renan Lodi (também não absoluto)
Juventus – Arthur (idem)
PSG – nenhum
Pela relação, vê-se que o mercado sul-americano é cada vez menos utilizado. Notem também o que já venho comentando: a total irrelevância da Libertadores como vitrine – nenhum campeão ou finalista chamando a atenção. Os gestores e observadores sabem que o nível e o ritmo das competições sul-americanas são fracos, incluindo a qualidade de quem marca os destaques ofensivos. Foi flagrante e constrangedor como Juanfran (um lateral em fim de carreira que nunca teve na marcação o seu forte) controlou Bruno Henrique, Keno e Pepê, os três mais elogiados que atuam pela esquerda. Basta saber se posicionar, não errar o bote e pronto: o jogador “fora-de-série” vira comum. Não é por menos que o sul-coreano Son, do Tottenham, dá um banho em todos os nossos atacantes de lado – tirando Neymar. Só um delírio ufanista (“ah, não troco por um Cebolinha”) para concluir algo diverso.
A se seguir nesta toada, a tendência é piorar muito. O que acabará influindo no nível das seleções sul-americanas – que, caso não tenham notado, só tiveram dois finalistas em quatro Copas do Mundo, no século atual. Com poucos nomes desfrutando da evolução proporcionada pelo Velho Continente, os comentaristas mal poderão resmungar que “só tem europeu na seleção brasileira”. A camisa amarela seguirá vestida por muitos que atuam no exterior. Só que nos EUA, na China, no mundo árabe, etc… Europa, tão somente em clubes de segundo escalão. O mesmo vai ocorrer com argentinos, uruguaios e o resto da vizinhança. O futuro é sombrio, mas grande parte do público não quer saber. Prefere acreditar nas bobagens de Galvão e Casagrande, para quem o campeão brasileiro pode encarar qualquer um. São as cloroquinas mentais do dia-a-dia esportivo.
Para mudar esta previsão, técnicos estrangeiros só ajudarão se: 1 – forem contratados com muito critério; 2 – impuserem às categorias de base treinos que aperfeiçoem posicionamento, movimentação e repertório em todas as funções – incluindo goleiros. É pela raiz que se pode resgatar o que, um dia, foi o grande bazar para os clubes mais fortes e ricos do planeta. Por tabela, voltaríamos a ter times sul-americanos praticando um futebol que, mesmo sem se equiparar ao europeu, ao menos superaria o restante. Sem precisar de desculpas cada vez mais infantis para fracassos cada vez mais corriqueiros.
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