Créditos da imagem: GloboEsporte.com
Desde o momento da tragédia do último dia 29 tenho pensado em escrever. Escrever sobre qualquer coisa que demonstrasse quão triste e irreparável o dano de termos perdido uma equipe toda, pais, filhos, amigos, irmãos, campeões que buscavam seu sonho como todos nós buscamos diariamente ao nos levantarmos da cama e sairmos para trabalhar, estudar ou fazer o caminho em busca de nossos próprios objetivos.
Entretanto, nestes tempos de alta sensibilidade pela qual ficou marcada esta semana, uma palavra mal posta, mal encaixada, pode fazer um esbarrão se tornar um verdadeiro soco na cara, uma faísca virar um incêndio incontrolável, como bem exemplificam as palavras alçadas pelo vice-presidente do Sport Club Internacional, Fernando Carvalho.
Além disso, durante todo este tempo pude ler uma enxurrada de matérias tristes, lamentações e condolências, constâncias da que considero ser a semana mais triste desde que meus avôs me mostraram numa telinha de 24 polegadas este esporte chamado futebol. Logo, estive me preparando para escrever algo que fugisse desse ponto comum, dessas páginas de lágrimas e de todo o pesar que abrange a crônica esportiva há quase uma semana.
No entanto, eu não era capaz de encontrar uma rota de fuga. Talvez por inexperiência; talvez por entender que toda a lamentação era merecida e que não devia ser tirada de cena tão logo passasse esta semana; talvez, por não ser capaz nem de dar a mim mesmo explicações, quem dirá a outros.
Felizmente, nesse domingo consegui encontrar um fato que me trouxe de volta a alegria em escrever. Não sei em palavras descrever o que pude ver no Pacaembu nesse dia 4 de dezembro de 2016. Sinceramente, nem nos meus melhores sonhos conseguiria imaginar a união das torcidas organizadas dos quatro grandes clubes paulistas: Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo. Vivenciar tamanho gesto é encontrar no fundo do poço o elixir que nos permite a renovação, o ressurgimento, o passo adiante após o lamaçal no qual nos encontramos por todos estes dias.
Ao ver tais cenas, meu primeiro ato foi demorar a acreditar. Tal como demorei quando recebi a triste notícia da queda, mas, diferentemente de terça-feira, hoje me senti feliz e contemplado. Olhei várias vezes para a mesma imagem, buscando algo que a ratificasse, que olhasse de volta para mim e dissesse: “é isto mesmo que você está vendo, agora estamos todos juntos”. Posteriormente, comecei a me colocar na figura de todos os presentes neste ato, ao olharem para o lado e verem seus rivais juntos, de braços dados, por um causa maior, por uma nobreza que não parecíamos capazes de demonstrar, tamanho o exemplo dado pelos colombianos frente às inoportunidades de algumas figuras brasileiras. Será que se deram conta de que a vida está acima de tudo, que por baixo da camisa do rival está um pai de família, um filho, um irmão, um tio, um avô, uma mãe (!)?
Então comecei a me perguntar. 71 vidas se foram e não há nada que possamos fazer para trazê-las de volta. Quanto às famílias, apenas o tempo poderá consolá-las. Mas e quanto a nós? Semana que vem os jogos voltam, os gols reaparecem, nosso time de coração entra novamente em campo. E aí?
Por sorte, na mesma tela do Pacaembu encontrei minha própria resposta. Há uma nova chama acessa, uma chama chamada Chapecoense, uma esperança que se aquece e abriga os maiores sonhos daqueles que esperam por um futebol limpo, respeitoso e repleto de virtudes. Quanto a nós, cabe mantê-la, cultivá-la, deixá-la viva para que perdure por todo o sempre esta união e esta força, o melhor que pudemos tirar depois de toda a tempestade que passou por aqui nesta tão inconsolável semana.
Muito bom, Jorge Freitas! Confesso que odeio organizadas e não tenho nenhuma expectativa quanto a elas, mas jamais imaginei uma cena dessas! Vou adorar ser surpreendendo, e que o respeito à vida seja um legado dessa tragédia!