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Há um ditado que diz “que bem tão grande te fiz pra que me odeies tanto?”.
O ódio, no futebol, pode vir também por conta de um gol sofrido. E pelo ouvir dizer. Sendo que quem conta um conto aumenta um ponto.
Tive um diretor que não gostava de mim. E, a bem da verdade, meu anjo da guarda também não fazia ponto na mesma nuvem que o dele. E era gostoso saber – a secretária era minha amiga – a força que fazia para engolir os bons textos que eu escrevia. Nas primeiras conversas que tivemos, eu disse a ele que, nos jornais, primeiro lia as notícias de esportes e em seguida as demais. E ouvi, sem seguir seus conselhos, que devia inverter a ordem. Até porque, dava para ver que ele não tinha tempo de chegar às notícias sobre esportes.
Em 1972 ele mandou que eu fosse entrevistar Tostão, internado no Hospital Metodista, em Houston, depois do craque ter dito não à tentativa feita por telefone e ao repórter americano contratado. Indaguei o que devia fazer, caso Tostão se recusasse também a me receber e o chefe disse para que eu mostrasse como a cidade sentia o drama de um jogador tão importante. Qualquer coisa assim como um repórter americano perguntar a paulistas sobre a internação de um jogador de hóquei na Santa Casa. Peguei minha mala e fui.
A vida ensina assim. O chefe não precisa gostar do funcionário, basta respeitá-lo. Vale o inverso, claro. No futebol não é diferente.
Certa vez, um jogador reclamou com Telê o porquê de não ter sido avisado que sairia do time. Telê respondeu que também não o tinha avisado quando o escalou. Por tratar a todos com dignidade e sem baixar a cabeça, foi que ele mandou Macedo tirar as trancinhas; que agradeceu a oportunidade, quando Eduardo José Farah, então presidente da FPF, disse que iria processá-lo; e que pediu ao cartola maior do São Paulo para que deixasse o ônibus, informando que ali só viajavam jogadores e comissão técnica.
Respeito mútuo é bom para todos. Na Copa de 70, no México, Clodoaldo e Fontana pediram o carro emprestado para dar voltas com a namorada, em Guanajuato, e dei a eles a chave. Em 1976, com a Seleção em Seattle, Estados Unidos, um jogador me pediu a chave do quarto para um breve encontro e respondi não. A mesma resposta dei quando dois, em Berlim, 1973, pediram para que alugasse uns filminhos eróticos numa loja perto do hotel onde estavam. Em ambas as oportunidades os pedidos podiam ser considerados de “grande necessidade”, mas eles tinham outra forma de adquiri-los. (rs)
Na profissão, cedo aprendi a buscar a distância exata a manter com os jogadores, técnicos e dirigentes. Longe o suficiente para que não confundissem as coisas, e perto o bastante para que não me negassem as informações. Não é tão difícil, mas parece que muitos não conseguem.
Quando Vicente Matheus, no dia que contratou Rui Rei, chamou a mim e ao Milton José de Oliveira para tomar uma caipirinha no bar do clube, aceitamos. Corri na frente e paguei. Quando Matheus disse ao funcionário para botar na conta, ficou sabendo.
Quando Copeu brigava na Justiça Esportiva para provar que não havia assinado contrato com a Santista, escrevi reportagem provando que o documento era um guardado na gaveta pelo Palmeiras e, de certa forma, a reportagem ajudou a provar a tramoia. Copeu acabou indo para o Santos. Uma tarde, Sílvio Ruiz me contou que o ponta se escondia todas as vezes que me via, com receio de que eu pedisse alguns trocados. Não o culpei. Alguns deveriam agir assim.
Tive colegas que iam para a noite com boleiros. Não dizia nada, por não ser da minha conta, mas não aprovava. Não critico boleiro que curte a noite, toma as suas e beija muito. A vida é dele. Critico se, no campo, não jogar o que deve.
Neymar tem vivido intensamente, pelo que se lê. E, em termos de par, mostra-se competente. Se a intensidade vai acabar encurtando sua carreira, só o tempo dirá. Até lá, cada um que cuide de sua própria vida.
Faz um tempinho, uma colega acusou Rogério Ceni de forjar um convite para jogar na Inglaterra. Minutos depois ele já estava ligando para o programa dizendo que ia processá-la. A colega buscou dizer que apenas estava repetindo o que havia lido em algum lugar, mas Ceni mostrava-se irredutível. Nenhum dos que participavam do programa saiu ao auxílio da colega. E Ceni passou a ser indigesto. Cada vez mais, porque já havia falado duro com outros. Sempre é melhor falar pela frente, na lata, do que por trás. Mas poucos colegas pensam assim. Querem mandar.
Mito para os são-paulinos, com todos os méritos, Rogério Ceni é odiado pelos torcedores dos outros times. Pelos corintianos eu até entendo. Afinal, os são-paulinos não os deixam esquecer o centésimo gol da carreira do goleiro. Mas, por que os outros? Porque gostam das “pessoas humildes”, que dizem “sim senhor”? Estranho.
Em tempo: ontem, em um post que coloquei no Face, um amigo escreveu o que muitos também poderiam ter feito. Disse que odiava Ceni por causa do centésimo gol, que não conseguia esquecer. Pena que não me lembro agora o nome dele, para homenageá-lo.
concordo 100%!!!!!!!!!!! ninguem e indiferente ao m1to, um dos grandes personagens do futebol mundial nas ultimas decadas. parabens pela clareza!
Não sei as razões, mas as pessoas parecem gostar de quem diz “sim senhor” mesmo não concordando. Gostam de ser chamadas de doutor, sem serem. Odeiam quem faz considerações. Repórter parece querer madnar na vida das pessoas…
Adorei o texto, Mestre José Aquino! Eu confesso que a saída do Ceni tem um sabor agridoce para mim. Ao mesmo tempo que lamento muito pelo ídolo e personagem que é, e pelo fato de ser alguém que naturalmente busca uma originalidade, caminhos novos, pois tem a personalidade moldada para bancar isso. Mas alguns episódios me deixaram meio com o pé atrás, como a condenação do fair play do Rodrigo Caio, e jogar o Lucão aos leões.
Mas concordo totalmente que a maior parte das pessoas já odiava e torcia contra o Rogério antes de qualquer uma dessas coisas, simplesmente por ele ter a personalidade que tem, não aceitar cumprir o papel que querem dar para ele. E, convenhamos, a imprensa detesta “insubordinações”… 😉
A imprensa – nada na vida, além de Deus, é 100% – gsta de ser bajulada, pensa que é mesmo o tal quarto poder. A grande maioria não passa por testes simples da língua portuguesa, e adora ganhar um presentinho…O dia que um cartola, na mansão dele, me contou sobre o doping do Mário Sérgio, pedi para passar a informação usando o telefone dele. Não era pela rapidez – não existia celular – era para deixar gravado o número do telefone, caso me tivesse passando a perna..rrss
A verdade é que o Rogério é chato demais (perguntem pro Milton Leite, rsrs) e não mostrou nada como técnico! Aposto que o Dorival vai consertar as coisas rapidinho agora!!!!!!!! Como treinador não deu certo, aceitem que dói menos!!!!!!!!
Puxa, se o Milton Leite acha, então ele é mesmo muito chato…E, claro, o Milton deve ser uma pessoa adorável. Devo começar a ver assim.
Aceitamos sim, José Gomes Leal, assim como aceitamos que foi maior (não digo melhor) do que qualquer outro goleiro que brilhou com a camisa de um clube brasileiro. Nenhum outro goleiro foi tão importante para um clube de elite brasileiro quanto Ceni. Podem vomitar Leões, Gilmares, Didas e Marcos, que até podemos discutir se debaixo das traves foram melhores, mas maiores, nao.
Com algumas qualidades que os outros não tiveram
Com isso até concordo, mas que vi alguns goleiros melhores e mais decisivos do que ele, vi sim!!! Mas ele atuou em alto nível por muito tempo mesmo!!!!!!!
E aquele centésimo que não sai da cabeça…
O Marcos colocou o Ceni no banco na copa viu Ceni é muito é Bambi isso eu sei que ele é mais do que os outros
Não foi o Felipão, que era o técnico, quem escalou Marcos? Por sinal, um excelente goleiro. Goleiro é de confiança do técnico. Em 70, Zagallo preferiu Felix, regular, aos jovens Leão e Ado. Em 2015, Dunga manteve Júlio César, contundi nas costas, por não confiar nos outros. Felipão tinha trabalhado no Palmeiras e confiava no Marcos…
O Marcos foi titular na copa 2002 pq o técnico era o Felipão, tanto ele qto Dida ou Ceni poderiam ter sidm titulares naquele momento.
Agora, qdo o clube precisou do ídolo em um Mundial o retrospecto de cada um é conhecido por todos.
Perfeito
José Aquino, seu texto é estiloso, o que é cada vez mais raro em nossa imprensa. Escrevo do Rio, não torço por times de São Paulo – portanto, mantenho distanciamento das rivalidades locais. Pareceu-me que você atribui a pressão pela demissão do Ceni à raiva e à inveja que ele despertou desde quando jogava. Daí que me permito perguntar-lhe: ele, em sua passagem fugaz como técnico, fez um bom trabalho? Mostrou-se promissor? Ter sido ídolo no passado torna-o, automaticamente, apto a dirigir o time que o consagrou como jogador? Não acompanhei o trabalho do Ceni, portanto as perguntas não têm valoração implícita. (Conheço um são-paulino fanático que não aprovou nem a contratação do Ceni, tampouco seu desempenho como treinador)
Bruno, obrigado pelo elogio e por ler as coisas que escrevo. É uma honra. Não acho – e esqueça se assim pareceu – que Rogério Ceni tenha sido demitido por pressão dos torcedores adversários – algo tão impossível por aqui, quanto o Pão de Açúcar balançar. Ele saiu por covardia dos dirigentes, para dizer o mínimo. Quando escrevo sobre Ceni, chamando-o de Mito, como fazem os são-paulinos, ao me dirigir aos “outros”, aqueles que não torcem pelo Soberano, é para perturbar. Os manus – torcedores do Corinthians – sofrem e jamais esquecerão que ele marcou o centésimo gol da carreira contra o time deles. Fingem não sofrer, e aí a gente tem de estar sempre lembrando…rrsss Ceni não é, pelo menos ainda, um grande técnico – quantos existem por aqui? Faria um bom serviço se não ficassem com medo. Tem conhecimentos, cultura, é trabalhador e tem personalidade – o que muitas pessoas não aceitam (mágoas). O time é uma draga e vendem todo bom jogador, jovem, que surge. Para onde vai o dinheiro> Daria um livro negro. abss