Créditos da imagem: Reprodução Daily Mail
No início dos anos 1960, os maiores comediantes se uniram num filme chamado Deu a Louca no Mundo. No final dos anos 2010, o planeta está realmente ensandecido. Difícil é rir com isso. Especialmente quando o assunto é politicamente correto. Tudo o que fizer – ou não fizer – poderá ser usado contra você. Mesmo que seja uma brincadeira. Mesmo que você não se envolva porque tem mais o que fazer. Ou mesmo que você seja justamente aquele que supostamente querem defender. A coluna de hoje traz um exemplo de cada. Literalmente, “mais do mesmo”.
Nesta sexta-feira, Internazionale e Roma se enfrentarão. O jornal Corriere Dello Sport fez matéria sobre o esperado duelo entre atacante Lukaku e zagueiro Smalling. O probleminha foi a chamada da capa: Black Friday. O gosto foi discutível (como o das capas da idolatrada revista Charlie Hebdo), mas as reações passaram anos-luz do razoável. No embalo da histeria, os clubes anunciaram vetos a repórteres do jornal até o final do ano. Nada importou que o enfoque da reportagem era totalmente favorável aos jogadores. Ao contrário de outros incidentes, em que ser negro foi visto de forma nojentamente jocosa, o jornal falou do destaque dos dois em seus times. Mais: ressaltou a luta de ambos contra o racismo. Nem assim levou o benefício da dúvida. Criticar uma infelicidade não basta. É preciso transformá-la em monstruosidade. Eis a patrulha do “racismo culposo”.
Enquanto isso, a futebolista Megan Rapinoe aproveitou a Bola de Ouro para fazer o que faz tão bem quanto jogar bola: lacrar. Questionou por que Messi, Cristiano Ronaldo e Ibrahimovic não se envolvem no ativismo pelas mulheres. Sim, Cristiano Ronaldo. O que, ano passado, foi previamente executado nos tribunais da internet por um suposto estupro. Não consta que Megan Rapinoe tenha falado em favor dos direitos de um homem não ser condenado por antecipação. Usando a argumentação da própria, teria sido medo de contrariar suas bolhas? Claro que ela pode acreditar que o craque português cometeu um crime. Sem problemas. Mas qualquer ser humano deveria ficar constrangido para, depois, pedir apoio do pré-condenado. Megan não se constrange. Pelo contrário. Constrange publicamente uma pessoa a entrar numa luta ao lado de quem não o ajudou.
O caso número três ocorreu há duas semanas e não envolve futebol. O “vilão” foi o ginasta Diego Hypólito. Motivo: o medalhista é gay e atendeu a convite do presidente da República para evento. Pior (na cabeça dos detratores): posou para fotografias. Diego foi caçado nas redes sociais por ousar ter pensamentos próprios. Como o próprio atleta observou, não sofreu tal massacre nem ao abrir mão da privacidade sobre seu homossexualismo. Não será surpresa se, em algum momento, pedir desculpas a quem define como gays devem agir e pensar – sob pena de não serem considerados gays. Já aconteceu com outros. Exemplo: Martina Navratilova após falar contra atletas transgêneros no esporte feminino. Questão de sobrevivência. Desamparados, chegam ao ponto de trocar o livre arbítrio pela proteção imaginária de seus carcereiros ideológicos.
Não coincidentemente, a mídia silenciou ou aplaudiu. Não houve coluna contra quem atacou Diego Hypólito. As notícias foram dadas, porém pisando em ovos. Tampouco se fala no direito de os “convocados” por Rapinoe simplesmente acharem que os jogadores de futebol merecem ganhar mais. Outro estágio de evolução. Outro impacto econômico. Outra remuneração. Quanto ao Corriere, o apedrejamento lembra cena de A Vida de Brian, com comadres barbadas prontas para matar o homem que apenas disse “Jeová”. Vendo que levaria pedrada de qualquer jeito, o suposto blasfemo sapateia e canta “Jeová, Jeová!”. Talvez o jornal deva repetir “Black Friday” a semana inteira. Não teria mais o que perder.