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A grande novela da pré-temporada tem o meia do Fluminense como tímido protagonista. No presente momento, a Justiça permite que escolha seu destino. Contudo, é uma permissão precária que já gerou dramas mexicanos em outras produções. Aqui vão breves considerações a respeito da perspectiva judicial e também técnica sobre o alvo de cobiça de tantos clubes.
1 – é fato que os interessados devem se precaver quanto a negociações apenas com o atleta. Mas não pelo corporativismo lamentavelmente sugerido por certos jornalistas (que vivem da boa relação com clubes). A razão é jurídica. Tanto no caso de Scarpa quanto o de Zeca, a liminar foi obtida após negativa do juiz competente. Isto sugere decisões potencialmente conflitantes que, mais adiante, podem tirar condições de jogo do atleta e forçar acordos. O exemplo mais claro foi o de Oscar, que perdeu em segunda instância e gerou situação em que o Internacional se viu forçado a fazer ajuste com o São Paulo. Na situação de Scarpa, o indeferimento da juíza indica possível sentença desfavorável em primeira instância, o que o deixaria em lençóis ainda piores. Sendo assim, para evitar futuros aborrecimentos, é recomendável não excluir o Fluminense das tratativas.
2 – mas ele tem direito? Não posso falar sem conhecer o caso. É sabido que a Lei Pelé exige três meses de atrasos em salários. Porém, a rigor esta exigência é constitucionalmente discutível. Foi prevista e aceita com base numa noção equivocada, segundo a qual um mês de salário de jogador de futebol é suficiente para pagar todas as contas e sobrar para o ano todo. Isso está longe de ser a realidade da imensa maioria dos atletas profissionais, sendo que a Lei não pode estabelecer norma com base em exceções. Tampouco pode comportar constitucionalidade para uns e inconstitucionalidade para outros. Isso não seria interpretação, mas sim fazer média. Diferente é a situação quanto a direitos de imagem atrasados, porque o jogador aceita firmar a separação de ganhos. Não há inconstitucionalidade, portanto, quando se nega pedido de liminar baseado nesta verba, que não é salarial por anuência do atleta.
3 – questão jurídica à parte, Scarpa chegou à idade em que o próximo contrato fatalmente definirá os seguintes. Está com 24 anos. Se resolver atuar mais tempo no Brasil, diminuem significativamente as chances de jogar num clube relevante da Europa. Isso não é apenas questão financeira e de status. É de evolução técnica e tática. Com biotipo e velocidade mais adequadas a um armador, jogando aqui ele não terá esta oportunidade. Em todos os times que o cogitam, seguirá sendo meia-atacante aberto pela direita. Mesmo nesta posição, jogando na Europa (desde que num time que proponha o jogo) poderá se tornar mais completo em termos de movimentação, presença na área e ritmo. Voltou-se a falar no interesse do Benfica. Apesar da temporada melancólica, é um clube que toma a iniciativa dos jogos e que poderia ser um pontapé inicial em sua trajetória. Não seria a primeira vez que o futebol luso teria este papel.
4 – mas Scarpa é bom mesmo? Não mascarou, não? Sim, ele é muito bom. Tem visão de jogo, passe muito acima da média e ótimo chute de longa distância. Melhorou ainda mais depois que ganhou consistência física. Sua irregularidade em 2017 se deveu a três fatores: 1 – jogar como meia-atacante, sendo que armar mais de trás se encaixa melhor em suas virtudes; 2 – a natural retomada física após longa lesão, que também afeta a parte técnica porque o corpo não responde ao cérebro como normalmente fazia; 3 – o Fluminense foi um desastre em todos os quesitos e só não caiu porque a disputa pela série B foi acirrada. Difícil manter a concentração sob tais circunstâncias. Por isso mesmo, é surreal ler e ouvir que ele precisa ser “grato” ao Fluminense, como se este fosse uma entidade filantrópica. É uma relação profissional em que o inadimplente, com ou sem direito de rescisão, é o empregador.
É importante um desfecho positivo para o atleta, um dos poucos acima da média que atuam no Brasil. Seria triste ver seu currículo se resumir a uma eventual conquista no país, seguida de uma passagem num centro inexpressivo e o retorno como mais um que poderia ter sido, mas não foi. Sua carreira não termina agora, mas este mês de janeiro provavelmente não sairá de sua lembrança – boa, má ou péssima.
Eu achei sim uma sacanagem o que ele fez com o Fluminense!!!! Ainda mais porque todo mundo sabia que o time tava mal das pernas e já ia vender ele, foi bem oportunista!!!!!!!!!!!!!!!!
Foi ele que deixou o clube mal das pernas? Quem seria o oportunista da História? Ele, por exigir direitos legítimos, ou o clube mal administrado que ia usá-lo como salvação da lavoura?
Gustavo Fernandes o clube tá errado, lógico, mas acho que não custava ele esperar a definição da negociação e já cobrar o que deviam pra ele como parte do negócio, ao invés de aproveitar a brecha e já sair detonando tudo!!!!!! Achei oportunista!!!!!!!!!!!!