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Sinceramente, vendo a final da Champions League na semana passada e este início de Brasileirão, cada vez mais acho que os europeus têm motivos para nos invejar.
Não, não estou sendo “pacheco”. Temos que nos inspirar na organização dos campeonatos, profissionalismo dos clubes e parte tática. Mas desfrutamos de coisas aqui que eles não sabem mais como são há tempos.
Nas últimas vinte edições da Champions League, portanto todas já após a Lei Bosman (que extinguiu o passe e permitiu que os jogadores europeus circulassem livremente nos clubes do continente independentemente do país de origem), somente nove clubes (Real Madrid, Manchester United, Bayern de Munique, Milan, Porto, Liverpool, Barcelona, Internazionale, Chelsea) foram campeões. Desses, a maioria – cinco (Real Madrid, Manchester United, Bayern de Munique, Milan e Barcelona) – venceram mais de uma vez. O Barcelona venceu quatro. O Real Madrid venceu seis. O Chelsea foi o único campeão inédito no período.
Ou seja, nos últimos vinte anos, a “orelhuda” ficou com Real Madrid ou Barcelona em 50% das vezes; nos últimos dez, em 60%; nos últimos cinco, 80%; e nos últimos quatro, 100%.
Eles ganharam seis das últimas nove edições, enquanto “a rapa” ficou com apenas três. E essa concentração se repete nos campeonatos nacionais Europa adentro.
Só para ilustrar, nas últimas vinte edições da Libertadores, foram 16 campeões diferentes (Cruzeiro, Vasco, Palmeiras, Boca, Olimpia, Once Caldas, São Paulo, Inter, LDU, Estudiantes, Santos, Corinthians, Atlético, San Lorenzo, River e Atlético Nacional), e apenas Inter (duas vezes) e Boca (quatro) repetiram a façanha. Foram, nada mais nada menos, do que oito campeões inéditos.
Mesmo se compararmos o Brasileirão – que é “apenas” um campeonato nacional, logo, deveria ter muito menos postulantes ao título – nas últimas vinte edições foram nove campeões diferentes (Vasco, Corinthians, Atlético Paranaense, Santos, Cruzeiro, São Paulo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras) – mesma quantidade da Champions. Se considerarmos que são apenas vinte participantes (contra 32 da Champions) e em pontos corridos (menos aberta a surpresas, ao contrário da Champions, que tem a fase decisiva em mata-mata), a coisa fica mais surreal ainda.
Palmeiras, Flamengo e Atlético Mineiro eram unanimemente apontados como os favoritos ao título do Brasileirão 2017 e, até o momento, ainda não se encontraram na disputa. Enquanto isso, por lá vemos que até os principais rivais da dupla espanhola contam com seus “refugos”, como a Juventus tem Daniel Alves, Khedira e Higuaín, e o Bayern tinha Xabi Alonso, Thiago Alcántara e Robben.
Entre 2005-2008, imaginou-se aqui que o São Paulo fosse inaugurar uma era de domínio sem fim, que logo acabou. Depois, com marketing em dia, título mundial e estádio novo, parecia que o Corinthians desgarraria – o que não aconteceu. Hoje é comum que sugiram que o novo-rico Palmeiras ou o exemplar Flamengo possam ter uma hegemonia, mas os resultados não vêm permitindo nem um começo.
Qual o entusiasmo de um madridista ao ver seu time ganhar o mesmo campeonato pela terceira vez em quatro anos? E a “justiça histórica” de um juventino que nesse período viu seu time perder três finais para a dupla, sem ganhar nenhuma? E do torcedor do Atlético de Madrid, eliminado das últimas quatro Champions pelo arquirrival Real Madrid, com direito a duas finais? E do bávaro torcedor do Bayern, que viu sua poderosa equipe ser eliminada pela dupla em três das últimas quatro edições? Isso para ficar nos que hoje são poderosos, porque gigantes como Milan e Manchester United simplesmente desapareceram, enquanto outros como Ajax e Benfica já nem sequer sonham mais com conquistas do tipo, em meio à lavanderia de dinheiro que faz qualquer PSG, Chelsea ou Manchester City superá-los.
Enfim, eu gostaria de ter a organização de lá. Mas prezo muito a competitividade, imprevisibilidade e emoção daqui, e não gostaria de viver nessa mesmice de lá nem pelo mais belo hino de torneio ou fãs na Ásia.
Polêmico e verdadeiro! O futebol europeu tá uma chatice cada vez maior!!!
José, achei polêmico quando li a manchete, mas depois que li a coluna, ela fez muito sentido, não acha?! 😉
Total sentido! Se para melhorar o nível técnico é necessário ter dois ou três times ganhando tudo e os outros sendo meros coadjuvantes, acho que é um preço muito alto a se pagar!!!
Rissier Del Giudice
Adorei o texto! “Enfim, eu gostaria de ter a organização de lá. Mas prezo muito a competitividade, imprevisibilidade e emoção daqui, e não gostaria de viver nessa mesmice de lá nem pelo mais belo hino de torneio ou fãs na Ásia”.
Ele tem sua razão, porém eu gostaria de ver jogos de qualidade que lá tem quase sempre e aqui são raros os bons jogos e de qualidade bem abaixo
Texto perfeito… Concordo em número, gênero e grau… Sou apaixonado pela imprevisível e desorganizada Libertadores da América
EXCEL<ENTE TEXTO. PARABÉNS.