Créditos da imagem: FoxDeportes.com
Nesse dia 16 de maio de 2015, meu tempo encontrava-se exíguo diante de alguns compromissos e ocorrências. Entretanto, fui obrigado a escrever algumas palavras para registrar um momento ímpar de uma história, eu diria inefável. Obrigado à lenda chamada Steven Gerrard. Não sou torcedor do Liverpool, contudo, sou essencialmente um apaixonado por futebol e me comovo com cenas cada vez mais raras que, aos jovens, parecem insólitas aqui no Brasil. Histórias que anos atrás eram recorrentes e atualmente despertam um sentimento nostálgico e remetem-nos a grandes ídolos como Pelé, Nilton Santos, Ademir da Guia, Roberto Dinamite, dentre muitos outros. É verdade que acompanhamos ainda os capítulos finais da bela trajetória de Rogério Ceni pelo São Paulo; mas um só é muito pouco. Resta-nos contemplar o que vemos no continente europeu.
Vamos, então, focar no verdadeiro motivo desse singelo texto: Steven Gerrard, um garoto então com 8,9 anos quando chegou ao Liverpool e que trilhou um caminho repleto de glórias até seus 34 anos de vida, sendo quase 17 dedicados à carreira como profissional. E nesse tempo abocanhou 11 títulos pelos Reds, faltando apenas a sonhada conquista da Liga Inglesa. E esteve bem perto disso, ano passado, quando o time praticava um futebol vistoso e impecável. O único detalhe nessa passagem que ele queria poder voltar no tempo e modificar. E quiçá, poderia ter sido diferente se não fosse um erro de passe na reta derradeira. Nada que manchasse aquilo construído com muito empenho, dedicação e, sobretudo, liderança. Capaz de convalescer seus companheiros no intervalo de uma final de Champions League, com a parcial de 3×0 para os adversários, pedindo silêncio. Foi assim que puderam escutar a precoce ou açodada comemoração no vestiário do Milan naquela ocasião. E voltaram para o campo com apenas uma convicção: a peleja não estava definida. Estavam certos. Momento épico no futebol. E o capitão, dono da camisa 8, não limitou-se a erguer a taça de campeão. Levou também a honraria de melhor em campo. Simplesmente, espetacular!
Em sua partida de número 710 vestindo o uniforme vermelho, pisou no gramado com um sentimento estranho. Recebido por um corredor promovido pelos dois times e aclamado por uma torcida apaixonada que bradava seu nome, estava prestes a fazer sua última partida em Anfield Road antes de migrar ao futebol norte americano. Suas três filhas o acompanharam desde o túnel de acesso ao campo e observaram com espanto o belo mosaico em homenagem ao pai e as inúmeras bandeiras ou cartazes de agradecimento. Concomitante a isso, o hino marcante foi entoado com vigor pelos fãs presentes. O suficiente para eu me emocionar. Contive as lágrimas. Pelos eriçados. Era de arrepiar. Olha que eu me localizava a milhares de quilômetros de distância do estádio. Todavia, mesmo pela TV, pude sentir o que se sucedia naqueles breves minutos. O jogo em si parecia não importar. O Liverpool permanecia com chances de ir ao maior torneio de clubes do mundo. Sim, mas todos entenderam que o centro do espetáculo era a despedida, ou melhor, um até logo do maior ídolo do clube.
A partir daí eram 90 minutos para tentar deixar sua marca mais uma vez. Foram 185 tentos. Recordo-me do penúltimo jogo no mesmo local. Já na segunda etapa, Stevie teve a oportunidade clara e manifesta de marcar o que poderia ser seu último gol diante de sua torcida com a bola na marca da cal. Desperdiçou. Porém, eis que quando tudo parecia se encaminhar para um empate… Pausemos. Era uma cobrança de escanteio a favor do time da casa. Normalmente, Gerrard é o dono das bolas paradas. Eis que, por ventura, decidiu dessa vez ir para a área. Resultado previsível. Voou para testar e balançar as redes do Queens Park Rangers. Baita redenção. Avancemos, agora, até a rodada seguinte (36ª), cujo adversário era o campeão da competição em seus domínios. Este era o favorito, fatalmente. Contudo, nosso personagem contrariou a lógica e fez um gol que assegurou o empate. Como é de se esperar, a torcida rival é propensa a vaiá-lo, certo? Errado. Ao ser substituído, o estádio todo o aplaudiu de pé. É aí que enxergamos e compreendemos melhor o que esse cara significa, não apenas pro Liverpool, mas para o futebol, para o mundo. O mundo quer vê-lo. No jogo de hoje, por exemplo, houve quem saísse do Kuwait até a Inglaterra para testemunhar esse marco. Como posso ter certeza disso? As imagens da emissora flagraram um cartaz que confirmava. Ademais, alguns ingressos chegaram a beirar a bagatela de 7 mil reais. E poderiam estipular qualquer valor. O momento era impagável.
O resultado, realmente, não corroborou com a linda festa. O Crystal Palace, até então mero convidado, decidiu estragar os últimos instantes do craque aplicando, de virada, 3×1. O apito final não significou a evasão do público. Faltavam as palavras pelas quais aguardaram ansiosamente. E como não poderia ser diferente, Gerrard agradeceu e encheu de elogios aquela multidão, o patrimônio mais valioso de um clube. Frisou que teve seu sonho realizado. Mais uma vez deu provas de amor. E foi ovacionado, em meio às lágrimas que ameaçavam escorrer. Terá ainda mais uma oportunidade de viver a experiência de jogar pelo Liverpool, ao lado de seus companheiros, aqueles que ele carregará em seu coração até a morte, conforme mencionou. Uma pena que longe de sua massa rubra. A saudade já acomete a todos. E não vou encerrar ou botar um ponto final. Afinal, Gerrard, onde estiver, YOU’LL NEVER WALK ALONE…
Nunca achei Gerrard craque, mas teve fases muito boas, era um jogador moderno, típico do futebol jogado na Inglaterra.
Além de tudo, era um líder, um capitão, muito identificado. História muito bonita e a despedida do Anfield, sua casa durante tanto tempo, foi de arrepiar.
Que sirva de exemplo pra essa garotada que dá pra ser ídolo, bem sucedido, plenamente realizado, jogando no time de coração.
Isso é um exemplo de como se escreve sobre a maior paixão do brasileiro!!! Parabéns a quem escreveu!!!