Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Em sua última coluna para o site, o colaborador Danilo Mironga chamou Raí de “Cigano Igor dos novos dirigentes”. Eis que o personagem mítico da teledramaturgia nacional resolve ir atrás de Dara. Ou melhor, de Daniel Alves. Em meio à polêmica sobre o atleta em batucada, deixou a imprensa amiga vazar que “telefonará” para ele. Motivo: dar um toque para que evite aglomerações sem máscara. Em futebol, isso se chama “dar carrinho na lateral”, o velho expediente para mostrar dedicação ao torcedor trouxa. Raí não é pai de Daniel Alves. Ou o jogador desobedeceu ao clube, ou cada um na sua.
É evidente que, se não deu nenhuma determinação aos atletas sobre prevenções, o São Paulo deveria ter dado. Todos os clubes deveriam, ainda mais disputando uma competição internacional – como se as viagens interestaduais já não justificassem. Aí que está: caso exista esta determinação, não cabe ao dirigente telefonar ao jogador. Deve, pois sim, instaurar procedimento interno para apurar falta disciplinar e, uma vez confirmada, aplicar a penalidade cabível. Sendo assim, o telefonema só comporta duas interpretações: 1 – o SPFC se omitiu ao não regulamentar assunto de suma importância coletiva; 2 – o SPFC regulamentou, mas é bem diferente aplicar uma punição quando o atleta é mais que um jogador. É, no caso, também um credor do próprio clube. O São Paulo não conseguiu reunir os prometidos interessados em pagar parte dos vencimentos de Daniel. Tampouco vai conseguir.
Para piorar, o diretor canastrão ajuda a transformar em incêndio o que era apenas faísca de rede social. Onde, aliás, a questão do isolamento foi o de – muito – menos. O que os detetives do Twitter querem “provar” é que, se um jogador pode batucar, também pode disputar uma partida de futebol. Não sabia que o tantã (o polêmico instrumento) podia dar topadas e bordoadas em cima do braço lesionado. Comparar o risco físico de uma batucada com o do esporte de contato é, sem dúvida, mais uma demonstração de como a internet virou uma fábrica de tonterias. Sem contar que isso faria de Daniel Alves o pior gazeteiro do mundo, pois foi ele mesmo que publicou a imagem. Pior até do que Nenê, que perdeu um treino em 2018, às vésperas de um clássico importante, para ser padrinho de casamento na Europa. O Cigano Igor, adivinhem, deixou passar.
A relação profissional entre Raí e Daniel Alves já nasceu como remendão. Massacrado por viagem particular a Paris (com direito a Roland Garros), o gestor aproveitou a contratação para atiçar seu bloco chapa-branca. Tudo não teria passado de operação secreta para reforçar a equipe. Daniel foi sua sobrevida, mesmo que muita coisa não tenha sido bem assim. Resta saber se o elenco ficou igualmente feliz. Afinal, mesmo sem receber todo o combinado, parte da grana está indo à conta bancária do ex-Barcelona. Enquanto isso, o resto convive com atrasos mais substanciais. Neste contexto, as coisas podiam ser piores. Os jogadores poderiam fazer como Vampeta e fingir que estão jogando. Mas não. Isso que estamos vendo não é fingimento. É o que realmente podem fazer. Claro que, assim como só dá uma ligadinha a Daniel, Raí tampouco cobra o time. Com que moral?
Faltam poucos meses de contrato e nenhum dos “oposicionistas”, Casares ou Natel, renovará o vínculo com Raí. Tal como o cigano, este deve montar em seu cavalo e sair sem destino. Pelo menos no futebol fora das quatro linhas. Já tentou ser comentarista, colunista e dirigente. Espero que nos poupe do Raí treinador. Pode ser relações públicas e olhe lá. Com a condição de não abrir a boca. Qualquer coisa, faz cara de conteúdo e sai de fininho. Aliás, por que esperar até dezembro?