Créditos da imagem: Giuliano Gomes/ Agência PR PRESS
Tá com pena? Leva…
Já falei sobre desonestidade intelectual em argumentações. Sempre foi um recurso da imprensa para cortar pela raiz, sem análise, correntes opinativas contrárias. Como quando moradores de um bairro paulistano promoveram manifestação contra possíveis transtornos de uma futura estação de metrô. O que fez uma matéria? Pegou uma declaração infeliz de uma senhora (a da “gente diferenciada”) e matou o movimento. Da mesma maneira que, na medida em que cresciam protestos contra o governo Dilma, procurava-se centrar na meia dúzia de manifestantes que pediam intervenção militar. No esporte, o expediente sonso também dá as caras para criar injustiça onde há crítica embasada. O protegido da vez: Rodrigo Caio.
Na semana que passou, um quadro de programa da ESPN apontou que o zagueiro são-paulino cai em desgraça por suas boas intenções. Novamente, entre outros episódios, procura-se dizer que o episódio do Fair Play é causa da ira de são-paulinos. Entra-se na cabeça da torcida para dizer que o motivo é ESSE. Só que nem todos entram na brincadeira. Gian Oddi não excluiu o fator, mas destacou que provavelmente não haveria a mesma reação se o atleta estivesse com moral. Lembrou que De Rossi acusou irregularidade no próprio gol, pela Roma, e ninguém o criticou. Ainda assim, seguiram falando como se a turba estivesse certa por acidente. Pode ser a verdade em relação a alguns ou até muitos são-paulinos, porque burrice é o que não falta por aí. Mas longe de ser uma picuinha unânime. Como se não houvesse os muitos que o criticam pelo que merece – seu mau futebol.
Poderia citar vários defeitos nas participações do atleta, mas até aí o futebol doméstico está repleto dos mesmos defeitos em jogadores usualmente elogiados – incluindo, por vezes, o próprio Rodrigo. Vou me concentrar no que assola o jogador e já foi a ruína de outras revelações. Refiro-me ao posicionamento. Parece coisa elementar, mas seria tão simples se fosse tão simples. É aquela colocação que dificulta o lançamento nas costas, complica a vida do cabeceador e não deixa o atacante veloz ficar confortável. Sua falta é disfarçada no início da carreira de jovens defensores, que a compensam com explosão. O zagueiro Alex Silva chegou a ser chamado de “monstro” por salvadas heroicas que, talvez, não seriam espetaculares se já estivesse bem colocado, como o então colega Miranda – que, por sinal, fez muito beque meia-boca parecer melhor do que era.
O problema é que o tempo passa. O atleta envelhece, acumula lesões e não tem mais aquela agilidade. Foi isso, e não o Twitter, que fez Alex Silva e outros despencarem. Não está sendo diferente com Rodrigo Caio, especialmente pela combinação com outros fatores desfavoráveis. Ele não é tão alto, nem tão forte e nem tão rápido assim. Falhas de posicionamento são fatais para ele. Não apenas na zaga. Há torcedores que, volta e meia, acreditam que Rodrigo Caio seria um bom volante. Para começar, são desmemoriados. Rodrigo Caio, zagueiro na base, jogou mais de um ano como volante e só ganhou vaga de titular na zaga. Outras tentativas, como a de Rogério Ceni no início de 2017, foram desastrosas e logo abortadas. Um volante mal colocado é um portão principal aberto para o meio-campo adversário tomar conta da partida. Seja na volância ou na “zagância”, ele tem séria lacuna no quesito.
Nestas horas resta culpar os técnicos ou o trabalho de base pela deficiência. De fato, é algo que não parece ser bem feito. Tanto que os zagueiros que surgem geralmente são do perfil “monstro”. Não por acaso, logo se lesionam – ao contrário de Miranda, raramente contundido até os 30 anos. Existe também um problema de transição. Antes zagueiro passava a maior parte do jogo nas imediações da sua área. Hoje, se atuar por um time com iniciativa de jogo, precisa avançar para não deixar um buraco entre defesa e meio-campo. Rodrigo não foi preparado a contento e pegou esta mudança ingrata, mas isso se agrava por não ter, naturalmente, a qualidade. Em diversas peladas, até no condomínio, tem gente que não treinou com profissionais e nem fez escolinha, mas sabe exatamente onde ficar. É um dom que ele não tem. Treinamentos atenuariam, mas dificilmente excluiriam o problema.
No mesmo programa, foi usado outro recurso argumentativo não propriamente desonesto, mas desavisado. Usou-se o interesse do Milan como prova de que Rodrigo Caio não é mau jogador. Ora, o interesse do SPFC em diversos pernas-de-pau não os tornou bons. Hoje o clube italiano passa por decadência similar, guardadas as proporções financeiras. Não é prioridade de atletas de ponta – salvo após os trinta anos. Antes diferenciado, até ser destruído pela soberba e dirigentes jurássicos (lembra algum clube do Jardim Leonor?), o Milan é obrigado a apostar no bloco C de alternativas. Aqueles que os comentaristas e até a trupe chapa-branca, na hora de analisar, sobem no muro dizendo ser uma “incógnita”. O toque de otimismo seria Leonardo e a eterna lembrança de ter nomeado Kaká. Como quando Milton Cruz era lembrado por indicar Miranda, mesmo sendo seguido por uma bomba atrás da outra.
Enfim, seria bem mais respeitoso se, no lugar de começar um debate apontando motivações infelizes, os jornalistas deixassem a polêmica vazia para irem direto ao ponto. Inclusive lembrando que, semanas antes do fatídico Fair Play, Rodrigo Caio já se solidarizara com o Corinthians, deixando o adversário livre para empatar um clássico. Seu grande momento da carreira foi na seleção olímpica, arrebentando contra seleções insípidas sub-23. Para não ser injusto, na mesma época foi importante para o SPFC escapar do rebaixamento. Foi quando pareceu que finalmente ia engrenar. Só que não. Uma pena para ele, mas não se pode deixar de criticar por pena. Muito menos distorcer a crítica.
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Sinceramente, Gustavo, não deveria colocar sua opinião pessoal num artigo (como formador de opinião), deveria escrever sem falar que o Rodrigo Caio não sabe jogar (tenho certeza de que você não amarra seus cadarços), triste reportagem, suja o nome de um profissional que já mostrou ser decente, homem e transparente, o que você certamente não fez. que pobreza essa sua opinião.
Como formador de opinião, não posso colocar minha opinião pessoal? Na boa… Quer me ofender? Xingue de uma vez. Mostre o quanto é baixo sem rodeios. Não pose de esclarecido pra me mandar calar a boca. Não envergonhe seus cabelos brancos. Dos meus, cuido eu. Passar bem.