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Perigo – pulga feroz
Messi não é mais aquele. Não com os pés, mas com boca e dedos. Já não lidera apenas pelo exemplo. Fala em nome dos jogadores. Nem sempre com a precisão dos passes, dribles e chutes, como as declarações da Copa América mostraram. Curiosamente, os argentinos adoraram. A “maradonização” era o toque dramático e populista que muitos torcedores passionais cobravam. Anteontem foi a vez de o Barcelona estremecer. Após declarações do gerente Abidal (ex-companheiro no melhor Barça da História), insinuando corpo mole de alguns para derrubar Valverde, Messi foi ao Twitter e exigiu que desse nome aos bois. Está “farto”, segundo o jornal Sport. Farto o suficiente para sair?
De certa forma, Messi é responsável pela continuidade de certos problemas do clube, justamente porque seu futebol os disfarça por grande parte da temporada. Ano passado, foi assim até a tragédia de Anfield. No Camp Nou, seus gols esconderam o domínio inglês. As falhas do elenco e de Valverde se escancarariam uma semana mais tarde. Desapontado e vendo os anos passarem, Messi provavelmente esperava correções para 2019/2020. Longe disso. O Barcelona se perde na própria incompetência provinciana. Além da demora para demitir Valverde, é um desastre digno de clube brasileiro na gestão de idas e vindas. Para se ter uma ideia, com a nova lesão de Dembélé*, o elenco chega a fevereiro apenas com três atacantes disponíveis – sendo um deles novato. Não consegue sequer compor o banco de reservas, ao menos sem jogadores ainda verdes do time B.
Sem sinais de melhoras administrativas para a temporada seguinte (talvez a derradeira em seu nível atual), temem os catalães que Messi gaste seus últimos cartuchos em outro lugar. Seu contrato se encerra ano que vem, mas outro clube poderia buscar pagamento proporcional da multa. Ademais, volta e meia cláusulas especiais são reveladas – como a chance de sair da Europa sem pagar nada. Por mais que tenha uma vida profissional dedicada ao clube que custeou seu tratamento para crescer, ele já teve paciência demais. A torcida percebe isso. Caso decida ir embora, serão poucos os que o recriminarão. A ira seria dedicada a quem provocou o desencanto. Quanto aos simpatizantes mundiais do clube, provavelmente iriam embora com o craque. Especialmente se o destino envolver Guardiola, técnico que potencializou seu talento – em vez de apenas explorá-lo.
Pode-se dizer que uma eventual saída permitiria ao Barcelona cuidar do inevitável – a vida pós-Messi. Inclusive, podendo retomar a ideia de Neymar como seu sucessor – com todas as tormentas iniciais com a volta do desertor arrependido. Mas a troca bem sucedida de protagonistas apenas deixaria as coisas como já estão – na melhor das hipóteses. Como já escrevi outras vezes, o “mais que um clube” virou mais do mesmo. Todo modelo de gestão precisa de pessoas eficientes. Tudo o que não tem no corpo diretivo atual. Incluindo o infeliz Abidal, outra tentativa de transformar ex-jogador em dirigente, sob a premissa de melhorar a relação entre vestiário e direção. Dependendo do que fizer, a sensação de trairagem só aumenta – como agora. O próximo, fatal e futuramente, será Piqué com seus negócios múltiplos. O que fará quando a Copa Davis coincidir com El Clássico?
Não será surpresa se uma vitória na Copa do Rei, em Bilbao, jogar as turbulências para debaixo do tapete. Mas duvido que baste para aplacar a desconfiança de Messi. Deixar o Barcelona deve ser a medida drástica que não quer tomar. Contudo, não se pode ter tudo o que se quer. Escolher a permanência pode significar, desde logo, que a “orelhuda” de 2014/2015 foi sua última. Não é antiprofissional seguir onde se sente bem. Mas, para um jogador como ele se sentir bem, é preciso acreditar que pode ser campeão de tudo. Algo que nem seu entorno deve endossar, a esta altura das confusões. Pessoalmente, como fã, adoraria vê-lo pelo menos um ano na Premier League. Quem sabe o improvável aconteça em julho.
*aquele que o presidente declarou, no começo de 2019, ser muito melhor que Neymar…
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