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Sanduba mais do mesmo no parque do porco doido
Numa das tantas brincadeiras que circulam pela rede, existe a das propagandas realmente sinceras, como a do Burger King dizendo “não adianta nada dizer que nosso sanduíche é melhor se você sempre acaba comendo no McDonald’s. Obrigado por nada!”. Mas a melhor foi a do Subway: “pode botar um monte de ingrediente. No fim das contas sempre fica mais ou menos do mesmo gosto!”. Com a lanchonete pode até não ser verdade (para alguns). Já se o assunto for o técnico Cuca, não tem como discordar. Sejam quais forem os atletas escalados, seja qual for o esquema adotado, o futebol será sempre o mesmo. Ganhando ou perdendo, sendo campeão ou eliminado nas oitavas, o torcedor pode estar certo de que verá um jogo de muita martelada, muito nervosismo e, tirando umas cinco partidas por ano, uma sensação desagradável para quem assiste.
Os leitores do site já devem saber que sou são-paulino. Portanto, vi de perto a equipe do primeiro semestre de 2004, eliminada nas semifinais da Libertadores. Muitos jornalistas e até torcedores instituíram que o treinador foi o artífice original do time que ganharia Paulistão, Libertadores e Mundial no ano seguinte. É uma daquelas assertivas que só seduzem os desavisados. Diferente do jogo intenso, mas seguro e organizado aplicado por Leão e – principalmente – Autuori, o tricolor de 2004 era o que veríamos em Botafogo, Fluminense, Atlético e Palmeiras. O treinador busca sempre o jogo extremamente vertical e com pressa. Por algum tempo, um determinado jogador até consegue quebrar este ritmo (como Ronaldinho no Galo e Moisés no Palmeiras), mas não demora para o próprio atleta capitular aos 90 minutos de abafas.
Na última eliminação, depois de um bom início de segundo tempo por conta de Moisés, nem o gol serviu para continuarem rodando a bola com calma. O meio-campista desapareceu porque não o procuraram mais, antes até de se lesionar de novo. No caso dos atleticanos, basta usar a memória e constatar que, após passearem contra o moribundo São Paulo nas oitavas, das quartas-de-final em diante a campanha do Galo consistiu em trombadas, dramas, “eu acredito” (hoje o coro mais pé-frio do país, inclusive nas Olimpíadas) e muito Victor – inclusive defendendo um pênalti em minuto final. Não tivesse tanta sorte, provavelmente Cuca teria quebrado a mão socando a parede do vestiário do Independência, como fez no Morumbi. Mas o título legitimou tudo. As análises passaram por cima do futebol efetivamente – não – jogado. Como se vencer uma Libertadores significasse que Celso Roth, Antônio Lopes e, importante, Edgardo Bauza (como a seleção argentina descobriria mais tarde) são bons treinadores.
O Palmeiras, a despeito de se esquecer de algumas posições, tentou aproveitar a saída de Cuca para buscar um futebol mais lúcido e menos psicótico. Em vez disso, foram o novo treinador e os novos contratados que se contaminaram. Quando viram que o time não conseguia se despir da histeria, resolveram trazer o histérico de volta. Só mesmo comentaristas de quinta categoria, como Caio Ribeiro e Casagrande, para enxergarem um jogo “mais tocado” na reestreia do técnico em Libertadores. Ontem não foi diferente, ainda mais com o reforço de Galvão Bueno. Mas nada que meia hora de partida, com o adversário criando mais, não fizesse com que até os três admitissem que o rei estava nu – e muito doido.
Como o mundo e a vida não são dicotômicos, Cuca tem qualidades. Foi ele que efetivou Gabriel Jesus como centroavante, dando à seleção um camisa 9 fora do padrão “pivozão de área”. A forma como consegue fazer com que o grupo acredite em seu trabalho, como quando salvou Goiás e Fluminense da segunda divisão, também é rara. Porém, tal adesão incondicional não raro acaba se tornando, metaforicamente e guardadas as devidas proporções, uma versão boleira de Jonestown, onde os seguidores do pastor Jim Jones cometeram suicídio coletivo. Por isso até os títulos logo são seguidos por fracassos, como a derrota para o Raja Casablanca no Mundial. Ou como a perda de vaga contra o Barcelona que, mesmo sendo o ultragenérico do Equador, trocou passes melhor que o caro elenco palestrino. Nem a presença de Guerra, melhor meio-campista do continente em 2016, mudou o cenário. Afinal, sanduíche do Subway tem sempre o mesmo gosto…
AS “BRUXARIAS” DO CUCA NÃO SÃO SUSTENTÁVEIS
CONSEGUIU ALGUNS BONS RESULTADOS NA CARREIRA, É VERDADE, MAS PARA MIM SEMPRE SERÁ UMA PESSOA RIDÍCULA
A TENDÊNCIA É O PALMEIRAS FICAR FORA ATÉ DA ZONA DA LIBERTADORES NESTE BRASILEIRÃO
Concordo e acrescentaria que considero uma falha grave do Cuca não ter tentado trabalhar com mais afinco e boa vontade com os jogadores Borja e Felipe Melo (mesmo este sendo um babaca), duas das três maiores contratações de sua equipe na temporada. Ainda que ambos não sejam o seu “perfil”, como se ventila por aí (foram contratados na época de Eduardo Baptista), entendo que era obrigação de Cuca cuidar e tentar extrair o máximo das (caríssimas) apostas feitas pelo seu clube.
PERFEITO
O que acha do Cuca, João Ricardo Lebert Cozac? 😉
Falou e disse!!!!!!!!!! Mais doido do que os times do Cuca, só os que o tratam como um treinador moderno!!!!!!!! Parabens pela analise que sai do lugar comum da imprensa!!!!!!!!!
Maravilha de texto, Gustavo Fernandes! Confesso que nunca tinha pensado isso sobre o Cuca – a quem inclusive sempre vi com bons olhos – mas agora tendo a concordar com você. No ano passado foi a primeira vez em que notei isso. No Atlético a equipe tinha muita qualidade técnica e conseguia dar um certo refinamento à “psicopatia”, rs, mas acho mesmo que você dissecou muito bem!
Obrigado, Gabriel. Mas mesmo aquele CAM parou de jogar futebol das quartas em diante. Nas quartas, só não caíram porque Victor salvou no minuto final. A partir das semi, foi só abafa.
Acho um pouco injusto o Cuca ficar marcado apenas por esses seus momentos de “esquizofrenia futebolística”. Apesar de concordar com boa parte do texto acho que não podemos ignorar o quanto ele como treinador, muitas vezes, também foge do óbvio. Um problema crônico dos seus trabalhos é que toda a intensidade física e psicológica que ele exige acaba cobrando seu preço. Mas sempre que deram tempo pra ele trabalhar (coisa que não teve no Palmeiras deste ano) os resultados vieram. Acho Cuca sim, um bom treinador.
[…] Fora a questão de escalar contratados para justificar seus custos, existem os efeitos táticos. Além de maior mobilidade, os Evertons compõem a marcação pelo lado esquerdo. Pato não o fará. Ante tal privilégio, quem suprirá o papel defensivo será um jogador do meio-campo. Na formação atual, seria Liziero – que já sofre com o físico. Na que vislumbro mais para frente, seria Hernanes ou Tchê Tchê. A tendência é o já atarefado departamento médico precisar de outra ala. O maior erro de jornalistas, comentaristas e torcedores é achar que elenco é soma de jogadores. Como dito anteriormente, na verdade é uma combinação. Está difícil pensar nestes jogadores combinando entre si. Até por um técnico como Cuca, conhecido por transformar qualquer combinação em sanduíche de Subway – troca ingredie…. […]
[…] Não para surpresa deste colunista, Cuca segue a encarnação futebolística da “propaganda honesta” do Subway. Pode colocar qualquer ingrediente e o gosto do futebol praticado será o mesmo. Mudanças de ingredientes não faltaram. Tanto por conta própria quanto por sugestões das redes sociais (assim como na lanchonete, o cliente pode escolher o que colocar no sanduba), o desempenho do São Paulo atingiu o padrão de seu criador. Trombadas, bolas na área e desespero. Mas o que os leitores diriam se o colunista dissesse que, pasme-se, foi a escolha certa? Questão de objetivo. O do São Paulo, em março, não poderia ser outro além de ficar na primeira divisão. Exagero? Só para os desmemoriados. […]