Créditos da imagem: UEFA
Desde a final do Mundial de Clubes de 2017 tenho me debruçado em alguns dados financeiros dos clubes europeus para aprofundar o entendimento de suas operações. Deste trabalho surgiu um relatório chamado “Futebol Europeu: A Supremacia”, que foi divulgado recentemente pelo Itaú BBA.
Entre diversas análises e comparações, preparei um tópico relacionado aos salários dos atletas. Afinal, a inegável supremacia é técnica e financeira, que gira num circuito infinito, pois mais dinheiro compra mais técnica, que fortalece a equipe e traz mais dinheiro e assim o futebol segue seu curso.
O exercício aqui está sintetizado na tabela abaixo, que explico: tomamos os valores de salários médios anuais dos 20 maiores clubes da Europa, em receita, base 15/16. A partir daí comparamos com os 5 maiores clubes brasileiros em receitas, com base nos dados de 2016. Esta relação gera um múltiplo, exemplificado na relação entre Barcelona e Corinthians: na temporada o salário médio anual de um atleta do Barcelona foi 8,3x o valor do salário médio de um atleta do Corinthians. É assim que se lê a tabela que segue.
A tabela claramente mostra o que a maioria, se não todos os torcedores, já sabem: os clubes europeus pagam salários maiores que os brasileiros. O que chama a atenção vem a seguir.
Comparei os dados de renda média da população de 4 países com clubes na amostra – Itália, Reino Unido, Alemanha e Espanha – com a renda média brasileira. A partir daí gera-se um múltiplo, semelhante ao que se viu nos clubes. O exemplo vem entre Brasil e Itália: um trabalhador italiano recebe em média 6,9x o que recebe um brasileiro. A tabela completa é esta:
Logo, se entendemos que o atleta de futebol é um trabalhador como qualquer outro, a relação de forças econômicas deveria levar a diferença salarial entre atletas de clubes de futebol ao nível de outros cidadãos. Aqui, para fins de exercício, a comparação é entre uma média e um setor específico. Naturalmente que alguns setores no Brasil podem ter rendas superiores aos pagos na Europa, e certamente outros terão na Europa rendas muito maiores. A média é, portanto, uma referência relacionada ao todo.
Pois bem, na tabela inicial vemos a relação de valor de salário médio anual entre clubes europeus e brasileiros, e marcamos com cores aqueles casos em que a relação entre os clubes é menor que a relação de renda entre os países. Marcados em rosa aqueles casos em que a relação entre os clubes é maior que entre as rendas nacionais. Em amarelo está o caso em que é semelhante e em verde os casos onde é menor. Ou seja, comparando os 5 maiores clubes em receitas com os 20 maiores europeus é possível verificar que contra apenas 3 clubes – Barcelona, PSG e Real Madrid – a relação é maior no futebol. Para os demais 17 clubes a relação é menor.
O que significa isto de maneira prática? Significa que a despeito da distância, o futebol brasileiro está permitindo uma renda aos seus trabalhadores melhor que à população em geral quando comparados aos europeus. Conceitualmente é possível afirmar que o futebol no Brasil é realmente uma atividade premium em termos de remuneração, que vai além da simples diferença de remuneração ente o atleta e o torcedor médio, mas inclusive em relação a seus pares na Europa.
Por outro lado, precisamos comparar esta relação à relação entre as Receitas. Pois uma questão é quanto se paga e a outra é quanto se pode pagar. Para esta avaliação fizemos a comparação de Salários e Receitas entre Liverpool e Milan contra os clubes brasileiros. Para facilitar o entendimento, veja a última coluna, que é a relação entre as relações. Simplificando, o número 1 significa que a diferença entre salários é a mesma que entre receitas. Ou seja, a folha de pagamento está compatível com a receita em ambos os clubes. Se ficar acima de 1 significa que os clubes estão gastando mais proporcionalmente e se for menor que 1, estão gastando menos.
Primeiramente faremos a comparação com as receitas totais, que incluem vendas de atletas.
Note que exceto pelo Corinthians contra o Liverpool, todas as comparações são positivas para os brasileiros, o que significa dizer que em relação a estes dois clubes europeus, os brasileiros arrecadam mais do que pagam de salários. Ou seja, há teoricamente espaço para aumentar o gasto salarial e reduzir ainda mais a distância, obviamente desde que o recurso saia de algum outro gasto atual, dado que há limitações orçamentárias quando vemos os balanços dos clubes.
Agora vamos para a segunda comparação, com as receitas recorrentes, que excluem vendas de atletas.
Aqui, considerando as receitas administráveis e que não impactam a condição competitiva dos clubes a comparação fica pior em relação ao Liverpool para Corinthians, São Paulo e Atlético Mineiro, e se mantém positiva para Flamengo e Palmeiras. Isto reflete, inclusive, a diferença na condição geral desses clubes, uma vez que Palmeiras e Flamengo dependem pouco da venda de atletas para fechar suas contas, enquanto os demais têm forte dependência dessa receita.
Agora, na comparação com o Milan, mesmo excluindo receitas de venda de atletas os brasileiros apresentam bom desempenho. O que mostra também a decadência do clube italiano, que mantém salários elevados mas perdeu muita relevância nas receitas. Inclusive, está sendo questionado pela UEFA por quebra do Fair Play Financeiro, uma vez que possui desequilíbrio em suas contas.
Ao final, podemos dizer que os clubes brasileiros são bastante competitivos em termos salariais com os clubes europeus quando pensamos de maneira mais ampla, e que a partir do 11º clube europeu em faturamento nosso desempenho é bom e não é por uma questão apenas salarial que os atletas deixam o país. Há que se considerar outros aspectos, como qualidade de vida, cultura, possibilidade de enfrentar clubes mais fortes, organização. Pois, se considerarmos a lista, percebemos que com alguns poucos ajustes nas gestões – corte de custos e gastos desnecessários, investimentos bem feitos, e mesmo sem aumentar as receitas os maiores clubes do Brasil deveriam ter a capacidade de competir com os clubes que estão da metade da tabela para baixo.
PELO QUE ENTENDI O ABISMO NÃO É TÃO GRANDE COMO SE SUPUNHA…
DÁ PARA MELHORAR BEM O FUTEBOL BRASILEIRO NO MÉDIO PRAZO….
MAS OS DIRIGENTES QUEREM ISSO?
Muito bom!
Estudo fantástico!!!!!! O nosso problema principal já nem parece mais dinheiro!!!!! Incrível a menção ao Milan!!!!!