Créditos da imagem: Leandro Martins/FramePhoto/Folhapress
Inviável financeiramente, Alvinegro Praiano precisa de um remédio emergencial
Choque de gestão, uma grande reforma administrativa. Profissionalização. Como diria Januário de Oliveira, “é disso que o povo gosta” (só que não!) e é disso que o Santos precisa.
Porém, nem sempre o caminho ideal é aquele que dá para ser percorrido. Pelo menos não antes de alguns “ajustes”, por assim dizer. Explico: fosse o Santos um clube minimamente bem gerido e esse tipo de assunto sequer teria de ser abordado em colunas de portais esportivos. Pelo menos não com essa frequência. O que acontece dentro dos gramados deveria ser o mote principal.
No entanto, em que pese o bom futebol praticado pelo time em alguns momentos das últimas temporadas, o que mais se vê sobre o “glorioso alvinegro praiano” são publicações abordando seus descalabros administrativos, com direito a afastamento do então presidente José Carlos Peres, além de calotes e mais calotes (que o digam Hamburgo, Huachipato e Atlético Nacional), que resultaram em vergonhosas punições impostas pela FIFA e fizeram do Santos uma agremiação esportiva com zero credibilidade no mercado.
Com isso, negócios estapafúrdios acabaram sendo costurados e encarados como se vitórias fossem. No caso de Soteldo, o Santos teve a sabedoria (ou sorte, ou a soma dos dois) de pescar o atacante no mercado sul-americano para depois deixar escorrer por entre os dedos aquele que é um dos melhores jogadores entre os que atuam no continente.
E como gelo num dia de sol, o bom time de 2019 vai derretendo. Gustavo Henrique, Jorge e Sasha já saíram. Como na temporada anterior já haviam saído Bruno Henrique, Rodrygo e Gabigol. E assim, ano após ano, o plantel vai se tornando cada vez menos qualificado, enquanto o passivo só faz aumentar, com direito à quase perpetuação da dívida gigantesca com a Doyen Sports, a famosa parceira na já longeva contratação de Leandro Damião, mas que ainda se faz tão presente na vida do Santos.
E como desgraça pouca é bobagem, ainda teve o “Caso Robinho”, cuja contratação –comandada pessoalmente por Orlando Rollo- depois de uma condenação do atleta em primeira instância na Itália por participação em estupro coletivo evidentemente seria um tiro no pé, como de fato foi. Sobre isso, sem querer me alongar sobre o assunto, ressalto que não estou entre os legalistas que mesmo após as divulgações dos deploráveis áudios grampeados das conversas entre os réus defendem a “presunção de inocência” até o trânsito em julgado da sentença. E menos ainda entre aqueles que não criticam “ídolos”.
Voltando à questão financeira, o quadro só não se agravou ainda mais pelo fato de um conselheiro candidato a presidente, Sr. Andrés Rueda –a quem não conheço pessoalmente- ter providencialmente emprestado dinheiro para o clube se livrar da primeira punição da FIFA, que poderia implicar em perda de pontos no Brasileirão e uma possível perda esportiva sem precedentes (leia-se queda para a segunda divisão). De se ressaltar que a informação obtida por um conselheiro que tenho em alta conta é de que Rueda emprestou exatos R$11,7 milhões para o Santos e receberá os mesmos R$11,7 em dez parcelas iguais de R$1,7 mim a partir de 2021.
Dito empréstimo evidencia o estado de penúria enfrentado pelo Santos e escancara a falta de alternativas de um clube que, segundo as palavras do atual presidente, “possui uma dívida de curto prazo de R$53 milhões e praticamente nada de recebíveis. R$3,2 mi até o fim do ano, não paga meia folha de pagamento. Recebíveis foram antecipados e o restante vem só no ano que vem de acordo com posição”.
Há quem diga que a dívida total do Santos ultrapasse a ordem dos R$600 milhões, algo, convenhamos, impagável analisadas todas as projeções, mesmo as mais otimistas.
Afora isso, a perspectiva de retorno financeiro do futebol nacional é bem desanimadora para um investidor colocar seu dinheiro, o que só faz aumentar a relevância dessa figura do torcedor apaixonado de alto poderio econômico. Com essa nova relação estabelecida entre Santos e Rueda, tem-se uma situação próxima, embora em escala menor, àquela de Paulo Nobre com o Palmeiras. Explico: grosso modo, o ex-presidente palmeirense, enquanto Pessoa Física, tomou empréstimos para o Alviverde, com as mesmas condições que o mercado fazia para ele, Paulo Nobre. Ou seja, era o então presidente –e não o Banco- quem estava injetando dinheiro para cobrir o rombo financeiro do Palmeiras, com uma taxa que o clube jamais conseguiria pegar. Posteriormente, foi criado um FIDC (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios), aprovado em todos os órgãos dentro do clube à luz do estatuto. O princípio básico nele constante era de que o Palmeiras não poderia gastar mais do que 10% das suas receitas anuais para devolver o dinheiro que foi aportado. Então, foi criada uma regra dentro do FIDC e 10% teriam de ir para os Fundos e 90% para o Palmeiras (para “arrumar a casa” e não para bancar contratações). Imaginava-se, no início, algo em torno de 20 anos para saneamento da dívida. Dada a rápida prosperidade, não apenas pelo dinheiro injetado, vale frisar, mas também pelo choque de gestão empregado, com cortes de regalias que sugavam os cofres do clube e uma reorganização completa em todos os seus setores, o Palmeiras já não deve mais para Paulo Nobre e hoje caminha com as próprias pernas. E sem depender da Crefisa, como algum desavisado pode pensar ou querer desdenhar. O ex-presidente Paulo Nobre, figura emblemática do que intitulo “mecenato do bem”, deixou um legado e elevou o Palmeiras a outro patamar. Na minha opinião, trata-se do principal dirigente de clube de futebol brasileiro em todos os tempos.
Bem diferente do que se viu outrora no Santos administrado pela Família Teixeira, oportunidade em que os empréstimos não foram em termos vantajosos para a agremiação (a coisa degringolou a tal ponto que até a Vila Belmiro esteve ameaçada de penhora). Outro ponto falho daquela gestão foi não ter havido, de maneira concomitante à injeção financeira, uma reforma administrativa no clube, de maneira a permitir a montagem de uma estratégia de saída, algo que Nobre soube fazer com maestria e que é fundamental para que essa figura do mecenato (termo que tecnicamente nem se sustenta, vez que se trataria de um empréstimo, mas que utilizaremos para ilustrar a situação do modo pelo qual ela é conhecida) vingue e seja positiva para um clube de futebol.
Fato é que, seja Rueda ou qualquer outro endinheirado eventualmente apresentado pela chapa vencedora das eleições do final do ano, esse possível MECENAS DA VILA pode sim vir a ser o salvador da pátria santista. Há sempre de se analisar o caso concreto, sem ideias pré-concebidas. Sempre com muita cautela e responsabilidade.
Pode não ser o ideal –e não é-, mas pode ser o que o Santos precisa para se reerguer e poder, quem sabe, passar a sonhar em alçar voos mais altos (e necessários) como a construção/reforma de uma nova Vila Belmiro e investimento pesado em sócios-torcedores.
Por fim, um recado para os torcedores santistas: não sejam imediatistas, nem tolos. Não contem com títulos em curto prazo e tampouco fiquem sonhando com contratações caras (veja o Sampaoli. Foi legal? Foi! Mas a que custo?), hoje o Santos não pode se dar a esse luxo. Mais: não fiquem pedindo ex-jogadores ou torcedores ilustres para cargos de direção no clube e entendam que o amor desacompanhado de conhecimento não levará a outro lugar que não à decepção.
E segue o jogo.
Excelente! Nem tudo que parece ruim, é ruim!
Por mim, poderia até ser o próprio Paulo Nobre mesmo! hahaha