Créditos da imagem: Reprodução Globo Esporte
Quando começamos a escrever colunas esportivas, a dúvida sobre revelar o time do coração paira sobre nossas cabeças, especialmente em momentos de alta intolerância e radicalismo no Brasil. Nunca fiz tanta questão de guardar esse tema, mas preferia não revelar quando necessário, algo que se tornou em vão a partir do momento em que passei a escrever para o site “Meu Timão”.
Tenho o São Paulo como um grande rival e, por muito tempo, tive raiva, birra, por que não, ódio, de vê-los tão à frente de seus concorrentes. Cheguei a desconfiar que haveria uma hegemonia nacional jamais vista, tamanha a superioridade do Tricolor entre os anos de 2005 e 2008.
Lembro-me, nesse período, que enquanto o Corinthians não conseguia sequer fazer duas boas temporadas consecutivas, o Tricolor Paulista alcançava o topo do Mundo e do Brasil e lá se estabelecia, numa afronta àqueles que dizem que mais difícil do que chegar é permanecer. O São Paulo, então, quebrava todos os paradigmas e incomodava, incomodava demais.
Ao mesmo tempo, surgiam figuras caricatas, que aumentavam a fama são-paulina de superiores e chamavam todos os holofotes da mídia para a força tricolor, especialmente com Marco Aurélio Cunha, que tirava sarros semanalmente do saudoso dr. Osmar de Oliveira, que Deus o tenha em bom lugar.
Quando em 2009, nas últimas rodadas do Brasileirão, o São Paulo assumiu a liderança e se mostrava forte para alcançar o tetracampeonato consecutivo, tive que aguentar um colega são-paulino ao dizer que alcançaria em apenas quatro anos o que nós demoramos cem para alcançar (o Corinthians ainda era tetra na época).
Enquanto tudo isso acontecia, o Corinthians desmoronava e amargava o seu rebaixamento, o Palmeiras tirava férias do futebol, o Santos esperava por um novo Robinho, os clubes do Rio começavam a desmoronar, e os demais não pareciam capazes de fazer uma frente realmente firme contra o Tricolor, alcançando no máximo um digno segundo lugar na tabela de classificação, como fizeram Grêmio e Internacional, em 2008 e 2006, respectivamente.
Era duro demais ver um clube soberano no Brasil, justamente nas épocas em que se bradava que tínhamos o campeonato mais disputado do mundo.
Hoje, após mais uma eliminação tricolor, a terceira na temporada (e só estamos em maio), noto como a fase tricolor foi, na verdade, um sopro no futebol brasileiro e que o clube se rebaixou indignamente, a ponto de conquistar apenas um título nos últimos dez anos.
Além disso, aquele São Paulo que não perdia para seus rivais (ficou 14 jogos sem derrotas para o Corinthians, com direito a um 5 a 1 no time da MSI, além de ter eliminado duas vezes seguidas o Palmeiras da Libertadores) agora se tornou um verdadeiro saco de pancadas e não coloca mais medo não somente nos times da capital, mas também em Bragantino, Ponte Preta, Penapolense e por aí vai.
De uma diretoria que se parecia à frente do seu tempo, o São Paulo foi lobo de si mesmo ao subir em sua soberba, deixar-se levar por interesses levianos de cartola e esquecer o futebol de verdade, aquele que leva a torcida ao estádio e que glorifica a camisa e a história do clube.
Hoje, passados dez anos de quando achei que o Tricolor realmente alcançaria o feito que meu time havia demorado 100 para chegar, vejo um time limitado e, por muitas vezes, perdido em si mesmo, enganado por ídolos que não fazem com a cabeça o que faziam com os pés.
De terror da América e do Brasil, a eliminado por Talleres, Defensa y Justicia, Bragantino, Ponte Preta. Eu teria apostado uma orelha (já que tenho duas) que o São Paulo seria o time do Brasil nesta década, como é o Bayern na Alemanha ou a Juventus, na Itália. Era uma supremacia de doer. Hoje, já não há brincadeiras suficientes para mais uma eliminação do clube em mata-matas.