Créditos da imagem: Michael Regan/FIFA via Getty Images
Como era de se prever, seguimos sem nenhuma matéria ou declaração oficial a respeito da observação que este colunista fez sobre o VAR. Na coluna anterior, mostrei como todos os lances ignorados pelo árbitro de vídeo foram infrações com os braços no corpo do adversário. Apontei as possíveis razões que norteavam a escolha não oficial, porém escancarada, por não incluir estas situações no rol de hipóteses concretas. Acontece que, embora jornalistas e dirigentes sigam calados, os jogos seguintes sugerem que técnicos, atletas e também árbitros já sacaram. O resultado: em vez de diminuir, o uso do braço estaria sendo usado com ainda mais convicção de impunidade.
Salvo engano, o único caso de pênalti com os braços no adversário foi dado pelo brasileiro Sandro Meira Ricci, sem auxílio do VAR. O segundo caso teria sido no jogo do Brasil com a Costa Rica, mas foi revogado justamente pelo recurso de vídeo – mais pela simulação de impacto que pela mão do zagueiro em si. No mesmo dia, a Suíça foi além da falta não marcada em Miranda. Contra a Sérvia, seus defensores realizaram segurada dupla, algo que não seria aceito nem no rúgbi – em que se proíbe que mais de um jogador faça o “tackle” em quem está com a bola. Na dramática vitória alemã, o jogo estava 0 a 0 quando contragolpe sueco teve a finalização prejudicada por empurrão do zagueiro alemão. Nada foi marcado. Aparentemente, ao perceberem que o VAR faz vista grossa neste lance, os árbitros também deixaram de observá-lo. Também não temem punições.
Esta circunstância gera um bug perigoso para o VAR. É preciso ser desavisado ou sonso para negar que, ao reduzir o número de erros, o sistema já é um sucesso. Por mais que comentaristas usem recursos verbais ininteligíveis, como Arnaldo Ribeiro falando da “banalização do pênalti”. Contudo, a apontada exclusão de faltas com o braço, ao ser conscientemente aproveitada por defensores e não punida pela atividade do próprio árbitro de campo (todos os lances polêmicos eram visíveis a olho nu), traz o risco de este tipo de lance aumentar em quantidade, compensando o abrandamento de um erro com a profusão de outro. Frente a tal cenário, a FIFA e os responsáveis pelo VAR se veem diante de um dilema: manter a distinção temerária ou, sob acusações de incoerência, mudar o critério no meio da competição?
Existem duas opções. A primeira seria chamar os árbitros e deixar claro que, mesmo que oficialmente não admita as falhas, em âmbito interno haverá represálias. Seria uma tentativa de conter a acomodação de seu contingente. A segunda, mais desagradável, seria o caminho da transparência, admitindo publicamente o que a coluna intui e anunciando uma revisão do posicionamento para os confrontos eliminatórios. Faltas acintosas com o braço no corpo, que não requerem tempo de observação e interpretação, seriam marcadas pelo VAR – como deveriam ser desde o começo. “Ah, mas vai ter uns dez pênaltis por jogo!”. Primeiramente, é só não usar o braço, mané! Em segundo lugar, compreendendo a dificuldade de se adaptar rapidamente (embora fosse algo que devessem fazer desde o anúncio do VAR na Copa), seriam apenas os lances escancarados. Não daria sequer um por partida.
Não acredito, porém, que tentarão uma coisa ou outra. Até porque, como constatado desde o começo, trata-se de uma distinção que nenhum jornalista pago percebeu (se percebeu não falou, para manter a “polêmica”). Se agirem, certamente usarão a alternativa número 1. Os árbitros seriam avisados que, se os erros nestes pênaltis prosseguirem, a entidade seguirá negando em público, mas não os escalará nas fases de mata-mata. Poderá ser um paliativo, mas não resolverá o problema por muito tempo. Os opositores do VAR terão um aliado para a inação. Com tudo o que o cinismo permite, mais a ajuda da própria incentivadora do vídeo. Lamentável.
PS: esta coluna já estava feita por ocasião do pênalti para a Arábia Saudita, com empurrão. Ocorre que o lance não muda a observação. Não foi o VAR que deu a penalidade. O árbitro a marcou primeiro e, como em todo pênalti marcado, houve a revisão. E o árbitro manteve o que marcou.
Também aposto que a Fifa não vai tomar atitude nenhuma, e concordo inteiramente com você: o fato de o VAR não estar sendo usado para os agarrões, meio que “legalizou” que isso aconteça! A quantidade de agarrões dentro da área está muito maior do que na Copa passada (sem VAR) ou do que em uma partida típica da Champions!
Creio que não vão mudar nada no VAR nesta Copa.