Créditos da imagem: UOL Esporte
Em outubro de 2015, uma edição do ranking da FIFA colocou a Bélgica como a seleção número 1 do planeta. Sim, pouco mais de um ano após a Copa do Mundo em que os belgas tiveram digno, porém modesto desempenho (derrota nas quarta-de-final). E antes da Euro em que também caíram nas quartas de final, contra País de Gales. A furada do ranking (da mesma espécie que resultou na Polônia como cabeça-de-chave na Rússia) aumentou os holofotes na mesma medida em que, posteriormente, gerou questionamentos a respeito da falta de correspondência entre individualidades e desempenho. Entre os brasileiros a dúvida não foi diferente. Porém, ninguém superou nossos comentaristas em termos de acidez – e maldade.
O confronto desta sexta-feira, como era de esperar, apimentou as reservas quanto à qualidade dos adversários. Convenhamos que as dificuldades épicas contra o inexpressivo Japão fomentaram as desconfianças. Como se a mesma base da seleção brasileira atual não tivesse ficado, em 2014, a centímetros de ser eliminada, em casa, nas oitavas-de-final – com Neymar em campo e tudo. Não que se desconheça que até jogadores de qualidade podem demorar a dar liga. No caso de fatia formidável do jornalismo e de parte da torcida, fala mais alto aquilo que já comentei sobre Nélson Rodrigues. A mesma crônica sobre complexo de vira-lata, que combateu o sentimento de inferioridade do brasileiro nos anos 1960, passou a ser usada como suporte da humildade à brasileira – aquela repulsa a reconhecer qualidade de fora, como se implicasse desrespeito ao patrimônio nacional.
O futebol da Bélgica passa mesmo, em quantidade e também qualidade, por um momento de alta na formação de talentos. Historicamente, é associado a defesa e contragolpes, com o amparo de grandes goleiros – sobre os quais nunca houve ironias. Com a criação dos comunitários, mais belgas puderam atuar em campeonatos maiores. Com isso, desenvolveram características estranhas à essência vermelha. Inclusive atletas agora acostumados a atuar com posse de bola e tomando a iniciativa das partidas. A bonança, contudo, traz seus problemas. Não se troca uma filosofia de jogo secular (a mesma do quarto lugar em 1986) por uma radicalmente oposta, em poucos anos. Até porque a geração não é numerosa a ponto de guarnecer todo um time. Há muitos remanescentes do estilo tradicional. Harmonizar esta diferença seria tão simples se fosse tão simples.
Assumindo o compromisso de privilegiar seus melhores nomes, o técnico Roberto Martínez buscou formação para escalá-los em maior número possível. Por isso o competente meio-campista Carrasco, do Atlético de Madrid, atua deslocado na ala esquerda. Por sua vez, também no meio-campo, De Bruyne (muito aclamado na temporada, com méritos) joga mais recuado que no Manchester City, para que Mertens atue adiantado. Como todo esquema híbrido de pouco treinamento, a escolha mostra suas qualidades, mas expõe falhas. O setor de Carrasco, por exemplo, foi vulnerável na defesa. Por sua vez, De Bruyne está bastante desconfortável, errando lances triviais a seu repertório. E ainda há um drama peculiar no trio de zaga, que dificilmente consegue juntar Kompany e Vermaelen ao mesmo tempo, tal a constância de lesões – City e Barça que o digam.
Somando-se estas dificuldades (entre outras) ao erro estratégico mencionado em coluna passada, a ótima geração belga terá uma tarefa inglória contra o Brasil. Primeiro, porque a equipe de Tite enfrentou equipes complicadas e se ajustou na primeira fase, alcançando as quartas-de-final sem sustos. Segundo, e não menos importante, porque a geração brasileira não é ótima. É excelente. Ainda faltam atletas em determinadas posições, especialmente na armação – até pela ausência de Arthur. Mas o elemento humano é o bastante para o técnico não ter que improvisar. Todavia, a superioridade tática e técnica não é suficiente para excluir riscos. Pelo número de individualidades, mesmo sofrendo para jogar entre si, a Bélgica tem condições de produzir boas oportunidades. Repetir a postura inicial do jogo anterior não pareceria boa ideia. Sem Casemiro, pior ainda.
Brasil x Bélgica será o embate entre duas equipes querendo fazer jus às respectivas famas. A passagem de uma, porém, não significará que a outra é uma farsa. Cultivar dicotomias em futebol pode ser agradável – para alguns – numa mesa de bar. Fora desse ambiente, é como doce de leite cheio de açúcar. No começo até que é bom, mas depois enjoa.
Leia também:
– Ou vai, ou racha: a difícil missão da tão propalada “Geração Belga”
EXCELENTE.
Eu tô achanho os torcedores e os jornalistas confiantes demais. O Brasil é favorito, mas não é tanto assim. Os belgas são habilidosos, experientes, jogam bem coletivamente e possuem bom técnico e bons reservas. É jogo equilibrado.
Tem uns jogadores que são mesmo muito bons, mas é muito superestimada!!!!!!!!!!! Se fosse a Argentina com essa geração, ia todo mundo estar descendo o cacete neles!!!!!!!!!!!!!!!!!
Que eles se fodam