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Palmeiras e Flamengo, últimos campeões continentais, encontram-se para uma espécie de tira-teima. Final realmente atípica, a começar pelo intervalo inédito desde a semifinal. Nestes dois meses, o rendimento das equipes variou tanto que, a cada semana, a imprensa trocava de favorito. Ora o Flamengo seria imbatível com seu ataque, ora o Palmeiras estava pronto para explorar as deficiências dos cariocas. Agora, faltando um dia, a moeda parece ter caído em pé. Ambos têm virtudes, mas longe de sugerirem estabilidade. Resta saber quem vai disfarçar melhor as falhas e explorar as lacunas alheias.
Vale destacar que seria um milagre não ter problemas sérios emendando temporadas. Mesmo com o descanso de titulares nos campeonatos estaduais, a pausa só serviu para um breve respiro. Equipe que mais atuou entre 2020 e início de 2021, o Palmeiras desembestou a perder um mata-mata atrás do outro. Supercopa nacional, Recopa, Paulistão (a “Copa do Mundo” bobo alegre do rival tricolor) e Copa do Brasil – o vexame contra o CRB. O Flamengo venceu a Supercopa e o Cariocão, mas logo Rogério Ceni perdeu o lugar para o então desempregado Renato Gaúcho – que começou encantando e agora está irritando torcedores e comentaristas (além de torcedores comentaristas). Já o Palmeiras mantém Abel Ferreira contra amendoins, cornetas e vizinhos. Chegar à decisão está longe de significar que superaram dificuldades. Apenas as driblaram – ou ganharam as divididas.
Pode-se dizer que SEP e CRF são diametralmente opostos em altos e baixos. O Palmeiras pratica o jogo de espera e, esta altura, ninguém acredita que conseguiria tomar a iniciativa com desenvoltura. O maior problema é que a espera nem sempre tem compensado. Especialmente quando o outro time não dá os espaços desejados. Por sua vez, o Flamengo toma a iniciativa nos moldes de Jorge Jesus. Só que, ao contrário dos tempos do luso, o “perde-pressiona” de Renato tem furos e a zaga se posiciona muito mal para os contragolpes e bolas altas. As reposições não foram eficazes. Mesmo o badalado David Luiz não traz o que era o trunfo do então desconhecido Marí: seu senso de colocação diferenciado. Não é de admirar que, para muitos, o melhor brasileiro da temporada é o Galo. Que, entretanto, não soube passar pelo Porco e perdeu recentemente para o Urubu.
A rigor, duelos entre ataque forte/defesa fraca e o inverso costumam favorecer quem defende melhor. Neste contexto, o Palmeiras levaria vantagem. Mas a vitória contra o Atlético-MG mostra que Renato pode abrir mão de princípios ofensivos. Há quem diga que, se fizer isso e perder, será exilado do RJ. Talvez por este motivo Renato só fala em quarteto da frente, sem dar bandeira que poderia reduzi-lo a um trio (com Thiago Maia ou outro volante). Todavia, não descarto que esteja escondendo o jogo. Difícil não imaginar que Abel queira mesmo enfrentar Arrascaeta (Michael), BH, Gabigol e Everton Ribeiro juntos. Foi com esta formação que, a uma semana da decisão, Internacional e Flamengo lembraram as lutas de Rocky Balboa, em que erguer a guarda era supérfluo. É o filme que o Palmeiras adoraria pagar para ver no sábado. Com um final bem diferente do original.
Uma coisa é certa: o campeão salvará sua narrativa sobre 2021. Praticamente tudo de ruim será superado – até janeiro. Pelo lado rubro-negro, a cada vez mais incontroversa posição de Renato como técnico de nova velha guarda, assim como as ideias ruins – e caras – na composição do elenco. Nas bandas da Pompeia, agora sob direção da dona do patrocinador, a inaptidão de Abel para acrescentar novidades e necessidade de rever a montagem do plantel. Quem vencerá mais uma Taça do Perdão? Ou seria… quem perderá?