Créditos da imagem: Fernando Pilatos/Gazeta Press
“Reparou-se uma injustiça” é o comentário-padrão para a inclusão de Richarlyson (não confundir com o atacante do Everton, sem Y) na Calçada da Fama do SPFC. Uma iniciativa que, desde a inclusão do medíocre Vizolli, tende a virar um “calçadão do amigo do amigo”. Mas falemos de Richarlyson, talvez o personagem mais peculiar dos anos gloriosos do tricolor neste século. Lembremos, um a um, os episódios que fizeram sua fama.
1 – contratado no segundo semestre de 2005, como jogador polivalente, não conseguiu a pronta titularidade. Seu momento marcante foi o gol contra o Palmeiras, quando o São Paulo usou os reservas. Foi até um belo gol, mas o que chamou a atenção foi a dança ao comemorar. Como o Palmeiras virou o jogo, a manchete do Lance veio a ser “rebolou, dançou!!!”.
2 – 2006 foi um ano totalmente irrelevante, incluindo a oportunidade perdida no segundo jogo da final da Libertadores. Com Josué expulso na primeira partida, Richarlyson entrou em seu lugar e, perdido em campo, logo foi substituído. No terreno das fofocas, seus trejeitos e modismos atraíam boatos e ofensas em rede social.
3 – 2007 foi, verdadeiramente, a única temporada em que Richarlyson convenceu. O SPFC enfrentou o Palmeiras com outro time reserva e ganhou, incluindo um golaço do então volante. O time fracassou na Libertadores, mas Richarlyson ganhou a posição no Campeonato Brasileiro antes mesmo de Hernanes. Foi um dos alicerces no esquema híbrido vitorioso de Muricy Ramalho, em que jogadores mudavam de função no meio dos jogos.
4 – em meio ao sucesso em 2007, uma entrevista desastrosa de dirigente do Palmeiras colocou o jogador na berlinda do debate sobre homofobia. Perguntado se o clube contrataria um homossexual, respondeu que quase trouxeram Richarlyson. O atleta processou o dirigente, mas juiz criminal deixou de receber a queixa com uma sentença mais catastrófica que a entrevista. Ao mesmo tempo, corria informação de que um “jogador de clube grande” sairia do armário no Fantástico. Não há qualquer evidência de que tal atleta seria Richarlyson. Porém, com a polêmica, ele acabou entrevistado, negou ser gay e disse que, se fosse, assumiria.
5 – a negativa do jogador não impediu as organizadas de, com a conivência da diretoria (que, afinal, seguiu mandando dinheiro para o carnaval daquelas), deixarem de cantar o nome de Richarlyson antes dos jogos. Ao mesmo tempo, sob a justificativa do combate à homofobia, comentaristas passaram a sugerir que o São Paulo adotasse o veado Bambi como mascote. Na verdade, era uma tentativa de oficializar a provocação que, curiosamente, nunca foi considerada homofóbica pela imprensa. Aí era “brincadeira normal”.
6 – em 2008, sob o impacto da ótima temporada anterior, Richarlyson foi convocado para um amistoso da seleção. Atuou como lateral-esquerdo (sua posição na base do Santo André) e foi bem. Porém, lidou muito mal com os holofotes e suas atuações despencaram. Foi para a reserva e só mereceu destaque no último jogo do Brasileirão, no lugar do suspenso Jean.
7 – de 2009 em diante, a situação não mudou. Foi usado em algumas posições (incluindo zaga), sem se reafirmar. Teve alguns lampejos e muitos erros em campo. Como outros jogadores voluntariosos, posicionava-se mal por confiar muito em sua capacidade física. Quando saiu do clube, não deixou saudades, mas conseguiu um contrato de dois anos com o Atlético Mineiro.
8 – no clube de MG, seguiu sem apresentar nada parecido com o desempenho de 2007, inclusive sendo expulso estupidamente em partida decisiva da Libertadores de 2013. Depois disso, não mais atraiu boas oportunidades. Há quem diga que não houve interessados por conta da homofobia, pois os boatos nunca cessaram. Mas, em termos de futebol jogado, não havia nada que justificasse acreditar num atleta com apenas um ano bem jogado – já na década anterior.
Neste contexto, fica a pergunta: Richarlyson mereceria estar na calçada da fama do SPFC? Se a ideia for criar um rol seleto de ídolos e nomes da mais alta importância, a resposta só pode ser NÃO. Vejamos:
a – a despeito de ter se saído muito bem em 2007, praticamente ninguém jogou mal naquele segundo semestre em que Richarlyson se destacou. Além do capitão Rogério Ceni, nomes como Aloísio, Hernanes, Miranda, Breno, André Dias e Jorge Wagner (estes três últimos também ignorados) tiveram brilho superior ao do esforçado Richarlyson.
b – a questão homofóbica atrapalhou bastante, mas o fato é que nem os defensores de seu futebol o tiveram como ídolo. Por um tempo, foi um exemplo de superação de críticas, mas nada além disso.
Richarlyson merece ser lembrado de forma bem mais positiva, pois foi um profissional exemplar e titular do time que, na minha opinião, foi o melhor do tricampeonato nacional de 2006 a 2008. Porém, daí a incluí-lo numa calçada da fama vai um longo caminho. Soa mais como compensação moral, por parte de um clube que se omitiu em sua defesa contra torcedores estúpidos, que reconhecimento futebolístico. Sem desconsiderar o que foi dito no primeiro parágrafo: se Vizolli está lá, diversos outros jogadores têm o direito de se considerarem injustiçados. Incluindo, pois sim, o controverso filho de Lela e irmão de Alecssandro – também campeões brasileiros.
que blog mal amado. quando o diniz saiu do spfc, até deu uma parada, visto que perderam o motivo de haterismo gratuido, mas de vez em quando encontram alguém pra pegar no pé. zzzzz
Se for pra colocá-lo como último pastel da feira da calçada do Morumbi, por mim, coloquem Dênis, Bosco, Kretzer e Fábio Santos