Créditos da imagem: Montagem/Lance!
Na semana passada apresentei uma análise junto com o Itaú BBA sobre os números referentes aos nove primeiros meses de 2018 de Flamengo e Corinthians.
Estamos nos encaminhando para as últimas voltas do cronômetro. O ano foi passando e aquilo que era expectativa e esperança foi se transformando em realidade, muitas vezes boa, mas também em duras e frias realidades.
É Dezembro, e se em campo o Corinthians teve resultados relativamente melhores – Campeão Paulista e Vice-Campeão da Copa do Brasil – o Flamengo encaminha o encerramento esportivo com o vice-Brasileiro, mas sem chegar com força nas demais competições.
Quando mudamos o foco e olhamos as finanças, o cenário é bem diferente. Enquanto o Flamengo continua com sua condição robusta, podendo investir e manter dívidas equilibradas, o Corinthians usa e abusa de subterfúgios que lhe ajudem a fechar as contas. Isso, quando consegue fechá-las.
Ao Flamengo cabe discutir a efetividade esportiva da boa condição econômico-financeira, mas esta é uma pauta que não cabe agora e que será avaliada pelos sócios na eleição que se avizinha. Para o Corinthians fica a pergunta: até quando será possível manter os pratos girando sem deixa-los cair?
FLAMENGO
A análise das receitas merece alguma atenção. Primeiramente vamos observá-la de maneira Total Bruta, que significa todas as receitas e sem nenhuma dedução de impostos diretos. Nesse sentido vemos que exceto pela linha de Cotas de TV, que cresceu 14%, todas as demais apresentaram queda, especialmente a relativa à Venda de Atletas. Não é todo ano que se apura valores como o da venda de Vinícius Jr. Se bem quem em 2018 até Setembro o número era elevado e aumentará se incluirmos a venda de Paquetá. Portanto, a expectativa é de que este número cresça bastante ao final do ano.
Nas receitas Brutas Recorrentes, que são aqueles sem a venda de atletas, o número dos primeiros nove meses foi similar ao de 2017. Novamente, precisamos olhar com atenção as diversas origens. Em Publicidade o número foi bastante semelhante, enquanto em Bilheteria/ST foi 6% menor em 2018.
Mas aqui vale uma lembrar que os campeonatos pararam ao longo da Copa do Mundo, de forma que podemos considerar algum represamento de receitas que virá no 4º trimestre. Há também uma sensível redução no valor do ticket médio, uma vez que o clube está utilizando mais o Maracanã. O Social sofreu redução mais sensível, mas o clube informa que recursos destinados aos esportes amadores entrarão nos 3 últimos meses, equilibrando esta conta.
Em geral, receitas caminharam bem no período. Vamos falar sobre Geração de Caixa, o famoso EBITDA.
Novamente analisando sob as duas óticas que normalmente trabalhamos, que são a do valor total e do valor recorrente.
Em termos totais, a Geração de Caixa (EBITDA) foi 46% menor nos nove primeiros meses de 2018 em relação a 2017. Os motivos foram a redução de receita – especialmente com Venda de Atletas – conforme vimos anteriormente – mas também houve aumento de Custos e Despesas. Os Custos cresceram 7% enquanto as Despesas aumentaram 29% em relação ao mesmo período de 2017.
O aumento das Despesas é expressivo percentualmente, mas em termos absolutos falamos de pouco mais de R$ 5 milhões adicionas. Os maiores ofensores deste aumento foram gastos relacionados a remuneração, como Salários e Direitos de Imagem. Eles representaram R$ 14 milhões adicionais em 2018, e são fruto do aumento de Investimentos, como veremos a seguir. Ainda assim houve excelente volume de Geração de Caixa, que atingiu R$ 122 milhões no período.
Em termos recorrentes o desempenho foi inferior a 2017, com queda de 24%, representando R$ 18,5 milhões a menos que em 2017. Alguns aspectos mencionados nos comentários sobre as receitas devem amenizar esta redução, mas é natural que o desempenho seja inferior a 2017 em função do maior gasto com remuneração.
O que ajuda a explicar o aumento de gastos com remuneração é o aumento de Investimentos na formação de elenco.
Nos 9 primeiros meses de 2018 o clube investiu R$ 106 milhões em novos atletas, representando crescimento de R$ 20 milhões sobre 2017, e representando 86% da Geração de Caixa do período, contra 37% de 2017.
No acumulado o clube investiu R$ 189 milhões em 2017 e 2018, o que aumenta a pressão da torcida e da imprensa por resultados mais efetivos.
Uma conta que podemos fazer é a da reposição de vendas. Comparamos os valores investidos em novos atletas com os valor recebido pela venda de atletas que estavam no plantel. Note que em 2017 o valor de venda foi R$ 63,6 milhões maior que o de compras, enquanto que em 2018 foi o inverso, com gastos de R$ 43,6 milhões maiores que as vendas. Ou seja, com a casa em ordem os valores recebidos como as vendas servem justamente para recompor o elenco, sem afetar a saúde financeira do clube.
Isto pode ser mostrado nas Dívidas. Veja que ao longo de 2018 houve crescimento de R$ 18 milhões nas dívidas, sendo que R$ 5 milhões foram Despesas Provisionadas, que estão atreladas ao aumento de gastos com salários. No mais houve aumento em Fornecedores por conta da maior aquisição de atletas e alongamentos de passivos. Ou seja, estes movimentos todos não geraram dificuldades. Quando falarmos de fluxo de caixa entenderemos o porquê.
PELOS LADOS DA GÁVEA…
…temos um clube que se posiciona de maneira organizada e preza pelo equilíbrio financeiro. Gera caixa, gere o fluxo de caixa de maneira impecável, o que lhe permite investir em diversas frentes e ainda reduzir dívida de maneira organizada.
Pode-se discutir a efetividade da aplicação dos recursos, e este é um ponto sensível da gestão. Mas que merece ser avaliada internamente pelos sócios e pelos torcedores nas arquibancadas.
CORINTHIANS
A primeira informação sobre o Corinthians é a de que é impossível comparar ano-contra-ano. Ou seja, não dá para comparar o desempenho de Setembro/18 com o de Setembro/17 pelo fato de que não há dados disponíveis referentes ao ano passado, e no material divulgado pelo clube há dados deste ano e de Dezembro/17. Ajudaria muito ter a informação para podermos fazer a comparação correta. Um ponto a melhorar nas próximas divulgações.
Os dados de receitas do Corinthians em 2018 não são muito animadores.
O principal aspecto positivo está no aumento da Receita de TV, em função de ter disputado a Libertadores neste ano. Mas depois disso não há grandes comemorações.
A primeira é que o valor de venda de atletas já é maior do que o do ano todo de 2017. Se por um lado entra mais dinheiro, por outro veremos que este dinheiro foi usado para investir em outros atletas, sem resolver o problema estrutural de desequilíbrio do clube.
Outro aspecto que chama a atenção pelo lado negativo é o valor bastante singelo de receitas com Publicidade. Apenas R$ 29 milhões, número que não deve chegar nem perto do valor do ano passado (R$ 78 milhões). O clube está com enormes dificuldades de vender sua camisa depois da saída da Caixa.
Nas receitas com Bilheteria, que na prática representam o Sócio Torcedor que não converte sua mensalidade em ingresso, o valor vem inferior ao do ano passado, dado o desempenho ruim no Brasileiro e na Libertadores. Pode ter evoluído no último trimestre com a chegada à final da Copa do Brasil e o efeito da ajuda para respirar na tabela do Brasileirão. Mas não será superior ao ano de 2017.
Para o final do ano o clube ainda terá os R$ 20 milhões de prêmio pelo vice-campeonato da Copa do Brasil, que certamente ajudam a desafogar as finanças.
Na Geração de Caixa vemos um clube com Custos acima do ano passado, uma vez que até Setembro já atingiu o valor total de 2017, mas com Despesas menores.
O efeito disso é uma Geração de Caixa em termos totais que deve fechar pouco acima de 2017, por mais vendas de atletas e pelo prêmio da Copa do Brasil, mas em termos recorrentes um número bastante fraco. Ao excluirmos a venda de atletas da conta, percebemos que o clube opera no vermelho, com custos e despesas acima das receitas. Por isso, acima comentei que o ideal é usar o dinheiro da venda de atletas para equilibrar as contas. Clubes com dificuldade estrutural precisam agir dessa forma. Veremos que não foi o caso do Corinthians.
O clube investiu bem mais em 2018. Foram R$ 63 milhões contra R$ 18 milhões de 2017. Não há dados que permitam entender a aplicação desses valores. Mas foi expressivo, considerando a geração de caixa do período e comparando com o valor de 2017.
Quando comparamos a relação entre Venda de Atletas e Compra de Atletas, vemos que em 2018 houve resultado positivo, mas como o clube precisa de recursos para fechar suas contas e compensar a ausência de patrocínio e bilheteria, deveria ter usado de maneira mais efetiva o dinheiro das Vendas.
A contrapartida veio no aumento das Dívidas, que cresceram R$ 43 milhões nos 9 primeiros meses.
O detalhe que mais nos chama a atenção é o aumento das Despesas Provisionadas. Não há detalhes nas demonstrações financeiras que nos permitam ser categóricos, mas aumento de R$ 35 milhões para R$ 71 milhões, num contexto em que custos com salários cresceram menos que 10%, nos permite ao menos levantar um alerta sobre esta conta. Veremos no fluxo de caixa que foi um financiamento importante à atividade do clube.
Nas demais dívidas vemos pouca variação.
SOCIAL
O Social do Corinthians é um problema faz algum tempo.
Não dá para comparar desempenho, mas podemos perceber que as explorações comerciais perderam força nas receitas e isto ajuda a atrapalhar o desempenho do segmento. Nos Custos e Despesas temos uma comparação percentual muito parecida.
É interessante ler que o Social receberá recursos provenientes de Lei de Incentivo. Não é possível avaliar o uso desses recursos e nem por que entrariam, dado que em 2017 parecem não ter havido. Algo a se acompanhar, uma vez que não há investimentos que os justifiquem, nem custos adicionais.
O fato é que quando comparamos o Futebol com o Social vemos a disparidade de desempenho. O Futebol isoladamente tem desempenho bem melhor, que é forte e negativamente impactado pelo Social, onde os custos e despesas são substancialmente maiores que as receitas.
Note que as receitas caíram 41% no período, em todas as linhas. Não é possível entender e avaliar os motivos, mas naturalmente a crise econômica ajuda muito nesse sentido. O fato é que enquanto o Social tem geração de caixa negativa, ele acaba consumindo a boa geração de caixa do futebol. Em termos totais não são valores desprezíveis, e diminuiriam muito a pressão que o clube sofre para manter suas contas em dia.
No final, não fossem as vendas de atletas, mas especialmente as entradas de capital de giro (os R$ 62 milhões acima, que parte são financiamentos das aquisições mas parte são pagamentos postergados ou receitas de anos anteriores recebidas), o clube teria tido dificuldades enormes em 2018.
EM PARQUE SÃO JORGE…
…a situação está bastante complicada. O que o futebol gera, o social consome. O clube ainda vê seu potencial de marca pouco remunerado, e mesmo com volume expressivo de investimentos, não formou elenco para atrair seus torcedores e manter sócio torcedor elevado. Fecha as contas com mais dívida e precisando vender atletas de forma recorrente. Sinal de alerta ligado, piscando e fazendo muito barulho.