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Paulo Nunes resolveu aparecer em cima de Guardiola. Como só consegue se basear no que ele mesmo viveu como jogador, condenou o técnico por dizer que aprecia o esforço de Gabriel Jesus, mas Aguero seguirá sendo o titular. Nunes afirmou que esta declaração desanimará o reserva brasileiro. Como se tivesse acesso ao cérebro de Gabriel Jesus. Como se este, há três anos no Manchester City, não conhecesse – e respeitasse – a sinceridade de seu comandante. Mais: como se não estivesse acostumado e de acordo com uma realidade que envolve diversos jogadores de seleção. Incluindo a atual campeã mundial.
Enquanto a imprensa brasileira questionava Tite por usar reservas em seus clubes europeus, a França triunfava com o centroavante Giroud – respeitado, porém banco em muitos jogos na Premier League. É um caso cotidiano nos maiores clubes do continente. Tais equipes são seleções internacionais, não raro mais fortes que as seleções nacionais. Jogar regularmente por elas (mesmo sem titularidade absoluta) é sinal de qualidade. Estão habituados a sofisticações táticas e ritmo intenso, bem mais que eventuais titulares de times brasileiros – incluindo, em menor proporção, o Flamengo de Jorge Jesus. A não ser que estejam encostados, vale a pena tê-los entre os convocados. Até goleiros reservas têm se mantido nas seleções. Com bons treinos e jogando nas Copas locais, a história de falta de jogo ficou para trás.
No que tange a jogadores da América do Sul, em especial os brasileiros, a questão primordial é se estão dispostos a aceitar esta possibilidade – ou probabilidade. Um jogador como Everton Cebolinha, atuando no Brasil, é titularíssimo e com direito a privilégios, como não ter que acompanhar o lateral adversário. Caso fosse contratado por um dos primeiros colocados na Inglaterra, não teria nem titularidade assegurada, muito menos sem correr atrás do lateral – coisa que o astro Sadio Mané faz comumente. Adaptar-se exige capacidade de conciliar ambição e vontade de evoluir. Se fosse para um West Ham, como agora especulam com Gabigol, a perspectiva de ser titular aumentaria. Porém, com muito menos chances de disputar títulos e ganhar repertório como faria num City. Mesmo na reserva.
No caso de Gabriel Jesus, quem acompanha seus jogos percebe a evolução. Sua chegada foi retumbante, com gols que levaram a cogitará-lo como sombra imediata para Aguero. Mas era fruto da superconcentração de estreantes (lição ainda atual de Vanderlei Luxemburgo). Quando voltou ao normal, teve dificuldades de posicionamento, movimentação e escolha de jogadas. A dedicação tem feito com que melhore nestes quesitos. Por isso aproveitou a oportunidade na Copa América, em que foi o melhor do ataque nos jogos finais. Não se tornou craque, mesmo porque ser craque é um dom. Mas é um jogador muito mais completo do que era quando deixou o Palmeiras. Viu incentivo onde outros veriam razões para desanimar. Comodismo? Pesquisem o status de Salah e Mané quando tinham sua idade.
Um ponto positivo da década de disputas entre Messi e Cristiano Ronaldo foi o surto de humildade geral. Almejar ser o melhor jogador do mundo é para tão poucos que, assim, a ideia de “estar perdendo tempo” disputando posição também é para ínfima minoria. Algo que o terraplanismo ufanista de nosso meio ainda precisa entender. Não há mais coisas que “só o brasileiro sabe fazer”. Quer fazer parte dos melhores times? Aceite a ideia de não ser necessariamente titular dos melhores times. Ou volte para seu lar de comodismos e ilusões. Como Paulo Nunes teria feito se ainda jogasse. Não teve força de vontade nem há 22 anos. Imaginem agora, com essa concorrência.