Créditos da imagem: ESPN
Protagonista, sim. Hegemônico, não.
Perde-se no tempo a origem do dito popular “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. No mundo do futebol, há quem a atribua ao folclórico ex-presidente corintiano Vicente Matheus, como também há quem jure que o responsável pela sua difusão foi o jornalista esportivo Juarez Soares, nos idos dos anos 70. Enfim, independente do pai da criança, a frase tem um espírito apaziguador e pode ser usada em diversas situações, principalmente quando não há um consenso a respeito de determinado tema. Conforme a entonação, o seu efeito assemelha-se ao tradicional “veja bem, não é bem assim”, comum nos meios políticos.
Por exemplo, na nossa gloriosa mídia esportiva, ainda há muita gente que trata a Seleção Brasileira como se fosse o quinteto americano de basquete, capaz de atropelar todos que lhe apareçam pela frente. Na semana que antecedeu o fatídico duelo contra a Bélgica, o jornalista Luis Augusto Simon, conhecido como Menon, saiu-se com esta: “A verdade é que a Bélgica que derrotou o Japão não assusta ninguém. Nem o Japão. Muito menos o Brasil. Se jogar assim contra o Brasil, a Bélgica será goleada.” Por sua vez, o sempre comedido Tostão excedeu na dose de otimismo: “O Brasil é favorito, pela tradição, equilíbrio e, principalmente, porque tem Neymar”. Será?? Claro que não.
Como disse logo no início, “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”. É indiscutível que o Brasil tem um forte protagonismo no futebol. Palavra que vem do latim – “protos”, significa o “principal” e “agonistes”, que significa “competidor”. O que é em diferente de “hegemonia”, que é a predominância e o domínio sobre os seus adversários. O Brasil participou de todas as Copas desde 1930 e desde o torneio de 1950 sempre começou entre os favoritos. Nestes 88 anos, tivemos dois ciclos hegemônicos. O primeiro entre 1958 e 1970, com três títulos. O segundo ciclo deu-se no período entre 1994 e 2002, com duas conquistas e um vice. Nos demais torneios, tivemos desde saídas honrosas, como na Rússia, bem como vexames históricos, casos de 1966 e do épico 7 a 1.
Há casos de hegemonia no esporte, como da seleção norte-americana de basquete, vencedora de 15 das medalhas de ouro em 19 Olimpíadas. Ou, então, a Nova Zelândia no rúgbi, campeã em quatro oportunidades e vice duas vezes nos sete torneios mundiais já disputados. No futebol, o Brasil é líder no ranking de Copas da Fifa, até por ter participado das 21 edições, mas a diferença de apenas 16 pontos (237 ante 221) para a Alemanha está longe de ser folgada. Aliás, alguém em sã consciência consegue imaginar uma suposta derrota de uma seleção que tenha LeBron James e Kevin Durant por 127 X 68 ( o equivalente a um 7 X 1) dentro de casa? Convenhamos, é impossível…
Então, estamos condenados a uma eterna “síndrome do vira-lata”, como dizia Nelson Rodrigues (“O brasileiro não está preparado para ser o maior do mundo em coisa nenhuma. Ser o maior do mundo em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade”) ? Como todo brasileiro, espero que não. Há uma margem de segurança de praticamente 99,99% que estaremos entre os favoritos no Catar em 2022. Mais uma vez, o Brasil será protagonista e pode conquistar o tão almejado hexa. Temos quatro anos e meio pela frente (a Copa do Catar será em novembro e dezembro) para refletir, aprimorar nossas qualidades e ter humildade para reconhecer nossas limitações.
Acreditar em um status que não temos e exigir resultados de ponta pode ser o caminho para mais uma decepção.
Não mesmo. Nosso maior craque sequer figurou no Top 10 da Fifa da temporada.
Em primeiro lugar, precisamos de um técnico que não seja clubista…
O futebol é muito imprevisível não é como o basquetebol.