Créditos da imagem: Reprodução / ESPN Brasil
As gritarias contra a atuação do VAR no clássico entre São Paulo e Palmeiras mostram como a realidade é tratada no futebol do Brasil de hoje -e no país também. Ela é uma miserável, a última ser levada em conta. Só importa a opinião, que é sempre prévia.
A realidade só não é ignorada quando ela é distorcida, manipulada, deformada. Se a realidade fosse uma pessoa, seria a mais torturada da história do Brasil. Não é de hoje.
Os fatos sobre o lance são incontestes. O árbitro Vinicius Furlan marcou o pênalti, tendo visto um empurrão de Reinaldo nas costas de Dudu. O gesto que ele faz deixa isso claro.
Pelas regras do VAR, a equipe de vídeo tem a obrigação de rever o lance, por ser pênalti. A conversa entre o árbitro e a equipe de vídeo é absolutamente de praxe. É impossível saber o que houve na conversa, mas presume-se que ele foi avisado que o lance não foi de empurrão.
Aí, Furlan foi assistir ao lance na tela. Sem câmera lenta, seguindo as regras. E sem conversar com ninguém, também segundo as regras. Então, Furlan mudou de ideia e anulou o pênalti.
E inquestionavelmente não houve pênalti. Dudu se atirou ao sentir o braço no seu ombro (como isso é inegável, surgiu a tese de que não houve pênalti, mas a decisão não deveria ter sido mudada. Apesar de ser aparentemente um raciocínio esdrúxulo, esse é o único acertado. Mais que um acerto ou erro específico, a coerência do sistema é que deve ser enfatizada.)
Onde está a mínima irregularidade? Onde está qualquer abalo à autoridade do árbitro? Onde está a pressão, o golpe (termo muito na moda desde 2016 e principalmente nos últimos dias?). Em nada, absolutamente nada. Tudo foi feito pelo manual. Não houve questão de interpretação. Houve questão de visão.
É preciso destacar também que praticamente nenhum dos críticos da decisão adotou uma atitude moderada. Fora os ex-árbitros quase ninguém disse “para mim, deveria ter sido diferente” ou “eu discordo, mas era uma decisão difícil”. O tom geral é que houve um absurdo, uma deformação do espírito do VAR, um atentado à integridade esportiva.
Se o lance tivesse acontecido na Europa, não haveria nenhuma polêmica. Mas aqui… Para quem duvida, basta lembrar da Copa de 2018. Em todos os jogos, os narradores elogiaram o VAR. Isso só não aconteceu nos jogos do Brasil, quando o VAR foi uma tragédia, prejudicando o Brasil. Na opinião deles, não minha, claro. E isso gerou uma grande polêmica.
No Brasil, tem sido cada vez mais frequente: as pessoas acreditam no que querem, de acordo com suas posições, independentemente dos fatos. Para ver isso, basta ver que existem duas teorias conspiratórias opostas sobre o atentado ao Bolsonaro. Os setores lisérgicos da direita defendem uma operação dos partidos de esquerda. A ala correspondente da esquerda afirma que não houve facada, mas um imenso teatro, envolvendo até médicos de dois hospitais.
A histeria precisa acabar.
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