Créditos da imagem: EFE/Fernando Bizerra Jr.
Reconheço a bem elaborada argumentação de Gabriel Rostey sobre os incidentes envolvendo Neymar. Porém, devo dizer que nem me espanto, muito menos acho que os extremos e exageros críticos (sem prejuízo das críticas merecidas e proporcionais) são prejudiciais ao jogador. Pelo contrário. Em meio ao oba-oba e à superproteção que costuma rodeá-lo nas grandes expectativas, este contraponto radical chega a ser desejável. Masoquismo? Não. Uma espécie de equilíbrio que tem construído o melhor dele.
Mais de uma vez, a exaltação absoluta já fez o craque brasileiro se perder. O primeiro sintoma veio em 2010, ainda na fase de grupos do Campeonato Paulista, quando o Santos tinha Neymar, Ganso e Robinho. Num clássico contra o Palmeiras na Vila, o que parecia um passeio se transformou em virada e Neymar, nervoso, foi expulso. Isso foi ignorado com o título e seus gols, aumentando os pedidos por uma vaga na Copa. No cenário de fundo, já víamos uma exagerada proteção do comentarista Arnaldo César Coelho, até em simulações escandalosas. Foi, aliás, a semente dos antipatizantes do jogador. Justamente os torcedores de clubes apenados com pênaltis e expulsões descabidas. Isso torcedor de clube não esquece. Torcer para ídolos adversários em Copa nunca foi problema. Para ídolos que geram asco no adversário, não é tão simples assim. Qualquer coisa vira razão para fazer o oposto.
Após a conquista tranquila da Copa do Brasil e os primeiros gols na Seleção, Neymar terminou aquele ano marcado por acusação do técnico René Simões – aquela do “monstro”. No começo da Libertadores de 2011, perdeu-se em incidentes até boçais, como a expulsão por comemorar gol com máscara de si mesmo – desafio irreverente totalmente desnecessário, perante árbitros robóticos da Conmebol. Foi quando as críticas gerais explodiram, dando razão ao treinador. Na partida em que o Santos estava com a corda no pescoço, ele não atuou. Coube a Ganso, voltando de cirurgia, segurar as pontas. Foi preciso a chegada de Muricy Ramalho (taticamente tosco, mas respeitado pelos títulos seguidos) para Neymar baixar a bola. E foi baixando a bola, após ser massacrado (também com acusações falsas, como ser pipoqueiro) que acabou artilheiro e campeão da Libertadores. Do exagero saiu a resposta.
Outro tipo de excesso, porém em forma de gols, também o ajudou. A goleada no Mundial deu ao craque a noção daquilo que aduladores pachequistas jamais admitiriam: o melhor futebol do mundo não estava no Brasil. “Uma aula” – ele mesmo definiu. Serviu, por muito tempo, como catalisador para Neymar. Somou-se a isso o Corinthians de Tite, controlando-o em duas partidas de semifinais. Provavelmente foi sua fase mais humilde – ou menos metida. Foi nesta toada que obteve, em 2013, seu melhor desempenho pela seleção brasileira, jogando praticamente tudo o que podia na Copa das Confederações. Inclusive, não por culpa sua, ajudou a enganar sobre o potencial daquela equipe. Em seguida, foi atuar ao lado de seu ídolo Messi, no Barcelona. A forma como nunca se deixou levar pelas tentativas de fomentar discórdias com o argentino mostra que, por trás de toda a chatice, há algo de bacana nele. Acreditem se puderem.
Porém, mesmo com a evolução, ainda não estava maduro o suficiente para o que viria na Copa do Mundo. Não apenas por ser no Brasil, que dava seus primeiros sinais de uma divisão que dura até hoje. Paralelamente, mas não como acessório, tivemos a óbvia badalação, ampliada pelo primeiro namoro com Bruna Marquezine. Ainda assim, apesar de não ter jogado o melhor futebol (também pela bagunça tática), Neymar não foi expulso e ainda teve a “sorte” de estar lesionado no 7 a 1. Fora do rol de culpados, teve excelente temporada pelo Barcelona e se tornou o único campeão e artilheiro das duas maiores competições continentais. Só não ofuscou Messi porque este foi o melhor da temporada. Mas a temporada de ambos ainda não tinha acabado. Ainda havia um título – e um aborrecimento – por aí.
Neymar não chegou apenas para ganhar a Copa América e aplacar a ira pela surra alemã. Já cogitavam que, se fosse mais longe que o amigo de clube, poderia ganhar terreno na disputa pelo prêmio de melhor do ano. Todo esse entorno, mais o status de “presidente” da Seleção, fez voltar um tempo dispensável. Uma série de chiliques contra a Colômbia o suspendeu até nos primeiros jogos das Eliminatórias. De volta ao Barcelona, teve outra temporada positiva – apesar da queda de desempenho depois de lesão. Jogar ao lado de Messi e Suárez não apenas o ajudava em campo, como dava uma certa licença para ser o mais extrovertido fora dele, em contraste com os sossegados componentes do trio MSN. Nas quatro linhas, o estancamento de resultados e o brilho na espetacular remontada contra o PSG atiçaram o staff e o atleta. Por que não voltar a ser o maior protagonista de seus títulos?
Até aí, embora seja uma decisão nada fácil, não foi absurdo escolher um clube com dinheiro e um ótimo time-base. Tanto que chegou marcando gols e fazendo lances espetaculares. O preocupante nunca foi isso. Seu ponto fraco é virar o dono total do pedaço. O popular “dá a corda que ele se enforca”. O incidente com Cavani foi o cartão de visitas. Não apenas pela controvérsia, mas pelo estado de guerra criado. Assim como tinha seus críticos, também via a legião de apoiadores botar o bloco na rua. O centroavante uruguaio passou a ser reportado como desagregador contumaz – mesmo que não apontassem um único caso anterior de desavença grave. Com um técnico sem autoridade e brasileiros a granel no time, Neymar fez valer seu poder. Paralelamente, a antipatia mundial com seus mergulhos, adormecida nos tempos de Catalunha, também deu as caras. Ações e reações.
Não foi um bom segundo semestre de temporada. Mal foi um segundo semestre. Após partida apenas razoável no jogo de ida contra o Real Madrid, outra fratura o tirou de um confronto decisivo e do resto dos jogos. OK, opera e recupera, sem crise. Mas nada é sem crise quando tem Neymar. O conflito entre CBF e PSG se acirrou. Tinha que operar? Não tinha? Opera aqui? Lá? Precisava mesmo de tantos meses de molho? E isso com a Copa chegando. Quando finalmente voltou, já pela Seleção, os golaços em amistosos reacenderam a obsessão nacional pela Bola de Ouro. “Viva! O Brasil ganha a Copa e Neymar recebe os prêmios!”. Confesso mórbida curiosidade pela seguinte hipótese: Brasil campeão e Neymar segundo ou terceiro nas escolhas de fim de ano. Capaz de dizerem “de que adiantou o hexa????”. Prioridades nunca foram nosso forte.
Foi neste panorama de exaltação que Neymar chegou para a estreia. Tudo girando em torno dele. Seja na engrenagem do time, seja na estrondosa cobertura da mídia – com direito a mais mesas redondas, num mês, do que o ouvido humano é capaz de suportar em vinte anos. Tudo eufórico e favorável. Como viram no começo do texto, é exatamente onde mora o perigo. Faz aflorar o que de pior existe no ser humano Neymar. A situação em que o container sem alça da vida extracampo sabota o craque dentro dele. Com a atuação decepcionante na estreia (inclusive porque esperavam “Peledona” voando sobre os suíços), a adulação rachou. Não apenas pelo futebol jogado – que nem foi tão abaixo assim. As dramatizações e provocações para sofrer faltas, que sequer abalaram o adversário, viraram o assunto da noite. Poderia ter abrandado tudo sendo discreto no jogo seguinte. Só que não.
Não foi somente o pênalti revertido pelo VAR. O festival de chiliques o deixou à beira de ficar fora por mais de um jogo. Bastaria que o árbitro entendesse português. Ou que não fosse contido quando quis afrontá-lo no caminho do vestiário. Todo esse vedetismo não se limitou a cortar a comoção pelo choro. A irritação foi tal que até a veracidade das lágrimas foi questionada. Mas o ponto é outro: com ou sem água salgada, Neymar escancarou seu desequilíbrio. Se seguisse daquele jeito, era questão de um ou dois jogos para o pior acontecer – expulsão, eliminação ou a junção provável de ambos. Finalmente, e felizmente, apareceu uma turba histérica, por vezes estúpida. Até Galvão Bueno passou a promover o que inventou na fórmula 1 – a divisão entre ídolos. Coutinho virou Senna. Neymar, Piquet. Todos sabem de quem o locutor mais gostava…
Por que o “felizmente”? Porque, ainda que involuntariamente, tal como em outras ocasiões, esta reação ajudou seu alvo. Com Tite funcionando de catalisador, quem atuou contra a Sérvia foi um Neymar muito mais próximo daquele que se viu em Barcelona. Em todos os aspectos. Tecnicamente, em vez de querer fazer tudo em campo, respeitou as funções táticas. Resultado: acabou participando mais que nos dois jogos somados. Mentalmente, mostrou-se seguro e distante das dramatizações – tirando a rolada com bis após falta violenta. Não foi uma atuação “cala-boca” ou apoteótica, mas entrou no rumo de uma. E o que prova que o massacre sofrido teve participação nisso? O futebol prova. Os fortes podem não suportar, mas superam o excesso de crítica. No começo, até se abatem ou se descontrolam mais. Depois acham na dor o equilíbrio que a bajulação não traz.
Quem acompanha meus textos sobre o SPFC sabe a que me refiro. Nunca pensei que diria isso, mas sinto muito mais falta dos imbecis que perseguiam Kaká (numa proporção que, embora em número obviamente muito menor, supera até a sofrida por Neymar) que do “apoio incondicional” que hoje toma conta de uma torcida que, reitero, esqueceu o que é torcer por uma grande equipe. Não é, ainda bem, o que acontece na Seleção Brasileira. É o preço das cinco estrelas. Quer fazer história com essa camisa? Conviva com o pior. Se não aguenta, bebe leite – e se naturalize para jogar por uma seleção sem pretensões, só para dizer que foi à Copa.
Quem estragou o NEYMAR foi o desonesto do Pai dele.
Legal. Que ele arrebente então e nos traga o Hexa!
Concordo totalmente com a sua teoria! O Neymar responde melhor quando parecer querer dar um “calaboca” aos críticos. Acho que o caso da medalha de ouro no Rio 2016 foi emblemático!
Embora, sejamos justos, em 2013, quando ele era algo mais próximo de um “menino de ouro do Brasil”, correspondeu bem demais na Copa das Confederações, também…
Sim, eu coloquei que nesta época ele estava mais controlado.
Bom ! Eu acho que a maioria dos brasileiros são curintianos, e flamenguistas, todas essas críticas , ou quase todas são feitas por pessoas que não gostam do santos , consequentemente, não gostam do pelé, Robinho, e neymar!!! Estou careca de ver comentários de curintianos, em redes sociais, descendo o pau no pelé, e Robinho, e agora no Neymar! Mas o pior, pra eles e claro, pelé ganhou copas do mundo, e Neymar , uma olimpíadas! E porque não pode ganhar uma copa do mundo? No mundo do futebol tudo é possível!!! Grande abraço aos do contra, eu antes de ser SANTISTA, sou brasileiro…!
Sou sim crítico de Neymar quando ele tenta resolver tudo sozinho. O futebol é um esporte coletivo , que potencializa o atleta diferenciado , dando a ele a oportunidade de colocar seu jogo . Neymar é sim um jogador espetacular, mas precisa entender que o coletivo é fundamental para ser campeão. Pelé o maior de todos sempre dividiu seu reino com jogadores extraordinários e nem por isso foi ofuscado. Ai vem essa história que não se pode criticar Neymar, ele precisa sim ser mais solidário como foi no último jogo , e podem ter certeza sua qualidade não será afetada por isso.
[…] – Neymar – o que não mata, engorda! […]
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