Créditos da imagem: Reprodução / Twitter oficial do Corinthians
Lá vamos nós falar novamente sobre a importância das finanças saudáveis para que um clube seja perene e tenha sustentabilidade no longo prazo. É, é chato ficar batendo na mesma tecla, mas toda hora surge algo que mostra o quanto isso é verdadeiro.
Nesta semana tivemos duas notícias envolvendo dois grandes clubes brasileiros e suas dificuldades financeiras. Enquanto o Corinthians teve que recorrer a adiantamentos de premiação da CBF e viu a Justiça penhorar um troféu, o Atlético Mineiro sofre com as dificuldades em fechar suas contas, sua tradicional dívida que consome muito dinheiro em despesas financeiras e levanta a possibilidade de vender sua galinha dos ovos de ouro, o Diamond Shopping.
Começando pelo fim, é isso mesmo que vocês leram: o Atlético Mineiro é feliz proprietária de um shopping center em Belo Horizonte. E como sempre levantei nas análises que faço sobre finanças dos clubes, é graças a esse ativo que o clube levanta tantos empréstimos, pois pode dar partes do shopping em garantia de pagamento das dívidas.
O Galo devia ao final de 2017 praticamente R$ 200 milhões, e certamente a maior parte dessa dívida estava lastreada no shopping, que a groso modo deve valer acima de R$ 300 milhões (não é uma avaliação, é apenas um chute). Mas sobre uma dívida desse tamanho incidem juros, que obrigam o clube a dispensar mais de R$ 50 milhões anuais em despesas financeiras, que acabam drenando dinheiro do futebol ou se transformando em mais dívidas.
É isso que você pensou, um círculo vicioso, o cachorro correndo atrás do rabo e por aí vai.
Uma hora essa engrenagem para de funcionar. O mercado financeiro começa a limitar empréstimos e cobrar mais caro porque o risco de inadimplência aumenta. Considerando a garantia, parece não ser o caso, mas é fato que gerir uma dívida desta magnitude, para um clube que gera apenas R$ 50 milhões de caixa anuais não é exatamente uma tarefa fácil. Inclusive porque tira foco do que deve fazer um CFO (vulgo Diretor Financeiro), que é gerir orçamento, fluxo de caixa, discutir investimentos sustentáveis.
O Atlético Mineiro se transformou num dos maiores contratantes do futebol brasileiro nos últimos anos, sempre competitivo. E com isso venceu uma Libertadores. Porque não basta dinheiro e contratar, tem que saber quem e porque contratar. Mas na abundância de dinheiro falta preparo técnico para gerir o esporte. Daí o dinheiro acaba e sobram problemas.
No caso Corintiano o problema tem nome e sobrenome: Estádio e social.
Também é algo que eu falo faz tempo e fui muitas vezes criticado pelos torcedores. O estádio é ótimo na formação da cultura esportiva, cria a aura da casa, do alçapão das conquistas, mas tem custo. E no caso do Corinthians, é alto. Além da dívida a ser paga, drena caixa da bilheteria, que está bloqueada para pagar as dívidas e fazer a manutenção. Como estes valores são insuficientes, ainda retira dinheiro do dia a dia do clube. E ao final, diminui a capacidade de investimentos. Se até 2017 a boa estrutura montada por Edu Gaspar e Tite funcionaram bem na montagem do elenco, o tempo passa, o tempo voa, e as dificuldades surgem nas contratações, os treinadores passam a não dar certo, os reforços que chegam podem não ser os ideais, porque, afinal, já não é um lugar tão sólido financeiramente. O resultado é desempenho ruim, imagem deteriorada, receitas menores, corte mais profundo de custos e voltamos a falar naquele círculo vicioso do Galo.
Para completar, o Corinthians ainda tem uma estrutura de clube social que consome pelo menos R$ 25 milhões anuais do futebol para fechar as contas, mesmo depois de cortar 30% dos custos diretos. O problema é que a crise econômica do país derrubou as receitas em 40% até Agosto deste ano, que fez com que a redução de custos fosse insuficiente.
O resultado disso é que Atlético Mineiro e Corinthians são duas bolhas que estão estourando. Ambos eram bolas cantadas, seja porque as dívidas do clube mineiro eram exageradamente elevadas e incompatíveis, seja porque o estádio e social eram problemas óbvios do clube paulista. Mas o fato é que para aqueles torcedores “que não vivem de finanças”, a hora da verdade chegou. Talvez seja dura, mas é a realidade.
Há solução? Sim, sempre há. Cortar custos, cortar custos, cortas custos, adequando-os às receitas. Depois disso, aumentar as receitas, e junto buscar eficiência na gestão esportiva. É difícil, não faz o torcedor feliz, gera reclamação quando se vai à padaria tomar um café, mas é o que o dirigente sensato deve fazer. Afinal, por mais que alguns não gostem, todos os clubes e torcedores vivem sim de finanças em dia.