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Muito se tem falado sobre o fim dos apelidos e o frequente uso de nome e sobrenome para identificar os jogadores brasileiros em atividade. Essa seria uma evidência de que o futebol é hoje menos espontâneo e mais pobre em talento.
Realmente, as tradicionais fichas técnicas, com escalações no pé das reportagens sobre jogos, estão ocupando muito mais espaços. Também é visível que o crescimento da adoção de nomes compostos coincide com a escassez cada vez maior de jogadores talentosos. Trata-se, portanto, de uma opinião que tem lógica, mas certamente não é o único indicativo de queda de qualidade.
Apelidos diminutos como Pelé, Zito, Didi, Vavá, Zico, Tostão, Dudu, Edu, entre outros, têm um volume de talento por letra infinitamente maior do que os alfabetos inteiros usados para se dar a escalação dos times atuais. Mas também é verdade que, entre os craques do passado, sempre figuraram nomes compridos, como Nilton Santos, Mané Garrincha, Djalma Santos, Mauro Ramos de Oliveira, Jair da Rosa Pinto, Ademir Menezes, Ademir da Guia, Gilmar dos Santos Neves e o frequente Roberto Rivellino. Nomes grandes, de grandes craques.
Nem sempre a qualidade ou a falta dela está ligada no tamanho do nome. Mesmo porque, antigamente, era até comum se aumentar os apelidos, somando a eles adjetivos que ficaram marcados para sempre. Quem não se lembra das expressões Gênio Pelé, Mestre Didi, Amarildo o Possesso, Galinho Zico, Vavá Peito de Aço etc. E não só nos apelidos, como prova o justo título Enciclopédia Nilton Santos, Ademir Queixada Menezes etc.
Lembremos também que em tempos não tão distantes tivemos alguns nomes compostos de respeito. Roberto Carlos, César Sampaio, Ricardo Gomes, Ricardo Rocha estão aí para provar. E alguns apelidos insistiram em sobreviver, encantar e ganhar títulos: Bebeto, Cafu, Careca, Dida, Vampeta, Luizão, Kaká etc. Fora os nomes simples como Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Romário, Neymar…
A questão é que, curtas ou compridas, as denominações dos craques costumavam identificar, nos áureos tempos, a relação de intimidade com a bola que transcendia as peladas do bairro para levá-los ao topo da fama. Ficaram marcadas como selo de qualidade que acompanhava a formação de foras-de-série nos campinhos da vida. Para exemplificar, basta um pequeno exercício: Mané Garrincha poderia ser conhecido desde garoto como Manoel, Pelé poderia ser Edson Nascimento, Zico ser chamado de Arthur Antunes, mas todos continuariam a ser imortais na memória dos amantes do futebol. Eram tempos em que as cidades tinham campinhos a cada quarteirão. Não havia as variadas opções de brincadeiras eletrônicas, nem as “prisões” dentro dos condomínios, frutos da insegurança geral. Os garotos jogavam por amor, dormiam com a bola. Os clubes eram frequentados por muita gente, tinham times de respeito nas mais variadas faixas etárias. A meninada batia bola entre amigos, faziam duelos com ruas vizinhas. Enfim, a presença do esporte nas vidas das crianças e adolescentes era marcante e natural.
Isso explica por que a falta de talentos não é apenas uma questão de nomes ou apelidos, e sim fruto da relação que seus donos tiveram com a bola desde a primeira idade. Antes, havia mais intimidade, cumplicidade nesta relação. Usando uma expressão boleira de antigamente, hoje tem muito mais gente chamando a redondinha de “Sua Excelência” e cada vez menos craques que podem chamá-la de amiga, gorducha etc. É aí que mora o problema: falta intimidade e sobra formalidade. É nessa equação que o talento perde espaço.
O maior de todos atende simplesmente por… P E L É.
Liiindaas
Análise muito interessante! Eu ainda acho que o pior é quando vemos empresários querendo esconder o apelido dos jogadores, como aconteceu com o Ganso (quiseram empurrar um “Paulo Henrique Lima”), o Dentinho (tentaram implacar “Bruno Bonfim”), etc.
Não entendo mesmo essa lógica, afinal, apelidos são raros atualmente, e tudo que é raro acaba se destacando mais.