Créditos da imagem: Reprodução BBC Sports
Há pouco mais de um ano, escrevi coluna sobre Lucas Moura (só Lucas, para os tricolores), lamentando a impressão de que deixara a carreira de lado. Como são-paulino e fã, devo dizer que estava chateado com o desperdício de tamanho potencial – vide a bagunça que o SPFC ficou em 2013, comprovando que o camisa 7 carregava os companheiros nas costas. Passados cinco anos na Europa, parecia um adolescente jogando entre adultos. Encerrei mencionando que ainda havia como correr atrás do tempo perdido, na então concretizada transferência ao Tottenham. Só não esperava ir às lágrimas com o que fez nesta semana. Foi a vez de o garoto assustado assustar o mundo.
Que não se pense que a temporada é um mar de rosas nos Spurs. A concorrência por uma vaga entre os titulares é alta. Uma grande fase de um coloca outro no banco. Neste cenário, Lucas alterna titularidade e reserva. A diferença está no verbo acreditar. O clube (técnico, companheiros e torcida) acredita no seu futebol. Consequentemente, ele voltou a acreditar em si mesmo, como não mostrava há muito tempo. Desde que um certo técnico de seleção, incomodado com pedidos da torcida para vê-lo em campo, fez seus amigos da imprensa plantarem duas histórias – a alegria nas pernas de Bernard e uma suposta má fase de Lucas. Um dos raríssimos casos de atleta em má fase sem jogar. Ocorre que uma peculiaridade da má fase é que ela pode começar de fora para dentro. De tanto ler que está mal, o jogador perde a confiança. Foi o início da invisibilidade de Lucas.
Para complicar, o amadorismo bilionário do PSG encheu sua posição com nomes tarimbados. No lugar de darem tempo e espaço a uma das contratações mais caras de sua História (Neymar só viria anos depois), partiram para outras alternativas. Ainda assim, Lucas teve alguns bons momentos. No final de 2014, era um dos mais populares entre a torcida. Mas, na imprensa, ainda havia colunista francês dizendo “Lucas não é jogador de futebol”. Por sua vez, os técnicos se preocupavam mais em adaptá-lo que em se adaptar a suas virtudes. As boas jornadas logo eram deixadas de lado e o jogador ousado desaparecia. Tornou-se ordinário e dispensável. Pior: aparentava não estar incomodado com isso. Foi preciso a extrema reserva para finalmente sair e mostrar que sim, é um jogador de futebol. Deve estar imaginando, hoje, a cara de tacho do brilhante crítico parisiense.
Para dar a volta por cima, Lucas mostra uma compreensão do jogo fora da zona de conforto. Sua jogada favorita, pegando a bola arrás e se infiltrando pelo meio, só funciona se a fizer no tempo certo, com os colegas atraindo a marcação. Ao mesmo tempo, ele também tem que atrair a marcação para que os outros joguem. No PSG, não raro ficava parado assistindo à partida, sem saber quando e onde ir. Mas o essencial de sua melhora é hesitar muito menos. Em Paris, parecia temer uma bronca se errasse. Agora faz a sua jogada, “no matter what”. Poderia ter ido aos holofotes sábado passado, quando esteve a centímetros de fazer um gol de trás do meio-campo. Contra o Ajax, um mínimo fraquejo teria impedido qualquer dos três gols. O goleiro defenderia o primeiro, ficaria enrolado no segundo e o defensor prensaria o chute do terceiro. A confiança não foi tudo, mas foi muito.
Qual será o futuro de Lucas depois desta jornada heroica? Voltará à seleção? Vai se firmar como ídolo internacional? Difícil dizer agora, sendo que nenhuma das missões é simples. Mas tenho uma certeza: não será mais invisível. Terá o respeito de quem estiver ao redor. Não o veremos, como não o vimos nem na pior das fases, chorando as pitangas para voltar ao Brasil e se destacar num futebol cada vez mais pobre. Lucas vai jogar. Para tanto, terá a torcida dos são-paulinos, testemunhas de seus esforços para se superar ainda no Morumbi. Eles sabiam, depois do segundo gol, que o Ajax estava em apuros maiores que o imaginado. Lucas “on fire” é, literalmente, fogo…