Créditos da imagem: Reprodução UOL Esporte
Sobre Juarez Soares e os tempos em que a Band era O esporte na TV
Brasileiro fã de esportes, crescido nos anos 1980, só pode ter sido telespectador da Bandeirantes, com seu Show do Esporte. No comando, Luciano do Valle. Como uma espécie de braço direito, Juarez Soares. Chegaram até a promover uma espécie de gincana com o que, hoje, seria o Team Bolacha e o Team China. Encheram ginásios com as disputas que terminaram com vitória de Juarez. O comentarista era o principal defensor de uma forma de abordagem despojada, em que os integrantes da transmissão pareceriam estar na casa do espectador. Por muitos anos, foi um sucesso. Não é de espantar que sentíssemos muito mais carinho por eles que pela Globo. Luciano, China, Sílvio Luiz, Osmar de Oliveira, Álvaro José… Era a turma boa praça.
Muitos outros anos se passaram. Parte deles já se foi. Entre falecidos e remanescentes, também se foi a impressão de que eram a última palavra no que opinavam. Em 1988, víamos Maguila em condições de enfrentar Mike Tyson, tal a credibilidade de Luciano. No fundo, eles deram subsídios para que aprendêssemos a sacar as coisas – mesmo que contra os próprios. Uns perderam qualidade por força do tempo. Outros deram lugar a novas gerações. E outros se entregaram a perfis histriônicos ou fanáticos que, mesmo rendendo empregos, mancharam o legado de 30 anos atrás. Lamentavelmente, foi o caso de Juarez. Não só dele. Osmar de Oliveira, antes respeitável na medicina esportiva, virou uma Dona Concheta corintiana. Já o primeiro mal a assolar o China foi uma mágoa política que, viemos a perceber, moldava opiniões de longa, longa data.
Zagallo foi, visivelmente, um dos mais criticados por Juarez em toda a sua carreira. O combustível da discórdia foi algo que considerou imperdoável: substituir o comunista João Saldanha na seleção de 1970. A antipatia era tal que gerou uma acusação, nunca provada e negada por ele, de que teria socado a mesa de raiva, quando Bebeto fez o gol que salvou a seleção de 1994 contra os EUA. Mas o desgaste, bem como o envolvimento com questões partidárias, fez com que perdesse espaço na Band. Com décadas de serviços prestados, passou a sobreviver na carreira assumindo aquilo que já dava na vista. Torcedor do Esporte Clube São José, que nada. Era Corinthians, mesmo. Como são-paulino, já tinha percebido isso na final do Paulistão de 1987, quando ele e o Bolacha trataram meu time como se fosse estrangeiro. Gol do tricolor? “Viu? Não marcaram o Silas!”. Foi mal*?
Onde quer que estivesse, Juarez não aparecia mais pelos comentários simples e precisos, resultados de décadas vendo e aprendendo com o futebol (e boxe, que lutou na juventude). Passou a ser um dos “mascotes” de debates esportivos. Sim, aqueles que entram para provocar – no caso dele, sempre a favor do Parque São Jorge, depois Arena. Os dois fanatismos o fizeram ser odiado por outras torcidas. No Troféu Até Minha Avó Faria Melhor (dado pelo FOMQ aos piores da mídia esportiva), chegava a ser irritante quando “vencia” jornalistas com trabalhos mais (in)dignos de nota no ano. Nunca levou o “prêmio”, porém chegou perto. Foi nesta toada que seguiu trabalhando até ser impedido pela doença. Como outros nomes da imprensa esportiva, viveu para passar de estrela da companhia a figurante de ópera bufa.
Finda a trajetória de Juarez Soares, é o momento de reconhecer seu valor e lamentar o desrespeito que ele impôs à própria História. Mas, se esta foi sua vontade e foi assim que seguiu perto do microfone, no fim das contas há que se respeitar as escolhas – ainda que sem aplausos. Da minha parte, posso dizer que seu passamento reforçou saudades de tempos felizes (não que estes não sejam) dos anos 80. É lá que China, Bolacha, Sílvio, Elia, Elis, Simone, Mário Sérgio, Dr Osmar e tantos outros seguirão sendo nossos heróis da cultura esportiva. O que veio depois, pelo menos agora, não importa.
*bons tempos aqueles – pro meu SPFC…
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