Créditos da imagem: A Bola
Há cerca de um mês, ao desembarcar de uma polêmica viagem à Europa (o gasto de 40 mil reais e os objetivos da mesma foram questionados), o deputado Mário Jardel (PSD) teve 10 quilos de bacalhau transportados dentro da mala apreendidos.
De acordo com o Ministério da Agricultura, o transporte desse tipo de alimento só pode ser realizado com a apresentação de uma certificação sanitária emitida pelo país de origem, uma vez que o produto tem entrada proibida no Brasil. Ainda, também foram apreendidas nozes, conservas de pescado e cerca de 1,2 kg de queijo.
Esses mesmos produtos estão disponíveis no Mercado Público de Porto Alegre, distante poucas quadras da Assembleia Legislativa do RS, onde Jardel, ex-ídolo gremista, exerce seu primeiro mandato como deputado estadual. Ou melhor, exercia.
Ontem (30/11), Jardel foi suspenso de suas funções pelos próximos 180 dias. E é difícil acreditar que ele volte a exercer esta função pública, tal o caudal de denúncias documentadas em gravações e vídeos.
Batizada de “Gol Contra”, a operação do Ministério Público foi fulminante e pode ser a pá de cal na imagem do ex-atleta levado às urnas e apadrinhado pelo ex-colega de clube, Danrlei de Deus Hinterholtz, atualmente deputado federal pelo mesmo partido.
Danrlei já ensaiava um descolamento de Jardel antes do episódio do bacalhau e agora diz que cada um tem seu caminho a seguir. Mas qual será o caminho que resta a Jardel?
Segundo o MP, ele é suspeito de peculato, concussão, falsidade documental, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Também é investigado por financiamento do tráfico de drogas com dinheiro público. Os detalhes são sórdidos.
Uma curiosidade: com o afastamento de Jardel, o primeiro suplente que pode ocupar o cargo em sua substituição é ………. outro ex-jogador do Grêmio. Tarciso Flecha Negra atuou no clube durante 13 anos e participou de importantes conquistas do time como a Libertadores e o Mundial de 1983. Natural de São Geraldo, em Minas Gerais, aos 64 anos ele cumpre o segundo mandato como vereador de Porto Alegre, pelo PDT.
A carreira de futebol
Revelado pelo Vasco da Gama, Mário Jardel chegou ao Grêmio em 1995, sem muito “oba-oba” ou qualificações. Mas duas temporadas depois, o grandalhão desajeitado conquistou os torcedores gremistas que, passados vários anos e uma carreira em declínio, lhe retribuíram os gols com uma expressiva votação à Assembléia Legislativa com mais de 40 mil votos.
Jardel foi campeão da Libertadores (artilheiro com 12 gols) e Gaúcho em 1995, e no ano seguinte vendido para o Porto, de Portugal, onde foi tricampeão nacional entre 1997 e 1999, se destacando tanto que entrou para a lista dos maiores atletas do clube em todos os tempos.
Nascido em Rio Negro, no Ceará, o atacante de 1,88 saiu do Porto e perambulou pela Turquia, Inglaterra, Itália e Espanha sem o mesmo sucesso. Ensaiou uma volta ao Grêmio, sem sucesso, em 2008. Nessa fase, os problemas com as drogas já eram de conhecimento público.
Passeou pelo Criciúma, e em 2009 chegou ao Ferroviário, do seu Estado natal. No mesmo ano, passou pelo Rio Branco-AC, e em 2010 se transferiu para o Flamengo-PI e em seguida para o Cherno More, da Bulgária. Em dezembro, Jardel foi contratado pelo Rio Negro-AM e no dia de sua apresentação chegou a desfilar em carro do Corpo de Bombeiros…
De maneira que, ao menos futebolisticamente, a sua carreira foi um sucesso, com direito até a convocação para a Seleção Brasileira.
Emblemático o caso de Jardel e várias e tristes as suas nuances. É patético o recente vídeo no qual declara, visivelmente alterado, o voto que resultou em um polêmico aumento do ICMS no Estado.
O “caso Jardel”, pelo menos para mim, reforça uma série de questionamentos sobre como o futebol alavanca carreiras para o espaço público de atletas que demonstram falta de preparo para o cargo.
Não só de atletas, mas também de dirigentes de clubes que transitam sem o menor pudor entre a esfera pública e privada, nem sempre com bons resultados para ambos os lados. Vide a cúpula da FIFA.
Oportuno e muito bem escrito. É muito triste constatarmos que algumas pessoas tenham tido uma rara oportunidade na vida e que não possuiam preparo moral e/ou intelectual para aproveitá-la. Este é apenas mais um caso de centenas de outros. Abraços LENA.
maconhero