Créditos da imagem: ESPN Brasil
Quem é ele, afinal? O supermanager dos sonhos caiu da cama
Há mais de trinta anos, no programa Viva o Gordo, Jô Soares e Francisco Milani protagonizaram um quadro antológico que, lamentavelmente, não foi parar em nenhuma antologia do humorista. Nele, ambos presenciavam um discurso de homenagem a determinada pessoa. Na medida em que o discursante cita as qualidades do homenageado, Jô especula (“deve ser fulano”) ou descarta (“não pode ser fulano”) sua identidade. No momento de falar o nome do portador de tantas virtudes, dá um branco no discursante. Jô dispara para Milani: não é que ele esqueceu; esse homem não existe. Passando da comédia televisiva para a da vida real, o debate esportivo vive esta exaltação ao desconhecido quando o tema é “gestor de futebol”. Pode ser chamado de “gerente”, “CEO”, “diretor geral” ou o que for. A verdade é que ninguém consegue preencher todos os requisitos imaginários do cargo. Ter tantos predicados em conjunto é ficção da crônica esportiva – seja em jornais ou botecos.
O tilt da concepção onipotente do cargo é achar que abundam profissionais capazes de gerir uma empresa e, ao mesmo tempo, conhecer futebol com profundidade. Se existe um fato certo neste esporte, é que todos entendem dele menos do que imaginam. Mais: ter ciência disso é fundamental para que sigam aprendendo e se aproximando de um conhecimento ideal que nunca virá. Até Guardiola, revolucionário sem deixar de ser vencedor, segue atrás de respostas. Imaginem alguém que, por mais que acompanhe e discuta o futebol, sempre o teve como passatempo. Tornar esta paixão uma profissão não é mera questão de ser pago. Tampouco dá para ler manuais a respeito. Não foram feitos. Se foram, é grande a chance de serem picaretagens. Até por isso se pensa em ex-jogadores e ex-técnicos. Aí surge a outra lacuna: ter feito parte de um time, ou mesmo haver comandado este time, não torna ninguém administrador porque fez um curso. Falta a prática. Não surpreende que vários ex-jogadores desistiram e ex-treinadores voltaram à prancheta.
Deste primeiro equívoco surge o segundo, que é dar carta branca ao gestor de futebol na montagem do elenco. Parece ser uma ideia mais americana que europeia. Explica-se: os esportes populares dos EUA permitem, até para quem não viveu deles, que uma boa leitura das estatísticas seja suficiente. Não é o caso do soccer. Por mais que alguns se esforcem de modo hercúleo – e insuportável – para resumir partidas de futebol em números, estes dizem muito menos verdades que no basquete, no futebol americano e no beisebol. Não raro, levam a erros crassos de avaliação. Se tentasse usar seus métodos com a bola maior e redonda, o personagem de Brad Pitt em Moneyball acabaria na sarjeta. Em 2015, Gustavo Oliveira tentou fazer algo parecido no São Paulo. Para melhorar o meio-campo, trouxe o obscuro Jean Carlos porque era líder de assistências da série B. Jogou por menos de meia hora e voltou ao Vila Nova. Gugu Oliveira levou mais de cem mil por mês (fora bônus) para brincar de Fantasy com caixa alheio. Podia ao menos ter consultado o tio Raí…
Numa das minhas primeiras colunas no site, sugeri uma série de mandamentos do gestor do futebol (que contaram com a colaboração valiosa de Cesar Grafietti, do Banco Itaú). Um deles fala do que postei acima, sobre o conhecimento real ser menor que o imaginado. Por esta razão, contratar deve ser tarefa de um grupo. A troca de informações reduz erros. O conjunto deve envolver técnico e observadores orientados por este, para certificar se o atleta cogitado corresponde às necessidades técnicas e táticas prescritas. E o gerente? Deve fazer exatamente o que o nome sugere: gerenciar. Significa organizar o caixa e orientar os gerenciados sobre quem – e por quanto – pode vir com esse capital. Exemplificando: “o técnico comunicou que precisa de um meia, um atacante e um zagueiro? OK, mas o orçamento permite um jogador de nível médio de cada posição. Se quiser um top, vai ter que preencher uma das outras vagas com a base, ou arriscar com o banco de dados do departamento de análise.” No fim, todos são corresponsáveis pelo sucesso e pelo fracasso.
Claro que seria tão simples se fosse tão simples. Esta fórmula só terá chance de funcionar se os escolhidos forem bons. Aliás, o que mais distingue o bom gestor é saber formar uma equipe. No caso do futebol, a principal escolha está no técnico. É como produzir um filme. Pode ter um orçamento formidável, atores de primeira, roteiro promissor, etc… Se errar no diretor, não há estrela ou efeito especial que resolva. O efeito dominó é inevitável. Sem um treinador capaz de dizer o que pretende de jogadores, o departamento de análises não passa de sessão palpite. Sem confiar no taco do diretor para indicar os atores, ou na sua visão do filme, o produtor-gerente começa a se meter. Se der em fiasco, ninguém no clube ou no estúdio assume a criação do camelo*. O que nos leva a concluir, pois sim, que a crise de técnicos afeta diretamente a transição do diretor abnegado para o remunerado. Deixa de fazer fazer sentido manter uma estrutura profissional para obter o mesmo que um modelo amador, que teria um salário vultoso e inútil a menos.
Passando aos casos concretos dos endinheirados Palmeiras e Flamengo, Alexandre Mattos e Rodrigo Caetano fizeram o oposto do sugerido acima. Preferiram o modelo heroico de tomar conta de tudo, começando a temporada com iniciantes. Com isso, sentiram-se fortes para trazer os jogadores que queriam e dizer “virem-se” aos técnicos Zé Ricardo e Eduardo Baptista. Com elencos divorciados das filosofias dos treinadores (incluindo quem veio depois), o resultado foi a participação ruim na Libertadores. Agora o Flamengo poderá se contentar, no máximo, com a inexpressiva irmã da Gretchen. O Palmeiras, mesmo com uma – ainda improvável – virada no Brasileirão, deverá isso mais ao baixo nível alheio que a seus méritos. Vale lembrar que os títulos de Mattos, desde o Cruzeiro, aconteceram com muito dinheiro por atletas que mal jogaram. Não é diferente com Caetano, que trouxe até Conca (não a Conga, já que falamos da musa brega) para nem ficar no banco. É como comer a mesma coxinha e tomar o mesmo refrigerante que os outros. Só que pelo triplo do preço.
Conclusão: nem Rodrigo, nem Alexandre, nem Gugu e muito menos seu sucessor Pinotti (este mais remunerante que remunerado) deve ser o homenageado que Jô tentava adivinhar. Na gestão profissional do futebol brasileiro, por enquanto ele também não existe.
*”O camelo é o cavalo projetado por uma comissão” – anônimo
Senhores Jose Carlos Peres, Andres Rueda Garcia, e Nabil Khaznadar, bom dia!
Por favor, gostaria de saber a opinião dos senhores (enquanto candidatos à presidência do Santos Futebol Clube), a respeito do tal “gestor de futebol”, tema tratado no texto do grande Gustavo Fernandes.
Obrigado e um abraço!
CONCORDO COM O AUTOR DO TEXTO.
HÁ DE SE TER MUITO CRITÉRIO PARA A CONTRATAÇÃO DE JOGADORES, POR EXEMPLO (PARA FOCARMOS APENAS EM UM ASSUNTO ESPECÍFICO).
ESPECIALMENTE NO SANTOS, MEU TIME DE CORAÇÃO, QUE NÃO TEM DINHEIRO PARA CONTRATAR NA BASE DA BACIADA (OLHA O TANTO DE BOBAGEM QUE PALMEIRAS E FLAMENGO DO MATTOS E DO CAETANO ANDAM FAZENDO), OS TIROS TÊM QUE SER CERTEIROS.
É DIFÍCIL TER GARANTIAS NO FUTEBOL, MAS UM COLEGIADO DE ESPECIALISTAS (GENTE QUE DE FATO ACOMPANHA FUTEBOL, SEM ACHISMOS E SEM INTERESSES ESCUSOS)PODE MINIMIZAR A CHANCE DE ERRO.
ESSES GRINGOS “DE SEGUNDA” QUE O SANTOS TEM, DE ONDE ELES VIERAM? E COMO SE LIVRAR DELES AGORA?
OUTRA COISA QUE NÃO SUPORTO SÃO OS RADICALISMOS: OU “SÓ MEDALHÃO” OU “SÓ APOSTAS”.
QUE SE BUSQUE UM EQUILÍBRIO SENSATO.
MAIS UM PONTO QUE JÁ VI SER TRATADO AQUI NO ÂNGULO E QUE CONCORDO MUITO. POR QUE OS CLUBES BRASILEIROS NÃO REALIZAM MAIS TROCAS ENTRE SI?
É MUITA COVARDIA E FALTA DE GRANDEZA.
ACHO MESMO QUE DÁ PARA TODOS OS LADOS SAÍREM GANHANDO NUMA TRANSAÇÃO…
ENFIM, PARABÉNS PELOS TEXTOS DO SITE, CADA VEZ MELHORES!
Wladimir Mattos
Orlando Galante Rollo
Odir Cunha
Amir Somoggi
Um texto excelente e que retrata a situação atual dos grandes clubes aqui do Brasil. Muita pompa para pouco resultado.
Artigo necessário, para levar o tema ao centro do problema.
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