Créditos da imagem: James Williamson – AMA/Getty Images
Cinco motivos pelos quais o fracasso do Flamengo no Mundial pode ter sido tudo, menos surpreendente.
1 – o Flamengo já estava manjado até mesmo nas conquistas de 2022 – depois de uma explosão de desempenho rubro-negro, na base de doping emocional (melhora do ambiente) e novos posicionamentos, os adversários vinham encontrando lacunas a explorar. O Corinthians do próprio Vítor Pereira, mesmo com dificuldade de articulação, conseguiu ocupar os buracos de um Flamengo espaçado, sem auxílio na marcação pelas laterais e com a zaga recuada demais – bem diferente de 2019. Tanto os dirigentes pareciam saber disso que não renovaram com Dorival, mesmo com este cotado para a seleção brasileira.
2 – intocáveis demais, marcação de menos – em qualquer time, os pontos vulneráveis podem provocar desastres se não forem tratados com zelo. O Flamengo tem falhas táticas e técnicas crônicas. Ninguém do quarteto imaculado forma linhas defensivas pela lateral. No máximo, dão o popular “migué”. Com o acréscimo de Gerson ao grupo imexível, a fragilidade defensiva se acentuou. Com o esforçado (e só) João Gomes na Inglaterra, o espaço no meio virou latifúndio. Comentaristas até falaram disso. Mas, na hora de sugerir mudanças, pareciam querer que o time atuasse com 12 ou mais jogadores. Afinal, esse não pode sair porque é artilheiro, o outro porque é decisivo, aquele porque é maestro…
3 – prioridade, mas naquelas – pode-se dizer que a temporada do Flamengo em 2022 acabou tão logo venceu a Libertadores. O retorno ainda foi atrasado para depois do Natal. Isso num clube cuja suposta missão de honra era chegar ao início de fevereiro em alto rendimento físico. No primeiro teste de verdade, o Palmeiras aproveitou as avenidas. Sem tempo para corrigir a formação titular, a prudência recomendava reunir todos e deixar clara a necessidade de adaptações urgentes para não passarem vergonha – inclusive deixando alguns titulares só para o fim dos jogos. Só que o treinador preferiu nada fazer a respeito. Medo de mexer num vespeiro em que era recém-chegado.
4 – olhos só para Madri – o noticiário rubro-negro destacou mais os problemas do Real Madrid que a própria forma do Flamengo. Faltou observar que as dificuldades eram causadas por times fechados atuando na espera – o inverso do que os deuses da crônica esportiva exigem do rubro-negro. E o adversário da semifinal? Oras, era só “jogar sério” e partir pra grande decisão. Nem mesmo a dificuldade de 2019 (quando o Flamengo estava na ponta dos cascos) e o retrospecto sul-americano em semifinais de Mundial (50 % nos últimos anos) justificaram maiores cautelas. Preferiram ver o Mallorca.
5 – a decadência do futebol sul-americano – a Copa vencida pela Argentina, com apenas um jogador atuando no país, não é o renascimento do futebol doméstico do continente. No Brasil, o sucesso dos técnicos estrangeiros abriu os olhos para a necessidade de atualizar esquemas, mas as mudanças esbarram em limitações individuais. O domínio brasileiro na Libertadores não significa, portanto, um aumento de patamar. Os outros é que, com pandemia e outros problemas, pioraram muito. O papel da América do Sul, em termos clubísticos, é fornecer pé de obra (quando muito) para os clubes europeus. Quase uma relação metrópole-colônia em pleno século 21.
Por isso ninguém deveria dar a derrota de quarta – ou, eventualmente, na decisão do bronze – como espantosa. Enquanto insistirem com um Mundial desnecessário, o papel do representante brasileiro será tão somente chegar em forma e concentrado em fazer o melhor possível. Do contrário, vai continuar sonhando com o Real e caindo na reAL.