Créditos da imagem: Wilton Junior/Estadão
A queda de rendimento do SPFC entristece e até irrita a torcida (o que é um avanço, considerando os anos de comportamento bobo alegre), mas não surpreende. Fazia parte das hipóteses previsíveis ainda por ocasião do melhor momento da equipe. Fosse pelo esquema tático das antigas, fosse por problemas físicos, fosse por uma eventual concorrência de times reconhecidamente mais fortes. Ano passado, o Corinthians patinou por todo o segundo turno, mas os adversários não se aproximavam o bastante. Desta vez, o pelotão da frente não se afastou – o que trouxe mais pressão a um elenco desacostumado a estar na ponta.
O maior entrave é visto a olho nu. Everton foi a contratação mais precisa do campeonato. Sua ausência reforçou tal impressão. Mas o tempo de afastamento era mais certeza que risco, dado o histórico de contusões no Flamengo. A introdução de seu futebol deu um elemento incisivo a um time que tocava a bola sem saber para quê. A equipe passou a trocar menos passes, mas as chegadas ganharam letalidade. Em especial, nos contragolpes em que ele dá o passe ou fecha para concluir, além de conseguir pênaltis com sua velocidade. Reinaldo se tornou seu substituto “não natural” e foi bem contra o Corinthians, mas era questão de alguns jogos para os técnicos adversários dificultarem seu repertório reduzido – para a posição adiantada. Uma opção seria reproduzir as jogadas pelo lado contrário, mas Rojas não tem o mesmo arsenal de lances – principalmente na área.
Tende a se frustrar o torcedor que, por dedução básica, acreditar que o rendimento geral será o mesmo com a volta de Everton. Seria tão simples se fosse tão simples. O jogador e seu time encontrarão adversários mais preparados para a tática de Aguirre. Um problema de usar um esquema antigo como solução (no caso, um 4-4-2 nos moldes europeus da década passada) é que ele não se tornou ultrapassado à toa. Meios foram desenvolvidos para anulá-lo e as informações correm por aí. Não precisa ser um mestre para utilizá-los. Fica mais complicado com a insistência em dois volantes apenas marcadores pelo centro. Estranhamente, Aguirre esquece que a arrancada pós-Copa aconteceu com Liziero no lugar do contundido Jucilei. Sem um volante capaz de criar (como Fletcher no United de Ferguson), bastará a versão básica do “manual” do treinador adversário.
Há também uma questão quase metafísica: o momento mágico passou. Antes dava tudo certo. Uribe perdeu um gol feito. Barcos perdeu pênalti. Erros de Sidão e Anderson Martins não eram aproveitados. O bom astral certamente rendeu pontos a mais. Uma hora isso acaba, como acabou. Aquela bola salvadora é salva pelo goleiro ou pela trave. A jogada despretensiosa vira gol do adversário. O reverso da fortuna tira a confiança e encerra os efeitos do doping emocional (estádio lotado) e da superconcentração. O elenco limitado que se superava fica apenas limitado. Os esforços se tornam maiores para conseguir resultados teoricamente fáceis, sendo que é só relaxar um pouco para que os bons fluidos deem lugar à Lei de Murphy. Foi o que aconteceu contra o América, um time que não conseguia trocar três passes sem deixar a bola ir pela lateral. E fez um gol na única que acertou.
Claro que o mapa astral pode – e deve – ganhar um empurrãozinho pra voltar a ser favorável. Aí que entra a tarefa incompleta da gestão. Acertou em cheio ao trazer os jogadores que viabilizaram o time titular. A mesma felicidade não se repetiu nas vindas de Everton Felipe e Bruno Peres. O ex-Sport não tem velocidade pela ponta, nem mostra qualidades para deixar Nenê descansar um pouco. Por sua vez, o substituto de Militão não passa a mesma firmeza na marcação e não vem sendo efetivo no ataque. Pior: sua lesão fez com que Aguirre cogitasse a volta do talismã ao contrário – Rodrigo Caio. O lobby pelo jogador, símbolo dos anos deprimentes, segue forte. Explicações técnicas e táticas à parte, o medo de bruxas não faz esquecer que seu retorno coincide com a acentuação das dificuldades. Assim como a caça ao primeiro lugar começou com sua última cirurgia…
Não é impossível o esforçado São Paulo encontrar novo gás no quarto final. O problema é que times com mais opções ou sabidamente melhores estão na mesma reta. Dois deles serão enfrentados nas próximas rodadas. Mesmo mesclando reservas com alguns titulares, o Palmeiras tem a confiança que, dois meses atrás, era toda do rival. Vai ser preciso contar com a mística do retrospecto no Morumbi. Depois haverá o Internacional em Porto Alegre. Um empate seria o suficiente para manter as projeções esperançosas. Teoricamente, é claro que ainda dá. Mas, como diria um falecido presidente de outro clube, na prática a teoria é outra.