Créditos da imagem: Lucas Merçon / Fluminense F. C.
Iniciei este texto ao término do primeiro tempo de Goiás 3 x 0 Fluminense. E por mais que passasse pela minha mente direcioná-lo apenas para o fator humanístico da história, é quase impossível dissociar dos eventos técnico-táticos do jogo. O jogo transpira comportamentos. Por isso a melhor interpretação para o contexto vivido pelo Fluminense é encarar isto por uma perspectiva consequencialista.
O resultado final do jogo não alterou o que precisa ser dito. As consequências são reflexos de escolhas. No futebol, estas são amplas e partem de mais de um setor. Para uma comissão técnica, por exemplo, se faz necessário criar e identificar demandas. Criar em cima de uma ideia – que está bem longe de ser clara no que propõe Oswaldo de Oliveira – e observar a resposta de seus atletas para o que é proposto. Afinal, eles criam uma demanda-retorno, digamos.
Estas são escolhas de campo. Fora dele é bem claro que o problema do Flu parte de decisões ruins de quem comanda o clube. Porque o Fluminense trocou uma ideia e um projeto, um plano, por simplesmente nada. Ou pelo grito, talvez.
E o campo fala. Afinal, entre a tática e a técnica existe o ser humano, que é extremamente movido pela fomentação do seu “eu”; da confiança em si mesmo. E o processo de outrora, que movia hierarquização e imposição, era o motor que fazia todos os atletas se conectarem e se envolverem em campo. Confiança e concentração são processos internos que transcendem muitos argumentos táticos. Mas é possível, e bem possível, induzir tais processos em prol de um organismo: o coletivo.
No lance do primeiro gol esmeraldino, quando Digão e Frazan falham e permitem que a bola sobre em grande espaço na frente da área, o maior sintoma de desconexão é a distância que Yuri e Allan concedem. Desconcentrados, dispersos, torcendo somente para o companheiro conseguir matar o lance. A coragem para jogar se foi; em vários aspectos.
Os atletas são a razão para o jogo se desenvolver. Utilizá-los da melhor forma possível é uma qualidade que Fernando Diniz tinha, diga-se. A partir do momento em que o time verticaliza mais seu jogo, acelera, o condutor máximo para a performance se perde. Pois ter Yuri escalado apenas como remendo para um corredor direito fragilizado pela escalação de Nenê, em dupla com Allan, passa bem longe daquilo que de melhor o time pode oferecer. A escolha por Nenê e Ganso também não faz sentido pelo simples argumento de que, juntos, transmitem excesso de pausas com a bola em um time que já não tem profundidade pela ausência de infiltração.
Justamente porque Allan é mais primeiro homem, aquele que vem conduzindo a bola de trás para forçar o passe que rompe marcação, do que segundo homem como quer Oswaldo. Falta rotação, trocas de posicionamento e capacidade de atacar áreas que eram muito induzidas por Daniel, um típico e bem encaixado segundo homem de meio que conduzia boas ações ofensivas no Flu de Diniz.
Percorrendo áreas, buscava curto com Ganso junto a Allan e os zagueiros. Ambos se mobilizavam bastante pelo lado esquerdo com um Caio Henrique que, fervoroso, rompia defesas por dentro e por fora com o acréscimo das diagonais de Yony González, que criavam volume e situações de finalização para o Flu. O psicólogo Diniz buscava em Aristóteles a resposta para o desempenho: cultivar virtudes individuais dentro do universo coletivo.
No cenário atual, as características e os atletas não se comunicam. E maior sintoma que apenas uma finalização no primeiro tempo, e nenhuma jogada de linha fundo, não há! Reflexos da escolha por um profissional que segue uma contramão daquilo tudo que vinha sendo feito.
Todo o processo interpessoal, que cultivava a parceria entre comando e recurso humano, visando o crescimento de ambos, foi perdido por um sedento desejo de conquistar as coisas no grito, e não no cultivo de processos.
O Flu lamenta. E sofre.
Twitter: @adrianomotta
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