Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Dizem que um colunista não deve ter compromisso com o erro, como se uma volta por cima de um jogador ou técnico significasse que as críticas anteriores eram injustas. Bobagem. O colunista deve ter compromisso com os fatos e com a possibilidade de mudança. Esta última não apaga as conclusões anteriores. Simplesmente as modifica. Justamente por isso, é imperioso dizer que Neymar foi um vencedor na temporada 2019/2020, independentemente de premiação. Saiu de uma sinuca de bico para voltar a ser levado a sério em campo. Muito a sério.
A temporada anterior mal terminou e ele já estava sob holofotes. Sua carreira poderia ter se encerrado na acusação de estupro. Para sua sorte, a suposta vítima e seus advogados deram todas as mostras de desequilíbrio e descrédito, de modo que o inquérito policial logo foi arquivado. Mas Neymar nem pôde ficar aliviado. Logo no início da confusão, nova fratura o tirou da Copa América. Enquanto se recuperava, moveu mundos para retornar ao Barcelona, sem sucesso. Deu sorte de novo, porque a crise no clube foi se agravando até chegar ao ponto inacreditável – nem Messi segurou mais a barra. O problema seria encarar a fúria da torcida do PSG, fora a presunção de que passaria um ano fazendo corpo mole. Pelo contrário. Inclusive, atuou lesionado e foi decisivo em partidas de vida ou morte na Champions League – incluindo a última antes da longa pausa por pandemia.
No retorno, logo de cara pegou a fase final da UCL. Duas grandes atuações o colocaram na decisão. Porém, do outro lado estava uma equipe que simplesmente venceu todas as suas partidas na competição. Com mais de 50 gols na temporada, Lewandowski só não fechou em melhor estilo porque o gol do título foi de Coman e o craque foi Thiago Alcântarae o craque foi Thiago Alcântara. Ainda assim, a conquista e a artilharia foram o bastante para Lewa estar entre os três finalistas do The Best. O que não deu para entender é que, mesmo brilhante na primeira fase da Champions desta temporada, Neymar não apareceu no pódio. Talvez tenha sido a votação de internautas. Talvez os votantes de seleções menores tenham ido na onda de medalhões (como quando Marta levou, em ano abaixo de medíocre). O certo é que tanto Neymar quanto De Bruyne deveriam estar lá. Além de brega, o prêmio virou piada.
Bem humorado, Neymar fez ironias no Twitter. Em outros tempos, diriam que foi despeito. Agora é a postura natural de quem sabe que merecia estar na lista. O primeiro que cravaria isso é o próprio Messi, cuja temporada foi melancólica. Mas a ausência não apaga a maior façanha do craque brasileiro: sair do fundo do poço moral que se colocou em 2018. A obsessão com os prêmios individuais (talvez mais da mídia brasileira que dele) e os chiliques na Rússia o tornaram motivo de chacota, até entre crianças. Mesmo a qualidade de seu futebol foi colocada em dúvida. Ou melhor: a capacidade de converter seu futebol em jogo competitivo. Cravava-se que seria coadjuvante de Mbappé no PSG. Neymar conseguiu driblar todas as previsões negativas. Até na Inglaterra está sendo mais elogiado que chamado de “diver”. Foi-se o insuportável “menino Ney”. Até que enfim.
Caso continue focado e jogando neste nível, Bola de Ouro (não entregue neste ano) e The Best virão naturalmente. O mais importante: títulos também. Se não no PSG, por outro clube que banque seu talento na fase mais adulta – ou menos juvenil. Talvez também pela seleção em Copa do Mundo. Mas isso cada vez mais é outra História. Que não se coloque em seus ombros o que não depende só dele. Seria a deixa para mais conversa fiada e o risco de uma recaída. Tudo o que ninguém quer ver, em 2022, é um reboot do miojo chorão. Que ele drible mais essa.
excelente
Nice