E se passou um ano da partida mais bizarra da história do futebol…
Tive o privilégio (sem ironia) de estar lá. Inclusive, escrevi um depoimento ainda antes do lançamento do site, só para não deixar o tempo levar minhas memórias da época. Como curiosidade, acho interessante essa foto que tirei com um alemão ao fim do jogo, porque o telão não exibia o humilhante placar, então só nos restou sinalizar o resultado da partida com os dedos.
Justificadamente houve uma comoção após o desastre, clamando para que fosse nosso marco de renovação. De lá pra cá, vejo algumas mudanças no futebol brasileiro. Bem menos do que o minimamente aceitável, mas não dá pra dizer que está tudo igual. O problema é que bastante coisa conseguiu piorar. A seguir, um balanço do que entendo ter mudado após o 7 x 1, sendo em azul o que é positivo e em vermelho o que é negativo:
– O futebol dentro de campo melhorou – Em regra, os times brasileiros estão jogando melhor, com bola no chão, movimentação constante, menos volantes e marcação coletiva. É claro que existem exceções, além de muitos times ruins tecnicamente que só fazem besteira com a bola no pé. Mas a consciência de que esse deve ser o futebol almejado avançou muito. Para ilustrar, chamo a atenção para o fato de no Brasileirão praticamente não ter times retranqueiros ou covardes: fora os pequenos que lutam apenas para sobreviver na Série A, creio que só o Vasco pode ser classificado assim, o que é compreensível pela fragilidade do elenco.
– Nossos clubes estão mais frágeis do que nunca – Em um ano a situação piorou muito. Com o endividamento crescente, os atrasos de salário, que tinha se tornado exceção, voltaram a ser regra (tanto que Flamengo e Palmeiras viraram exemplos). Perdemos jogadores para todo tipo de país, e com a recessão econômica e o crescimento de ligas como a MLS e a chinesa, a tendência é só de piora. Que tristeza pensar que há apenas quatro anos estávamos eufóricos com o aumento de receita dos nossos clubes, a repatriação de jogadores famosos, além dos bons resultados internacionais, e sonhávamos em nos equiparar aos europeus.
– Estamos mais ousados em relação aos técnicos – além da crescente aposta em treinadores estrangeiros (mesmo com o fiasco de Ricardo Gareca pelo Palmeiras) como Diego Aguirre e Osorio, muitos outros foram cobiçados (Bielsa, Sampaoli, Sabella, André Villas-Boas, José Peseiro, etc.). Não só nos abrimos para o exterior (quem sabe algum dia os jurássicos “comandantes” da CBF aceitem Guardiola), como caras novas ganham mais espaço, como Eduardo Baptista, Doriva e Roger. Com isso, medalhões como Mano Menezes, Abel Braga e Muricy Ramanho perderam espaço, e a média salarial dos técnicos no país sofreu uma forte readequação, com valores muito mais baixos do que antes.
– A Seleção piorou muito – A começar pelas pessoas. É verdade que Felipão e Parreira já não eram o que queríamos, mas o que dizer de Dunga e Gilmar Rinaldi, que não têm os títulos, a experiência e o carisma dos anteriores, e ainda convivem com suspeitas de negócios/empresariamento de jogadores? Se chegamos à Copa de 2014 como favoritos e decepcionamos, na Copa América 2015 chegamos sem favoritismo e ainda assim conseguimos surpreender negativamente. As constantes transferências de importantes jogadores brasileiros para lugares fora do mundo competitivo do futebol mundial, como China, Catar, Estados Unidos, e Leste Europeu, tende a prejudicar demais a capacidade de boas convocações. Pra completar, Dunga tem mais resistência a chamar atletas que atuam no Brasil do que Felipão.
– As perspectivas políticas melhoram – Acabou de ser aprovada a MP do Futebol, que embora mutilada e longe do que seria originalmente, é melhor do que nada (principalmente por dar poder de voto muito maior aos clubes do que às nefastas federações). Flamengo, Fluminense e Atlético Paranaense, apoiam declaradamente a formação de uma liga. Outros apoiam oficialmente o Bom Senso Futebol Clube. A enfraquecida CBF cedeu o comando do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil para os clubes a partir de 2017. Essa pode ser a base pra uma mudança de fato significativa.
– Estamos com a autoestima no ralo e os times estrangeiros não param de crescer por aqui – Agora nos achamos irrelevantes no esporte do qual somos a maior potência. Vemos os clubes estrangeiros como maiores do que os nossos, mesmo quando não são. A Globo passa a final da Champions League para o Brasil todo e é capaz de não passar a da Libertadores para o país inteiro mesmo com o Inter (porque sem ele é evidente que não passará). A camisa infantil do Barcelona foi a mais vendida no Brasil em 2014. Pensamos que nossos melhores jogadores não têm “nível de Europa” e que a simples ida para o Velho Continente faz o jogador evoluir. E o pior é que é uma tendência crescente.
Olhando pra trás e pensando na repercussão que o jogo teve, duas coisas me incomodam. Uma é quando vejo pessoas querendo “naturalizar” o 7 x 1. Que o Brasil estava mal e provavelmente perderia para a Alemanha – ainda mais sem Neymar e Thiago Silva – é claro, mas daí a alguém tratar como razoável que uma equipe marque quatro gols em 7 minutos, é muita perseguição. Evidentemente houve uma pane de uma equipe que estava preparada unicamente para ganhar, e ao ver a derrota desenhada e não ter a confiança de que seria capaz de reverter a situação, entrou em total parafuso.
A outra é quando tratam a Alemanha como um super-time, “impiedoso”, dos grandes campeões da história e que fez tudo certo. Penso que naquela tarde, qualquer seleção forte faria algo próximo ao que a Alemanha fez. E é bom lembrar que por muito pouco não perderam da Argentina (com a qual empataram nos noventa minutos), arrancaram o empate contra Gana e só bateram a Argélia na prorrogação. Basicamente, só dois momentos de brilho: contra Portugal (que foi eliminado na primeira fase) e Brasil.
Pra finalizar, estou muito insatisfeito com os rumos do nosso futebol, mas acho que devemos ser menos histéricos. Mesmo as mudanças positivas (elas existem) não surtirão efeito da noite pro dia, e devemos zelar e nos orgulhar de tudo o que fizemos e conquistamos no futebol. Nosso entendimento não ficou todo errado do nada, só precisamos rever várias coisas e corrigir a rota. Assim como Argentina, Alemanha e Itália sempre serão centros do futebol, nós também. O maior deles, aliás.
Excelente!
Assim como Argentina, Alemanha e Itália sempre serão centros do futebol, nós também. O maior deles, aliás.
(2)
O Brasil sentiu a pressão de jogar em casa e sem o seu maior jogador! Se jogarmos mais cem vezes com a Alemanha, isso nunca mais irá se repetir!
Que o brasil tem melhorar muito se quiser ter o hexa
Nada.7a 1.
Bom post. Sóbrio, sem derrotismo e enxergando alguma coisa.
Concordei.