Créditos da imagem: Diário de Pernambuco
Sinceramente, não me surpreende que esse ou aquele gestor de campo brasileiro exponha, da forma como o fizeram alguns dos participantes do recente I Encontro Pedagógico do Futebol, realizado na Câmara Municipal de Fortaleza, aquilo que o raciocínio analítico dedutivo já nos vem mostrando ostensivamente há alguns anos. Ou não é uma realidade que temos sido uma das maiores vítimas do processo de globalização do futebol, em que nossa identidade acabou por ser quase inteiramente subjugada?
Não importa o sentimento pelo qual sejamos tomados ou até aturdidos, ao introjetarmos a pungente realidade de estarmos perdendo nosso protagonismo no mundo da bola. O essencial é que admitamos nossa nova condição, para que possamos identificar as causas a ela inerentes, além daquela que acabamos de propor e que, repito, passa pela reprodução do modelo globalizado. Se o problema existe e tentar mistificá-lo não produzirá as soluções que ele reclama, só nos resta trabalhar de modo diligente e criterioso para propor soluções. Portanto, a grande interrogação a ser feita é: quais os caminhos a seguir para mudarmos o atual estado do futebol brasileiro?
Não resta dúvida que a solução ‘barcelonista’ como resposta à questão acima proposta é a detentora do maior apelo e poder de sedução. Contudo, além de certo grau de incompatibilidade com a realidade socioeconômica e cultural brasileira, por seu alto custo e complexidade, ela excluiria a grande maioria dos times brasileiros, pela falta de estrutura dos clubes que lhes dão origem. Outro fator de desencanto pela solução catalã é que ela não é implantável sequer em médio prazo, o que dirá em curto prazo. Ademais, ela exigiria daqueles clubes que quisessem adotá-la a criação de uma superestrutura para as suas divisões de base, condição inaceitável para alguns e inatingível para a grande maioria deles.
Pelo que expomos até aqui, creio que a percepção dos leitores, com base na ‘sintomatologia’ do problema, já os conduziu a um vislumbre da equação problema-solução, que a nosso juízo passa pela reavaliação de toda a metodologia de trabalho que vem sendo utilizada nas categorias de base, com destaque para a reformulação da formação dos atletas. A propósito, numa nossa recente participação em um seminário com o propósito de discutir o trabalho de base dos clubes de futebol no estado do Ceará, assistimos, um tanto perplexo, aos questionamentos dos integrantes das comissões técnicas, sobre as razões de tão baixa produção em seus clubes, sobretudo em posições de características mais defensivas, como zagueiros e goleiros. Observamos, pois, que a convicção que nos acompanhava da localização do problema estar nos limites das comissões técnicas, notadamente em suas metodologias de formação dos atletas, não encontrava ressonância alguma naquela plateia, o que nos fez ver que por isso a solução ainda estava distante.
Aos clubes não basta terem em suas fileiras profissionais competentes sem que eles e seus projetos sejam acreditados. Por sua vez, crer-se neles significa dar-lhes todas as condições de trabalho (estrutura, logística, equipamentos, etc.). Feito isso, os clubes precisam manter em sua estrutura técnico-administrativa um mínimo de capital intelectual para a gestão de suas comissões técnicas, sem o quê não se construirá parâmetros de aferição confiáveis do trabalho delas.
Com a reinvenção do trabalho das comissões técnicas, antevejo dois níveis de concepção de trabalho, com o objetivo de lidar com as diferentes realidades dos clubes. Uma dessas concepções se pautaria pela predominância da excelência; a outra se ocuparia da promoção da ‘alquimia’ típica da inovação e da criatividade.
É preciso admitir que a competência dos nossos profissionais não tem sido suficiente para que sejamos modelo na formação de atletas, tampouco na execução do jogo com todas suas variantes. Também não precisamos ir à Espanha para confrontarmos essa realidade. Basta considerarmos, proporcionalmente, a vizinha Argentina para verificarmos que ficamos para trás na formação do atleta e do cidadão, bem como na eficácia do treinamento. Não por acaso, qualquer atleta brasileiro mediano, produz mais onde se valoriza o aspecto coletivo do futebol que no próprio Brasil, onde viceja o culto à individualidade.
Ficamos na abordagem meramente de base técnica, deixando para uma próxima oportunidade os cuidados com o aspecto financeiro, o provedor de qualquer experimentalismo.
Que maravilha, Benê Lima! Que mais e mais eventos como o “I Encontro Pedagógico do Futebol” aconteçam no país a fim de debater o nosso surrado futebol. Quanto às nossas categorias de base, há mesmo muita coisa para ser discutida. Concordo que bons exemplos podem e devem ser copiados, porém, desde que aplicáveis. Entendo que um bom “start” poderia ser uma blindagem maior por parte dos clubes na relação jogador x empresário (embora muitos sejam sérios). Um abraço e parabéns pelo post. 😉
Obrigado, amigo Fernando Prado. Um abraço!
Esse tipo de encontro deveria ser mensal. Parabéns aos envolvidos.
Obrigado, Vicente.
Realmente, Benê Lima! E o complicado atualmente é que sinto que perdemos a confiança nos nossos profissionais. Por exemplo, entre os técnicos, simplesmente não sabemos se temos algum entre os grandes treinadores do mundo. Com isso, ficamos inseguros de qual é o tamanho do abismo (já que damos de barato que ele existe) entre o trabalho realizado na Europa e aqui, desde a base até os profissionais.
Sem dúvida, amigo. (y)